Pesquisar este blog

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ih, lascou!

IH, LASCOU!

Robson Matos

O refeitório da universidade era o local onde os brasileiros sempre se reunião no horário do almoço, pelo menos durante a semana. Lá eles trocavam impressões sobre as notícias recebidas do Brasil. Era lá, também, que eles pensavam estar resolvendo, ou pelo menos apresentando soluções para todos os problemas do Brasil, quiçá até do mundo. Segunda-feira era o dia mais agitado e concorrido. Via de regra, aos domingos todos ligavam para as famílias. Logicamente, Ricardo era figura sempre presente. 

Em uma destas segundas, Ricardo mostrou-se extremamente indignado com as notícias recebidas do Brasil. Um político brasileiro, que ocupava um cargo muito importante havia tomado certas atitudes políticas e administrativas que o deixou muito irritado. Ele falou, resmungou e até xingou. Atentos a tudo estavam Cléber e sua esposa. Ambos estudantes de doutorado. Porém, eles não expressaram suas opiniões e permaneceram apenas como ouvintes.

Ricardo, Cléber e Célia eram grandes amigos. Sempre saiam juntos, trocavam indicações e opiniões sobre bandas de música, exposições de arte e cultura em geral. 

Ricardo, junto com outros brasileiros e ingleses, foi convidado para um jantar na casa de Cléber e Célia. Enquanto ele bebia um whisky com o anfitrião no jardim de inverno, Ricardo começou a ver as fotos dispostas em um mural. Foi vendo as fotos e comentando com os belos lugares visitados por eles. De repente, ele se depara com uma foto que lhe causa grande espanto e quase sussurrando e com a voz trêmula, pergunta:

- Cléber, qual a ligação da Célia com esta pessoa?
- Ele é pai dela, Ricardo.

Ricardo teve vontade de enfiar a cabeça em um buraco e por lá permanecer por horas, como uma avestruz. A tal pessoa na foto era, nada mais nada menos, que o político do qual ele tanto falou mal na segunda anterior. 

Sorte de Ricardo que Célia não era uma pessoa rancorosa e adorava a sinceridade. 

domingo, 30 de agosto de 2015

Sonhei?

SONHEI?

Robson Matos

Lutei, gritei, protestei!
Hoje enlouqueço!
Me desespero.
O ladrão corre atrás da polícia?
A madame pede a volta da ditadura?
O estudante considera luxo professor se atualizar em congresso?
A universidade dirigida por grevistas?
E o reitor não viu?
O ladrão corre atrás da polícia?
A polícia protege balão?
Meu Deus!
Até o partido do Serjão virou símbolo contra a corrupção!
"Acorda amor, eu tive um pesadelo agora!"

Domingo

DOMINGO

Robson Matos

Cerveja gelada,
a música a tocar,
churrasqueira acesa
a mente viaja,
viaja ao longe,
na busca de ti.

S(F)alada

S(F)ALADA

Robson Matos

Nada melhor que um bom prato de salada acompanhado de um belo churrasco - dizia-me Ricardo. Ele me disse também que, a caminho do trabalho, parou em uma churrascaria e esta foi sua escolha. Pegou variadas carnes e completou seu prato com bastante salada. Sentou-se e pediu ao garçom um refrigerante. Segundo ele a vontade mesmo era de pedir um chopp, mas ele estava indo trabalhar. Logo em seguida passa uma mulher, que ele não pode deixar de olhar. Era uma mulher bonita de corpo escultural. De repente, ele se assusta! A mulher estava voltando em sua direção. Ele esboça um sorriso e escuta: 
- De que adianta um prato cheio de salada se você está tomando um refrigerante normal? 
O sorriso ficou amarelo e a cara foi de espanto!
Pois é Ricardo! A vida tem destas coisas inesperadas!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Encontro

ENCONTRO

Robson Matos

Dois corpos se encontram,
se abraçam,
se deitam e rolam.
Ela, mesmo assustada,
se entrega,
se abre.
Ele, encantado com sua beleza,
se entrega,
se aventura em tão belo corpo.
Sussurros,
suspiros,
arrepios,
gritos.
Explosão de amor!

