A Rainha Louca namora com o fantasma de Mussolini
Robson Matos
E derrubareis Bolsonaro, e a felicidade vos libertará
(Povo 7:6)
(Povo 7:6)
A história é nosso mestre para combatermos um bom combate. Só derrubaremos
a Rainha Louca se entendermos o seu projeto e para isso, precisamos de voltar
101 anos no tempo[*].
Em 23 de março de 1919, Mussolini fundou em Milão o grupo “Fasci
Italiani di combattimento”. O grupo era constituído basicamente por ex-combatentes
da Primeira Guerra Mundial que estavam desmobilizados e desempregados, além de
jovens da classe média italiana. Eles se autodenominavam “fascistas”. A palavra
origina-se do fascio littorio, símbolo
da República e do Império Romano. O fascio
littorio foi, então, incorporado como símbolo por Mussolini para
representar a força e a glória.
Com o crescimento do grupo “Fasci Italiani di combattimento”,
Mussolini cria o Partido Nacional Fascista
– PNF – em 1921. O objetivo dos
fascistas era ascender ao poder através do processo eleitoral, mas, em caso de
necessidade usariam a violência para chegar ao poder. Eles conseguiram ascensão
política através das suas “gangues de camisas negras”, constituídas de homens
vestidos de preto que atacavam os opositores do PNF, através do uso de
violência.
No início da década de 1920 o socialismo estava apresentando um avanço
na Itália e isso acarretava em um grande temor. Assim, o fascismo obtém grande
apoio político e consegue a adesão do bloco de direita que estava no poder. O
maior apoio ao PNF estava concentrado no norte da Itália. Sob a bandeira do combate ao socialismo, o movimento
fascista ganha muita força e começa a conspirar para assumir o poder.
Mussolini começa a controlar a força e a agressividade dos membros do
PNF para melhorar a imagem do partido e criar alianças com a monarquia, a Igreja
e os industriais. Porém, ele não conseguiu conter a violência e os fascistas
tentaram, com o uso da força, tomar o poder em Milão, Trento e Bolzano.
Várias outras cidades foram tomadas e a sociedade começava a demandar o uso de
força para combater o socialismo.
No dia 16 de outubro de 1922, os fascistas começam a organizar a
Marcha sobre Roma que tinha como principal objetivo pressionar a Monarquia
Italiana pela nomeação de Mussolini como Primeiro Ministro. Nesse momento,
Mussolini já contava com um grande apoio da classe italiana mais abastada
economicamente para que ele fosse o Primeiro Ministro. Ele, então, percebeu que poderia chegar ao poder sem o uso da violência.
Havia, no dia 28 de outubro, nos arredores de Roma mais de 30 mil
fascistas fortemente armados e foi quando Luigi Facta – Primeiro Ministro à
época – pede ao Rei autorização para decretar estado de emergência e assim
convocar o exército para combater os fascistas. Entretanto, Emanuel III nega o
pedido do Primeiro Ministro, força a demissão de Facta e convoca Mussolini para
ser o Primeiro Ministro. Em 30 de outubro, Mussolini parte de Milão para Roma e
mais fascistas se dirigem para a capital italiana.
A Itália não se transformou em um regime ditatorial de imediato. Essa
transformação só foi ocorrer em 1925 quando Mussolini declarou-se ditador e
impôs um governo totalitário. Assim, a liberdade de imprensa e a realização de
eleições foram abolidas, partidos políticos foram dissolvidos e foi constituído
um tribunal para julgar os opositores ao fascismo. Os sindicatos foram
obrigados a se unir à Confederazione
Nazionale dei Sindacati Fascisti e passaram a ser controlados pelo Estado.
Impõe-se a censura à imprensa, houve o estabelecimento de uma polícia secreta e
os conteúdos programáticos das escolas eram controlados pelo Estado. A Ditadura
de Mussolini se estendeu por mais de 20 anos e só teve fim após a Segunda
Guerra Mundial.
O fascismo de Mussolini tornou-se referência para regimes
autoritários, especialmente para Hitler. Mussolini apoiou o regime nazista
alemão e acabou derrotado, juntamente com Hitler, na Segunda Guerra.
A derrota de Mussolini não representou o fim do fascismo como uma
ideologia política e ainda inspira muitos movimentos de extrema direita. Para
muitos historiadores, o fascismo ainda é um dos termos políticos mais indefinido.
Um movimento de extrema direita é caracterizado por se opor aos
princípios da Revolução Francesa (Igualdade, Liberdade e Fraternidade), porém,
esse movimento pode não ter uma tendência totalitária. Com a ausência de um
regime totalitário ou sem a submissão da sociedade a uma hierarquia
militarizada, não estamos diante do fascismo.
Estamos diante do fascismo quando um movimento de massas organizado
militarmente tenta tomar o poder e transformar o regime em um regime
totalitário. Em suma, transformar a imprensa, os sindicatos, os partidos
políticos, as escolas, o Legislativo e o Judiciário em instituições sob o
controle do Estado.
