O Apartheid brasileiro
Robson Matos
Já falei sobre a morte de George Floyd (clique aqui) e já falei do
racista Sérgio de Camargo (clique aqui). Chegou a hora de colocar o dedo na ferida e aprofundar sobre esse mal que acomete o Brasil há séculos, o racismo estrutural.
Will Smith disse: “O racismo não está aumentando, ele está sendo
filmado”. Infelizmente essa não é a realidade brasileira e podemos adaptar a declaração
do ator estadunidense para o Brasil da seguinte forma: O racismo no Brasil está aumentando, está sendo filmado e não estamos
fazendo nada para combatê-lo!
No primeiro dia do mês de junho desse ano, um morador de rua negro foi
espancado pela Polícia Militar do DF. A grande mídia, ocupada com as
manifestações nos EUA pela morte de George Floyd, não repercutiu a violência
policial no Brasil.
As cenas foram filmadas por um jovem negro e segundo ele, a vítima
nada fez, não possuía arma branca e levou pedradas e spray de pimenta. Ao ser
questionado nas redes sociais sobre o porquê de não ter socorrido a vítima, ele
disse:
“Senti
muito medo, fiquei paralisado. Sabia que eu confrontasse eles, eu que estaria
naquele lugar. Eu também sou homem preto, eu sei o que é isso”.
Esse não é um fato isolado no Brasil a violência contra negros sempre
existiu e está aumentando de maneira assustadora. A comparação entre o número
de mortos pela polícia nos EUA e no Brasil demonstra que a polícia brasileira é
muito mais violenta e racista. No ano de 2019, a Polícia estadunidense matou
1.099 pessoas, enquanto no Brasil esse número é quase cinco vezes maior – 5.804 pessoas.
Apenas no Rio de Janeiro, a polícia matou um número superior de pessoas – 1810 – àquele dos EUA.
O percentual de negros mortos pela polícia estadunidense representa 23,6% do
total em 2019. Já no Brasil, no mesmo ano, 78% das pessoas mortas pela polícia
eram negras.
No primeiro semestre de 2019, 885 pessoas foram mortas pela Polícia no
Rio de Janeiro e 80% delas eram afrodescendentes – 711. A operação no Fallet em
Santa Teresa levou à morte 13 pessoas sendo que 9 eram negros ou pardos.
Nesse ano, a Polícia carioca continua mantando jovens negros e
inocentes. João Pedro (14 anos) estava em casa brincando com amigos e foi atingido
pelas costas por tiro de fuzil. João Victor (18 anos) e Rodrigo Cerqueira (19
anos) estavam participando de um evento de distribuição de cestas básicas. O moto
taxista Matheus Oliveira (23 anos) foi morto com um tiro na cabeça quando
voltava para casa no Morro do Borel na Tijuca. Bianca Regina (22 anos) foi baleada
na cabeça na Cidade de Deus. Bianca acordou com o tiroteio e ao levantar da cama foi
atingida na cabeça.
A polícia, dessa forma vai promovendo um genocídio de jovens negros no
Brasil e a sociedade nada faz. O brasileiro parece estar anestesiado com tantos
assassinatos de jovens negros. Por outro lado, pode ser que o racismo, antes
velado, começou a ficar escancarado.
De fato, parece-me que os sentimentos mais cruéis que um ser humano
pode ter começaram a sair do armário a partir dos discursos de ódio sempre proferidos
pela Rainha Louca. Os ataques às minorias estão cada vez mais constantes no
Brasil, seja nas redes sociais ou em público. Os seguidores da Rainha Louca são
os mais destemidos e estão sempre desafiando as Leis. Palavras de racismo já
foram proferidas pela Rainha Louca e pelo Bobo da Corte, que aliás hoje presta
depoimento à PF em um inquérito de racismo aberto contra ele.
No último final de semana, o autointitulado “grupo dos 300” – que não
conta com mais de 30 componentes – promoveu uma passeata contra os Ministros do
STF. Na passeata eles estavam vestidos como os supremacistas brancos da Ku Klus Khan e carregavam tochas como aquelas da organização racista
estadunidense.
Está circulando nas redes sociais um vídeo de uma jovem brasileira
branca que considera que o racismo existe e é natural. Ela diz: “o racismo
sempre vai existir enquanto a maior parte dos crimes for cometido por pessoas
negras”.