Ousando

OUSANDO

Robson Matos

A vida da ousadia.
A ousadia no amor, 
no escrever, no andar no vestir.

Quero ousar sem medo.
Sem o medo da crítica.
Quero ousar para amar.
Sem o medo de errar.

Ousar na ida e na vinda.
Ousar na fala, na escrita.
Ousar na rebeldia, na partida e na chegada.
Ousar no estilo.

Quero ousar na rebeldia.
Quero ousar na luta.
Quero ousar no amor.
Quero amar a ousadia.


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Ah coração!

AH CORAÇÃO!

Robson Matos

Sábado era um dia especial para Ricardo. Era o dia que ele se sentia um pouco mais próximo do Brasil. Em Brighton havia um local chamado de Open Market, que era algo muito similar às feiras livres existentes no Rio ou mais especificamente um Mercado do Produtor. 

Visitar o Open Market era o passeio favorito de Ricardo no sábado pela manhã. Lá ele encontrava várias coisas interessantes. Peixes frescos, frutas típicas, temperos e chás indianos podiam ser encontrados neste local a um preço muito mais baixo. Em um destes passeios, Ricardo viu uma barraca que vendia coração de galinha. Ficou encantado. Aproximou-se, perguntou o preço e não acreditou quando ouviu. Apenas 25 pences por cada  libra (o que representa quase 50 pences por quilo). Não titubeou, como o coração estava bem sujo, comprou logo 3 quilos.

Chegando em casa com aquela iguaria que ele apreciava tanto, ligou para vários amigos convidando-os para comer coração de galinha. Porém, ele tomou o cuidado de não chamar europeus. Ele sabia que ingleses, português e franceses não apreciavam aquele tipo de comida. Colocou-se, então, a preparar aquela iguaria que há muito ele não comia. À noite, o coração de galinha fez muito sucesso. Todos ficaram encantados e Ricardo prometeu repetir a dose.

Assim, quase todo final de semana, lá estava Ricardo no Open Market comprando coração de galinha. Porém, ele percebeu que 3 quilos não era o suficiente. Havia muita perda ao limpar. 

Ricardo havia convidado um grande amigo que morava em Oxford e uma amiga que morava em Paris para visitá-lo e logicamente prometeu preparar coração de galinha para eles. No sábado antes de buscá-los na estação, ele passou pelo Open Market para comprar coração de galinha. Pediu 10 quilos. A dona da barraca, achando que não houvesse entendido, perguntou de novo: Quanto? Ele repetiu: 10 quilos por favor. Ela se pôs a pesar e comentou: 

- Você deve ter muitos gatos, não é?

Ricardo não pensou duas vezes: 

- Tenho muitos! Tenho dez gatos na minha casa e coração de galinha é a comida favorita deles.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Encantos

ENCANTOS

Robson Matos

São prédios antigos,
cheios de histórias,
cheios de lendas.

Sinto a presença de Jack o estripador,
de Shakespeare,
de Churchill.

The speaker´s corner me encanta,
fecho os olhos e imagino,
Newton, Thompson, Rutherford
e tantos outros divulgando seus trabalhos.

Seus parques cheios,
famílias fazendo piquenique,
meninas de topless curtindo o verão,
o típico inglês com chapéu de coco passeando pela calçada,
a guarda real imóvel como uma estátua.

Domingo tranquilo,
passeio a pé por suas ruas,
fujo da multidão dos turistas,
busco seus encantos,
os detalhes de seus prédios nunca vistos em dias movimentados.
Me perco por ruas estreitas,
entro em pequenos pubs,
como se na esperança de encontrar Sherlock.
Não o vejo,
mas sinto.
É elementar meu caro Watson,
se encantar por esta linda cidade.




