Ministro da Ressurreição confirma que “É uma gripezinha”?
Robson Matos
De corona morrestes, como Covid não contarás!
(Pazuello 6:2020)
(Pazuello 6:2020)
A tática que o Ministério da Saúde vem utilizando em relação ao
Boletim Epidemiológico é um erro crasso, acarreta em dificuldades para combater
a pandemia e levará a um aumento bastante acentuado no número de mortes.
A manobra de ocultação de dados foi utilizada com muita frequência
pelo Regime Ditatorial no Brasil (1964 a 1985) em várias situações. Os
Presidentes Militares só divulgavam os dados que fossem favoráveis ao regime. Na
década de 1970, o combate à epidemia de meningite foi extremamente prejudicado
pela falta de informações sobre o avanço da doença. Recentemente abordamos o
tema nesse blog (veja aqui).
A falta de transparência das gestões durante a Ditadura Militar dá a
falsa impressão, para alguns poucos, de que não havia corrupção naquele
período. Não se esqueçam que durante esse período, o Brasil vivia sob uma forte
censura à imprensa e divulgação de casos de corrupção poderia prejudicar o regime. Todavia, alguns casos vieram à tona. Dentre os mais falados estavam o “Escândalo
Luftalla” e o “Caso Delfin”. No primeiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento
BNDE – hoje BNDES – emprestou dinheiro público a uma empresa em situação de
falência que pertencia ao sogro de Paulo Maluf. Já o Caso Delfim ocorreu
quando da quebra do grupo Coroa-Brastel. Ernani Galveas – Ministro da Fazenda –
e Defim Neto – Ministro do Planejamento – e foram acusados de favorer o grupo desviando
empréstimos concedidos pela Caixa Econômica Federal[*].
Não me causa surpresa que a militarização do MS não nos levaria a bons
termos no combate à pandemia, como já apontei aqui no blog (veja aqui). Não
devemos perder de vista que a formação de um bom militar envolve o aprendizado
na ocultação de planos e táticas de guerra a serem usados contra o inimigo e nisso
eles são bons. Ao que parece, o Ministro da Ressurreição levou muito ao pé da
letra o que autoridades e imprensa propagaram: “Estamos em Guerra”! Senhor
Ministro, a expressão foi utilizada em termos figurativos, caso Vossa
Excelência não tenha entendido.
Senhor Ministro da Ressurreição, tenho certeza que Vossa Excelência,
ainda no Ensino Fundamental II, aprendeu sobre Linguagem Figurada. Vou refrescar
vossa memória, embora, Vossa Excelência possa não estar preparado para isso:
A linguagem
figurada é uma ferramenta de comunicação que é utilizada para dar mais
expressividade ao discurso e, assim, aumentar o significado das palavras ou
frases. Ela, também, pode ser utilizada para criar significados diferentes ou
quando o interlocutor não acha um termo adequado para o que ele deseja
comunicar.
No caso de Vossa Excelência não ter conseguido relembrar, vou dar um exemplo
prático.
O Ministro
da Ressurreição convidou o ex-Ministro Coveiro para ser assessor no MS, mas deu com os burros n’água!
Senhor Ministro, na frase acima, a expressão “dar com os burros n’água”
não significa que Vossa Excelência seus burros afundaram na água
durante uma travessia. A expressão tem o significado de que Vossa Excelência “se
deu mal” ao fazer o convite. Mas, para fixar, vamos a mais um exemplo:
O Ministro Coveiro
deu com a cara na porta ao chegar na
casa do Bobo da Corte.
A expressão “deu com a cara na porta” pode ter um duplo sentido: Vossa
Excelência chegou na casa do Ministro da (des)Educação e ele lá não estava ou, ainda, Vossa Excelência, com raiva de si mesmo por ter ido visitar tal traste, começou
a bater com a cara na porta. Mas, acho que Vossa Excelência não faria isso, mesmo concordando que ele é um traste.
Espero ter ficado claro. Caso necessário, posso desenhar. “Talquei”?
Bom, mas retomemos ao problema da falta de transparência dos dados
sobre a pandemia. Quando estamos diante de uma crise sanitária causada por uma doença contra a qual
não dispomos de remédios com eficácia comprovada e/ou vacinas, o único instrumento
para detê-la é o isolamento dos focos da doença. Para isso, é imprescindível
dispormos de dados confiáveis. Como não temos infraestrutura para uma testagem
em massa, precisamos conhecer com precisão onde a doença está se espalhando.
Outro fator importante no combate a uma pandemia é que a sociedade tenha total
confiança nas autoridades de saúde.
Senhor Ministro da Ressurreição, não há como negar que Vossa
Excelência não passa qualquer confiança para a sociedade. Vossa Excelência
perdeu a possibilidade de passar tal confiança a partir do momento que acatou o
clamor desesperado da Rainha Louca e liberou a cloroquina. Diga-se de passagem,
Vossa Excelência não tem formação na área de saúde. Equivocou-se, também,
quando aceitou o apelo para divulgar o Boletim Epidemiológico às 22h atendendo
ao pedido da monarca. Pois é, General, Vossa Excelência caiu do cavalo –
atenção, fiz uso de uma figura de linguagem – a vinheta de Urgente da Globo
teve mais audiência que o Jornal Nacional.
O Ministro da Ressurreição ficou mais desacreditado ainda quando da
entrevista do ex- futuro Secretário
de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde ao jornal O Globo. Do alto de
sua arrogância e prepotência ele afirmou que os dados da Covid-19 eram “fantasiosos
ou manipulados” (veja aqui). O senhor Wizard pode ter imaginado que o
Ministério da Saúde faz uso da mesma prática que ele deve usar nas suas lojas
de produtos naturais. Talvez, em suas lojas os preços sejam “manipulados” e seus
produtos sejam “fantasiosos”. Enfim, o arrogante Wizard saiu sem nunca ter
entrado. Sentiu que nós, antifascistas, temos o poder de chamar um boicote
poderoso às suas empresas.
A partir da entrevista de Carlos Wizard o Brasil perdeu a
credibilidade até da comunidade científica internacional. A Universidade John
Hopkins parou de informar, por algumas horas, os dados sobre a doença no
Brasil. Existe, inclusive, um risco de a Universidade de Oxford desistir de
testar a vacina no Brasil. A universidade britânica pode se perguntar: “será
que os dados serão confiáveis”? Nós, cientistas, teremos que trabalhar no
sentido de mostrar para a comunidade internacional que a ciência no Brasil é
séria e não oculta dados e que essa é uma prática da República da Rainha Louca.
A credibilidade foi ainda mais diminuída quando o MS divulgou o Boletim Epidemiológico e algumas horas depois um novo Boletim foi divulgado e nele constava 857 defuntos que haviam “ressuscitado” ou “ocultados”
Classificar como irresponsável a manobra do Ministro da Ressurreição é
o mínimo se quisermos ser educados. Todavia, tendo a querer classificá-la como
uma manobra genocida.
Paremos a Rainha Louca, ou o Brasil será destruído!
[*]
Posso pode saber mais no site Memorial da Ditadura: http://memoriasdaditadura.org.br/corrupcao/?gclid=Cj0KCQjww_f2BRC-ARIsAP3zarFwPo50rSe1R14HQ4US4iMEJ1P-P_K_Z93p9ojuOsIW1HaM05G-pDQaAkl3EALw_wcB
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