Minha jovem, sinto muito em lhe dizer: o racismo não é natural, o
racismo é crime. Seu argumento parte de uma premissa racista ao dizer que a
maior parte dos crimes é cometida pela população negra.
Mas, infelizmente, esse parece ser o pensamento de grande parte da
população brasileira, uma população que se mostra a cada dia mais racista, mais cruel e menos empática.
A população brasileira é composta por 56% de pessoas que se declaram
negras, de acordo com o Pnad. Embora maioria, os negros chegam a receber até
68% menos por hora trabalhada. Dentre os cargos de chefia, aproximadamente apenas 30%
são ocupados por negros. Com o aumento da importância do cargo e do salário há uma
diminuição no percentual de negros ocupando o referido cargo.
Entre representantes no Legislativo, os negros são minoria e eles ocupam, também, pouquíssimas
vagas no Poder Judiciário brasileiro. Todavia, os negros já são a maioria no
Ensino Superior Público.
Mas, em relação a serem uma maioria no Ensino Superior Público, há de
se fazer algumas ponderações. Tem se tornado corriqueira a descoberta de
pessoas fraudando o sistema de cotas para ingresso nas Instituições Federais
de Ensino – IFES. Existem vários perfis no Twitter denunciando pessoas que
fraudaram o sistema de cotas das IFES. Se você buscar @fraudadoresdecota será
exibida uma lista bastante considerável.
Essas pessoas que estão transgredindo o sistema de cotas são, grosso
modo, racistas. São pessoas que não conseguem entender a dívida de mais de 500
anos que temos com a população negra, acham que o sistema de cotas é um
privilégio e tentam burlá-lo.
Muitos de nossos irmãos negros ainda são tratados no Brasil como
escravos. Pelo menos isso foi o que
aconteceu no dia 2 de junho, no Recife. Miguel, de apenas 5 anos, perdeu a vida
ao cair do 9º andar de um prédio. A mãe de Miguel, não tendo onde deixar o
filho, o levou para a casa da sua empregadora, Sari Cortes. A mãe de Miguel
saiu para passear com os cachorros de Sari e o pequeno Miguel foi deixado na
casa da empregadora. Querendo ir encontrar com a mãe, Miguel entra no elevador e
Sari tenta convencê-lo a não ir, mas acaba cedendo. Sari estava ocupada
cuidando de suas unhas com a manicure que a atendia em casa. Veja o pequeno
Miguel no elevador no vídeo a seguir.
Sari foi presa em flagrante, mas liberada diante o pagamento de uma
fiança de R$20 mil.
Estamos anos luz atrás da sociedade estadunidense em relação à luta
pelos Direitos Civis.
Nos EUA, a luta antirracismo é ensinada desde o berço. No Brasil nossas
crianças negras são obrigadas a aprender como evitar ser assassinada pela
polícia.
A filha de George Floyd acredita que o pai mudou o mundo. É isso que
ela diz do alto das costas do tio: “Dad changed the World”! – “Papai mudou o
mundo”!
Giana tem apenas 6 anos e ainda perceberá que o pai dela mudou grande
parte do mundo. Infelizmente, ele não foi capaz de mudar uma parte do mundo, o
Brasil.
Por que a sociedade brasileira não se manifesta pela morte dos nossos
negros ao invés de chorar pela morte de George Floyd? Não que o brutal
assassinado de George Floyd não mereça nossa atenção e nossos protestos. Muitos
negros brasileiros merecem o nosso protesto: Evaldo, João Pedro, Ágatha, João
Victor, Reinaldo, Bianca, Matheus são apenas alguns daqueles que foram mortos pela polícia desde 2019.
A cada assassinato de um jovem negro cometido pela Polícia brasileira,
algumas pequenas manifestações ocorrem. Todavia, essas manifestações não estão
à altura da indignação que deveria ser mostrada por uma sociedade que, em sua
maioria, gosta de dizer que não é racista.
O combate ao racismo começa dentro de você!
É preciso que você reconheça que é uma pessoa racista, só assim você poderá deixar ser se tornar um e passar a ser um cidadão do bem. Para que você se torne um antirracista você precisa primeiro eliminar o racismo que porventura possa existir dentro de você.
O Movimento Black Lives Matter nasceu nos EUA em 2013. Está na hora de
criarmos o Movimento Vidas Negras Importam.
Perfeito 👏👏👏✊
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