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

In-vazão

IN-VAZÃO 

Robson Matos

Chegastes sem pedir licença,
sorrindo, 
foi entrando,
conquistando,
libertando-me das amarras.
Invadindo, foi dando vazão aos meus sentimentos.

Sua mão a me acariciar me fez arrepiar,
seu corpo se aproximou,
seus braços me cobriu trazendo aconchego.
Em sorriso me abri,
segurança senti.

A mão vagueia,
a língua passeia,
as pernas roçam
a mente viaja.

O sentimento surge,
o sangue corre!

Viro-me para ti,
mas o galo canta! 
Só resta ao corpo dar vazão àquela emoção!
À emoção daquela que o sonho habitou!

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Qual o nome dele?

QUAL O NOME DELE?

Robson Matos

Logo que aportou na Inglaterra, Ricardo conheceu um português, Vivaldo, e eles se tornaram grandes amigos. Eram sempre vistos juntos na universidade e fora dela. Vivaldo era frequentador assíduo da casa de Ricardo, onde ele tinha o costume de promover encontros entre amigos, sempre regados a cerveja, vinhos e whisky. 

Ricardo sempre achou uma brincadeira de extremo mal gosto contar piadas sobre português. Todavia, pela primeira vez na vida ele era muito amigo de um português e logicamente ele gostava de tirar um sarro da cara do Vivaldo, uma pessoa extremamente bem humorada e muito dócil. Vivaldo por sua vez, não perdia a oportunidade de rir da cara de Ricardo por conta das expressões usadas por nós brasileiros. A expressão que mais arrancava gargalhadas do Vivaldo era "tirar um xerox". Ele se divertia com ela. 

Certa vez, Ricardo conheceu um português no trem e descobriu que ele também estudava na mesma universidade. Ricardo mais que depressa disse que iria apresentá-lo para o Vivaldo. 

No horário do almoço, Ricardo se encontrou, como de costume, com Vivaldo e logo disse-lhe que havia conhecido um português que chegara há pouco na universidade. Ricardo explicou tudo sobre o português recém chegado, mas disse também que não lembrava o nome dele. Vivaldo ficou furioso e começou a xingar bastante. Ricardo não conseguia entender o motivo e com cara de espanto, perguntou qual era o motivo de tanta fúria. Vivaldo então explicou: 

- Ricardo, hoje você não me pegou em um bom dia. Você está a rir da minha cara e dos portugueses. 
- Vivaldo, não estou rindo da sua cara. Por que estaria rindo? Perdi a piada.
- Lógico que você está fazendo chacota comigo. Ele se chama Manoel. Como você não se lembraria? Um nome tão comum!

Foi aí que Ricardo entendeu e começou a dar milhões de gargalhadas. Desta vez quem fez a piada sobre portugueses foi o Vivaldo. Ricardo realmente não se lembrava do nome do novo estudante.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

(Des)Encontro

(DES)ENCONTRO

Robson Matos


Dois anos já havia se passado desde que Ricardo mudara-se para o sul da Inglaterra. Ele morava a três quadras da estação de trem e já estava bem acostumado com o estilo de vida do inglês. Um povo introspectivo, porém muito amigo quando você passa a ser mais próximo. 

Todos os dias, Ricardo, como um bom inglês que já havia se tornado, deixava a sua casa por volta das 07:50 h, fosse um dia ensolarado ou chuvoso. Ele já sabia que raramente haveria um atraso no trem que passa pela estação às 08:08 h para continuar o seu trajeto até Brigthon, onde Ricardo pegaria um outro trem e em mais 15 minutos estaria na Universidade.

Numa destas manhãs, Ricardo deixou sua  casa rumo à estação e logo na quadra seguinte ele foi quase atropelado por uma linda mulher. A loira, de corpo estrutural, saia apresada de seu prédio e sem nem mesmo pedir desculpas saiu em disparada rumo à estação. Ele, achando que seu relógio pudesse estar atrasado, apertou o passo, com medo de perder o trem. O outro só passaria em 20 minutos.

