QUEM SOU EU?
Carolina Freitas
Como não existo sem o outro, e o acolhimento, a alteridade são inerentes a essa relação, pergunto Quem somos nós? Como já pergunta também o belo filme... Que consegue apontar alguns caminhos para àqueles que possuem uma sensibilidade aguçada para o belo, o imprevisível e o impermanente da vida. Pois é disso que se trata a vida. Imprevisibilidade, impermanência, possibilidades. Muitas, infinitas. Mas é preciso que estejamos “despertos” para percebê-las.
É assim que procuro “estar” na vida, já que efetivamente “estamos” e não “somos” algo fixo, permanente na relação com a vida. Todos os dias ela nos mostra o seu constante movimento, por mais que tentemos preservar a permanência das coisas, a impermanência impermanece, impermanece... Necessária e bela...
Assim procuro estar e ser pessoalmente, existencialmente e profissionalmente, naquele momento, com aquela pessoa, aquela criança, aquele medo, as perdas, as angústias, os anseios, a esperança, a felicidade. Essa tal felicidade plena que sonhamos como já dizia Vicente de Carvalho:
Só a leve esperança em toda a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência resumida
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda arriada de dourados pomos
existe sim; mas nós não a encontramos,
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.
Vicente de Carvalho
É possível transpor este pensamento para tudo que nos cerca na vida. Em nossa caminhada profissional, a educação, a formação intelectual, cultural, social, emocional e psíquica dos seres humanos, este pensamento apresenta-se no cotidiano, nas pequenas ações,. Ações essas que gota a gota, desembocam um dia naquela tão esperada mudança.. Sem elas nada é possível, e o desejo fica apenas no plano do inantingível.. Acredito que são essas pequenas ações, que estão ao nosso alcance que possibilitam a mudança de partículas do universo ao nosso redor. É esse universo que está aqui perto, no vizinho, na escola, na nossa rua, na nossa família. E a educação lida com isso, com as pequenas e particulares partículas de cada um. Esse cada um constrói o todo maior, mas é preciso que começemos po ele, por cada um, único e palpável, presentes em nosso rico cotidiano de nossas salas de aulas. Na verdade são gestos simples de se fazer, como diz o compositor Jair de Oliveira..
Coisas fáceis, fazer um agrado
Coisas fáceis, abrir um sorriso
Coisas fáceis, estender os braços
Coisas fáceis, agir com juízo
Coisas fáceis, mostrar o caminho
Coisas fáceis, dizer a verdade
Coisas fáceis, cuidar com carinho
Coisas fáceis, viver com vontade
São coisas pra se fazer
Sem esperar recompensa
São coisas pra se querer
Coisas tão simples
E tão difíceis de esquecer
Um abraço, um sorriso, um aceno
Coisas fáceis
Gestos tão pequenos
Coisas fáceis
Jair de Oliveira
Como podemos e até devemos contar com recursos literários e filosóficos... Peço licença para fazer do pensamento desses pensadores a minha palavra e o meu sentimento, que anda colado com o que descrevem tão sensivelmente.
É curioso observar como a vida nos oferece respostas aos mais variados questionamentos do cotidiano. O jornalista Alexandre Garcia nos presenteia com um olhar específico, simples e absolutamente inerente à vida, as mudanças cíclicas necessárias, a impermanência...
A mais longa caminhada só é possível passo a passo.
O mais belo livro foi escrito letra por letra.
Os milênios se sucedem segundo a segundo.
A imponência do pinheiro e do ipê começaram ambas na simplicidade da semente.
Não fosse a gota não haveria chuva
Assim também o mundo de paz e harmonia que sonhamos só será construído a partir de pequenos gestos de solidariedade, respeito, ternura, perdão no dia a dia.
Ninguém pode mudar o mundo, mas podemos mudar uma pequena parcela dele. Esta parcela que chamamos “Eu”.
Não é fácil, tampouco rápido, mas vale a pena tentar.
Alexandre Garcia
É só essa tentativa diária que está efetivamente ao nosso alcance, ao alcance de nosso universo particular. Aquele universo que vê e percebe o outro, onde esse outro tem a sensação de absoluto pertencimento... Indo na contramão de um mundo capitalista e voltado quase que unilateralmente para o consumo, essa postura é “de graça”, espontânea, e não custa “nada”, absolutamente “nada” tentar....
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