Os dois embarcaram no mesmo trem e Ricardo, de forma involuntária sentou-se no banco de frente para ela. Ele, logo que chegou à Inglaterra, passou por um constrangimento quando ficou fitando uma linda mulher à sua frente. As mulheres inglesas, têm o hábito de questionar o motivo pelo qual os homens a encaram. Receoso em passar por outro constrangimento, Ricardo começou a observá-la pelo reflexo na janela, como se estivesse observando a paisagem externa. Ele realmente havia ficado encantado com aquela mulher. Ela, como todo inglês, logo abriu um livro e começou a ler.

Ricardo e a loira, desceram na estação de Brigthon e para a sua grata surpresa ela também rumava em direção ao trem que partiria para a estação de Falmer. Desta vez, foi ela que escolheu a poltrona de frente para a dele. Ambos desceram na mesma estação e pegaram o caminho para a Universidade. Ricardo decidiu ir caminhando mais lentamente para descobrir em qual escola ela entraria. Porém, a escola de Ricardo era uma das primeiras e ele acabou não descobrindo para onde ela iria.

A partir daquela manhã, passou a ser uma constante o encontro dos dois. Como se cronometrado, os dois se encontravam sempre em frente ao prédio da loira e caminhavam praticamente juntos até a estação, às vezes Ricardo à frente, outras ela. Ele, por várias vezes, teve a impressão de ela lhe sorrir. Sempre sentavam-se muito próximos e preferencialmente um de frente para o outro.

Seguiram-se meses e a rotina continuava de segunda a sexta. Ricardo a procurava, durante os finais de semana, pelas ruas do bairro e achava estranho nunca a ter encontrado. Nem mesmo nos famosos pubs espalhados por Hove. Na universidade, Ricardo também nunca a via durante o horário de almoço ou em suas visitas à biblioteca central.

O tempo ia passando e Ricardo sempre planejava que naquele dia falaria com ela, nem que fosse um simples bom dia. Mas, quando se via frente à frente com ela, parece que sua voz ficava presa e o bom dia não aparecia. Ricardo ficava bastante preocupado e triste quando não cruzava com ela. Logo ele imaginava que ela pudesse estar doente.

Numa manhã fria de dezembro, Ricardo passou em frente ao prédio dela e não a encontrou. Ele seguiu rumo à estação, mas constantemente olhava para trás e nada de vê-la. O trem chegou, Ricardo embarcou, tomou seu lugar e se sentiu triste. Naquela manhã ela não havia aparecido. Ele se colocou a imaginar o que pudera ter acontecido. De repente, ela chega apressada, quase sem fôlego e diz: Bom dia! Hoje me atrasei, achei que não fosse lhe ver. Ricardo estampou um belo sorriso e respondeu: Bom dia! Achei também que não fosse lhe ver. Muito prazer, meu nome é Ricardo e o seu? Linda -  disse ela. Assim, os dois seguiram até a universidade. Ricardo, vendo que ela logo abriu o livro e começou a sua leitura, decidiu não mais importuná-la. Os dois seguiram em silêncio. Mas ele tinha a certeza que na manhã seguinte outra conversa se iniciaria e quem sabe eles iriam conversando da porta do prédio dela até à estação.

Porém, na manhã seguinte, Ricardo não a encontrou. Logo ele imaginou que ela pudesse novamente estar atrasada. Assim, a partir daquele dia, a história se repetiu. Ele nunca mais cruzou por ela. Passou então, mais desesperadamente a procurar por Linda, na universidade, pelas ruas e pelos pubs. Sua procura foi em vão.

Ricardo e Linda nunca mais se viram. Aquele foi um good morning com significado de good bye. 

  

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Noite


NOITE

Robson Matos



Em busca do sono perdido,
viro, reviro e remexo. Sempre em vão.
Decido buscá-lo na beleza dos céus!

A lua, como se a sorrir para mim,
aquece minha alma.
Escuto o silêncio da noite,
o quebrar das ondas na areia da praia,
o pio da coruja.

Os cães ladram insistentemente,
assustados talvez com o estampido do abrir da lata.
O sabor gelado da cerveja me faz viajar.
A pouca iluminação revela toda a beleza do céu.

Ao som dos Beatles,
os cães se acalmam.
A coruja decide se aproximar,
demonstrando talvez o seu gosto musical.
Como se a reclamar,
entre uma música e outra,
escuto novamente o pio da coruja,
o ladrar dos cães,
o quebrar das ondas.

Novo estampido é ouvido,
e outro,
e mais outro.
Nada muda.
O sono não chega,
o céu continua belo,
a coruja ainda é minha companheira
e o silêncio da noite continua a me dizer coisas bonitas.

O galo canta!
Percebemos que ganhamos mais uma companhia,
descobrimos que os Beatles têm mais um admirador.
Como é belo o silêncio da noite!


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sou eu


SOU EU

Robson Matos


Sou união,
mas posso ser separação.
Sou a voz,
mas às vezes o silêncio.

Sou presença ou ausência,
amigo ou inimigo,
alimento ou veneno,
luz ou escuridão.

Sou forte como a rocha
ou delicado como a rosa,
solução ou problema,
belo ou feio.

Pai sou sempre,
mas mãe, só quando necessário.
Sou o que te digo,
mas posso ser o que falas de mim.

Sou o que enxergas em mim,
nunca o que para mim idealizas.
Sou eu sempre, 
nunca o que desejas que eu seja.

Sou a metamorfose do Raul,
ou a incoerência da Calu.

Sou o que quiseres, 
desde que seja eu.
Escolha o meu eu.
Decifra-me e terás um dos meus lados.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Já-ca(iu)


JÁ-CA(iu) 

Robson Matos

Eram cinco amigos quase inseparáveis. Jaime e Jairo, os dois gêmeos, Sávio, Ricardo e Rodrigo estavam na faixa dos 10 anos de idade e estudavam em uma escola que se assemelhava muito a uma chácara. Eram várias árvores frutíferas que além de amenizar o calor escaldante daquela cidade, serviam como um ponto de encontro e de divertimento para a molecada daquela escola.

Embora houvesse um belo espaço para a criançada se interagir durante o recreio, era debaixo destas árvores que as turminhas, hoje chamadas tribos, se reuniam. Mesmo sob a vigilância constante da supervisora, dona Nádia, e algumas vezes da temida diretora, irmã Margarida, a molecada se esbaldava, normalmente participando de brincadeiras proibidas pela escola. 

A tribo composta por estes cinco meninos gostava mesmo era de subir em árvores. O ponto favorito para fazerem o lanche era sempre em cima do pé de jaca. A sirene tocava e os cinco saiam em disparada em direção à jaqueira. Jaime e Jairo eram os mais rápidos, tinham muita destreza para subir em árvores. Logo atrás ia o Sávio e bem atrás, vinham Ricardo e Rodrigo. Os dois, sempre mais lerdos, mantinham uma disputa diária entre eles. 

A correria dos três sempre causava preocupação para a diretora, afinal, Rodrigo era filho de uma figura importante na cidade e ela temia por sua segurança. Irmã Margarida sempre pedia à dona Nádia que fosse vigiá-los. 

Ricardo e Rodrigo eram dois meninos, digamos, um tanto quanto implicantes. Certa vez Rodrigo começa a implicar com os outros quatro. A implicância havia começado ainda na sala de aula, muito antes do horário do recreio. Jaime, Jairo e Sávio, que já estavam quase no topo do pé de jaca, começam a incentivar Ricardo a derrubar Rodrigo, que se encontrava no mesmo galho que ele. 

Derruba ele Ricardinho, balança o galho que ele cai - gritavam eles.

Ricardo então, apoiá-se no galho superior e começa a balançar o galho em que ambos se encontravam. Rodrigo, sem ter como se apoiar no galho de cima, deita no galho e agarrá-o com toda força. Mas, era um galho fino e este não resistiu ao peso do menino. Logicamente, galho e Rodrigo despencaram até o chão. Rodrigo caiu xingando e esbravejando. Ao tocar o solo, ele observa que logo acima dele estava a irmã Margarida. Ele, mais que depressa, começa a contorcer-se como se estivesse com muita dor com medo de sofrer um castigo.

Os outros quatro meninos, ao ver a presença da temível diretora, param imediatamente de rir e lá de cima ouvem o interrogatório, em completo silêncio. Ricardo, assíduo frequentador da sala da diretora, tinha a certeza que desta vez o convite para se retirar da escola ocorreria. Nem mesmo o vice-diretor, professor Nilton, seria capaz de protegê-lo desta vez.

Quem te derrubou lá de cima? - pergunta a irmã Margarida.

Rodrigo, como que por milagre, levanta-se, e não mais sentindo dor, responde: 

-Ninguém irmã, todos eles são meus amigos, eles jamais fariam isto. Eu que segurei em um galho e o galho quebrou. 

Até hoje não se sabe se a irmã ficou convencida de que Rodriguinho havia caído, 
fato é que ela imediatamente colocou o menino em sua Variant branca e levou-o até o hospital para ser examinado.
  

domingo, 9 de agosto de 2015

Por onde andará o Sebastião?


POR ONDE ANDARÁ O SEBASTIÃO?

Robson Matos

Todos sabem, não há nenhuma novidade, amo o mar, o sol, a praia. Amo por sua beleza, pelo esplendor do movimento das suas águas e pela maneira que ele sustenta a vida.

Todos sabem também que gosto muito de um bom papo, como bom mineiro, de jogar uma conversa fora. Todavia, nunca acho que conversa se jogue fora. Toda conversa trás uma nova amizade, um novo aprendizado e uma bela reflexão. 

Dias destes, fazendo jus ao apelido dado a mim pela minha filha mais nova, ou seja, boca frouxa, travei um belo diálogo com uma bela e simpática mulher, enquanto bebericava um chopp gelado e admirava o mar:

Olá! Tudo bem?  - disse eu.
- Sim e você?
- Vejo você aqui todos os dias e nunca tivemos a oportunidade de conversar. Pelo visto você, assim como eu,  gosta muito da praia.
- Com certeza, amo este lugar. Ele me trás paz! 

Assim, o papo foi se desenvolvendo e já estávamos, eu e a Consuelo, bebendo juntos. Quando disse que eu era professor, vi seus olhos lacrimejarem e por alguns segundos ela engoliu seco e tornou a falar.

- Quando tinha meus 12 anos, me apaixonei por um professor, Professor Sebastião. Sua voz doce embalava meus sonhos durante as aulas. Era a melhor aluna na disciplina dele. Fazia tudo com muito afinco e carinho para chamar sua atenção, conquistar sua admiração e quem sabe o seu amor por mim. 

Era possível ver o brilho em seus olhos à medida que balbuciava aquelas palavras. O professor Sebastião era um professor carinhoso e ao mesmo tempo rigoroso. Consuelo, por ser muito aplicada na disciplina dele, era sempre tratada com menos rigor.

- Meu amigo, acho que já posso te chamar assim, não é mesmo? 

Eu apenas disse sim balançando a cabeça para não interromper aquela história que já estava achando bonita, e ela continuou.

- Seu perfume era maravilhoso, seu sorriso me encantava e a cada palavra me punha a sorrir. Ninguém percebia, nem o Sebastião. Ensaiei várias vezes me declarar para ele, mas faltava-me coragem. 

Consuelo, por achar que estava me perturbando com aquele assunto, ameaça parar de contar-me. Insisti que ela continuasse. A história estava me interessando muito. Ela então continuou.

- Aí Robson, muito nova e sem saber como agir, procurei alguém para me ajudar, me aconselhar, dizer como deveria proceder. Tive medo de me abrir com as minhas amigas. Medo de ser incompreendida. 

Ela, então, decidiu se abrir com a mãe. Segundo ela mesma, este foi um grande erro! Sua mãe, ficou escandalizada quando ela disse: 

- Mamãe, vou me casar com meu professor! 

A mãe, no mesmo dia, a trocou de escola e começou a convencê-la a voltar com o seu primeiro namorado. Ah! Bom que se diga que Consuelo, logo que percebeu estar apaixonada pelo professor Sebastião, decidiu terminar com o Rodrigo, seu primeiro namorado. Não havia um único dia que a mãe não insistisse neste assunto. Constantemente chamava o Rodrigo para uma almoço, um café da tarde e assim continuou por um bom período. 

- Fui tão idiota que não contei para o Sebastião sobre os meus sentimentos e acabei me casando com o Rodrigo. Acho que nunca mais eu gostei de um homem assim. Me acostumei com o pai dos meus filhos, mas não foi como o que eu queria e acabou. 

O tempo passou e Consuelo decidiu casar-se novamente. Segundo ela, no início havia amor mas com o tempo foi gastando tudo. 

- Entre um casamento e outro meus pensamentos viajavam na eterna procura do verdadeiro amor que eu senti. Gostar, a gente gosta de muita coisa mas, amar é só um. Meu amor platônico ou louco continua e eu gosto de viver está história.

Consuelo acredita que  não consegue amar um outro homem. Ela está sempre imaginando onde estará aquele professor que fazia seu jovem coração acelerar. 

- Até hoje, só de pensar, falar, ou até mesmo ouvir uma música me faz lembra-lo! É uma coisa gostosa! Espero que o que sinto nunca acabe. 

O amor é isto! Às vezes possível, outras platônico! Porém, sempre verdadeiro e sem explicação. 
Por onde andará o Professor Sebastião? 
Gostaria de conhecê-lo. Gostaria de ajudar a curar o coração desta linda amiga!




Pai


PAI

Robson Matos

Três letrinhas.
Simples assim.

Três letrinhas.
Eu tenho três.

Três amores.
Três doces,
Três paixões.

Três estrelas.
Parte da minha constelação!

Exagerado?
Pode ser!
Amo ser pai!

sábado, 8 de agosto de 2015

Caminhada


CAMINHADA

Robson Matos

Vi,
vivi,
dividi,
convivi,
revi,
sorri.
No fim,
desisti de ti.
Parti,
segui,
em busca de outro ti.

Cheguei,
estou aqui,
vendo,
vivendo,
dividindo,
convivendo,
revendo,
sorrindo.
Desistir?
Nunca.
Amar?
Sempre.

Apenas ciclos da vida!



Ca(u)so


CA(U)SO 

Robson Matos

Diz a lenda que a pessoa saiu para comprar um botijão de gás às 9h. Todavia, ela desiste de preparar almoço e decide ir a um destes restaurantes self-service espalhados pela cidade. Almoça bem, em companhia da filha, e retorna ao seu lar. 
Por volta das 21h, a pessoa decide tomar uma cerveja e lembra-se daquela linguiça mineira, trazida das Geraes. Nada melhor que uma cerveja com uma linguicinha mineira, não é mesmo? 
Então a pessoa prepara a panela e acende o fogo para esquentar o óleo. Eis a grande surpresa! 
O fogo não acende! 
A pessoa xinga! Sente-se enganada! 
Resmunga: 
- Cafajeste, ele me vendeu um botijão vazio! 
Imediatamente decide tirar o botijão, colocar no carro e partir para o local da venda! 
Nova surpresa! 
O botijão já estava no carro.
Ela pensa:
- Será que o botijão sempre esteve no carro ou será que eu o coloquei tão rapidamente?
WERE OR WERE NOT? THIS IS THE QUESTION!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

R(Rab)-ISCO

R(RAB)-ISCO

Robson Matos

São riscos e rabiscos.
São palavras entrelaçadas.
São tratativas e tentativas.

As emoções aflorando
e as palavras cortando,
entre uma bebericada e outra. 

Frases perdidas, costuradas, sem técnica e sem rimas.
Frases carregadas de emoções.

São riscos e rabiscos,
carregados de emoção,
feitos em noites ao claro.

São frases de reflexão.
São frases de momentos vividos.
São frases que me embalam.

São assim meus riscos e rabiscos.
Devaneios,
Anseios.
Um ser divagante!
Um amante.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Tempo



TEMPO 

Robson Matos 



Voo com o tempo!
Qual é o tempo? 
Vários são os tempos:
o eterno da Alice,
o que faz esquecer,
aquele que  faz sonhar,
o que faz imaginar
e o da recordação.

São os tempos do Chaplin, 
que se tornaram antigos.
Tempos modernos hoje?
Celulares, redes sociais e wifi!
Tempos que aproximam,
mas também afastam.

Tempos vividos!
Tempos sonhados!
Tempos amados!
Tempos são muitos,
mas nunca eternos!
Tempos são remédios. 
Tempos que faltam,
que passam e voam.

Saudades de um tempo,
de um tempo de criança e marcou uma era.
Tempo que era e continuará sendo,
o tempo do amor, da inocência e da convivência.

O tempo não volta,
revigora, 
renasce,
resplandece,
alimenta e se reinventa!




Feli-cidade


FELI-CIDADE

Robson Matos



Perambulando por suas ruas, 
divago, viajo, relembro e sonho. 
São faces, 
hoje envelhecidas, 
mas ainda conhecidas. 

São casas cheias de histórias. 
São paisagens marcantes de uma infância.
Infância de liberdade, 
de inocência, 
de brincadeiras e muito aprendizado. 

Ainda tropeço nos seus paralelepípedos,
ainda admiro suas praças,
sua moderna arquitetura e seus lindos painéis. 

Como não lembrar de algumas figuras marcantes? 
Quirino, Corujinha, Altamiro e José Joana e sua sanfona!
Do picolé na pracinha,
da geleia de mocotó,
dos embrulhos de pão pendurados nas maçanetas! 

Do apito do trem cortando a cidade,
do rio poluído por desejos de celulose,
de suas árvores frondosas,
de suas lindas pontes
e de suas fontes. 

Do domingo na praça, 
meninas no sentido horário e meninos no anti-horário! 
A pipoca, o algodão doce e a maçã do amor!

Casas deram lugar a prédios,
ruas foram criadas ou transformadas.
Porém, sua essência permaneceu.
Suas ruas exalam felicidade, modernidade e criatividade!

domingo, 2 de agosto de 2015

Carnavais Passados


CARNAVAIS PASSADOS 

Robson Matos

Saudades da loló e da porradinha,
dos velhos carnavais! 
Aqueles do café frio, servido pela janela!

Carnavais dos eternos porres,
do samba sobre as mesas,
dos blocos caricatos,
dos desfiles com o lenço sobre a cabeça!

Carnaval da loirinha magrinha,
da barriguinha, mas também da loirinha gordinha.
Carnavais da pracinha, da Esquina do Pecado.
Carnaval de só poder mexer com os olhos.


Quantas saudades!
Quantas lembranças!

Carnaval da regurgitada na moça,
do beijo escondido e até roubado!

Carnavais no salão na beira do rio,
dos pães roubados, das alegrias e das folias!
Velhos carnavais!
Quantas saudades!