Passada essa pequena abordagem histórica, podemos tentar fazer uma
comparação entre os modi operandi de
Mussolini e da Rainha Louca.
Assim como Mussolini, a Rainha Louca começou o seu projeto a partir de
uma cidade rica economicamente – Rio de Janeiro – e criou o seu grupo de apoio,
no caso, os milicianos. Aliás, onde está o Queiroz?
Embora a violência e o uso da força sempre estiveram presentes nas
campanhas da Rainha Louca, a sua ascensão ao poder se dá através das urnas. Outra narrativa presente no discurso da Rainha Louca é combate ao comunismo – embora o comunismo nunca tenha existido no Brasil. O
discurso “antipetista” e o temor de o “Brasil virar uma Venezuela” levaram a
Rainha Louca ao poder. “Talquei”, houve, também, uma forte ênfase na narrativa
do “combate à corrupção”. Todavia, muitos sabiam que a corrupção sempre foi um
hábito no clã da Rainha Louca. Se você não sabia, basta ficar um pouco mais
atento nas denúncias que têm pipocado cotidianamente: gastos excessivos com
combustíveis, práticas de rachadinha, funcionários fantasmas, etc.
Com o poder nas mãos, a Rainha Louca começa a cumprir suas promessas,
feitas durante a campanha, de perseguição às correntes progressistas, aos
educadores, à imprensa e a quaisquer que ao seu Governo se opõem. Começa a se
alinhar aos Governos de extrema direita do Mundo – EUA, Hungria e Itália – e a
política de Relações Exteriores brasileira, sempre tida como pacificadora,
transforma-se em uma política de isolamento dos países com uma linha politicamente
mais à esquerda.
Repetindo a citação do brilhante Octávio Guedes, a Rainha Louca passa
de animadora das redes sociais a animadora do cercadinho do Palácio da
Alvorada. É de lá – sempre com a presença de sua claque ensandecida – que a
Rainha Louca inflama a sua base e desfere seus arroubos autoritários contra a
imprensa, contra as Instituições Democráticas constituídas, contra a
Constituição e até contra seus próprios Ministros.
Muitas autoridades, jornalistas e comentaristas gostam de dizer que
existem duas Rainhas Loucas. Como se a Rainha Louca sofresse de Transtorno de
Dupla Personalidade. Esse é um discurso que considero inaceitável. Não vejo como
se a Rainha Louca estivesse em um momento fazendo um discurso para sua claque e
em outro fazendo um discurso para a imprensa. Entendo como tudo sendo parte de
um conjunto para levar a cabo o seu projeto de implementar o seu projeto
totalitário, sobre o qual já falamos aqui (veja aqui). A Rainha Louca, chega às
vezes a se confundir. Certa vez o Presidente disse: “A Constituição sou eu”! A
história nos mostra a semelhança com o que disse Luiz XIV: “O Estado sou eu”!
Repetindo o fascista italiano, a Rainha Louca tenta criar um novo
partido, um partido para chamar de seu e defende armar os cidadãos para se
revoltarem contra Prefeitos e Governadores e colocar o fim no isolamento social
durante a pandemia.
As semelhanças com Mussolini não param por aí. O fascista italiano tinha
as “gangues dos camisas negras”, a Rainha Louca conta com o chamado “grupo dos
300” – que conta com pouco mais de 30 integrantes – e que tenta tocar o terror – às
vezes até imitando a Ku Klux Khan – ameaçando Ministros do STF, membros do Legislativo,
manifestantes pró Democracia e qualquer um que a esse Governo se oponha.
Embora a implementação de um Regime Totalitário possa levar alguns
anos, como aconteceu na Itália em 1925, não há como negar que ela está em curso
no Brasil e durante a pandemia ganhou uma maior velocidade (veja a análise aqui).
O controle sobre a Polícia Federal é evidente (veja aqui), embora eu
acredite que a corporação irá resistir bravamente. A tentativa de interferência
no Ministério Público Federal começou com a indicação de um PGR que não estava
na lista tríplice organizada pelos procuradores federais. A Rainha Louca está,
claramente e acintosamente, barganhando uma vaga no STF em troca de proteção do
PGR.
A bandeira do combate à corrupção se esvaiu a partir do momento que o
Centrão começou a desembarcar no Governo abocando cargos com orçamentos milionários
em troca de proteção contra autorização de abertura de processos e/ou um
eventual processo de impeachment.
Ou seja, de maneira similar a Mussolini, a Rainha Louca se uniu aos
partidos de direita.
Durante as décadas de 1980 e 1990, os brasileiros estavam acostumados
a assistir, nas manhãs e/ou tardes dos domingos às corridas da F1 e torcer por
Piquet e Senna. Nossos domingos hoje são ocupados pelas manifestações
antidemocráticas. Manifestações que contam, quase rotineiramente, com a
presença da Rainha Louca e às vezes com alguns de seus Ministros. Elas defendem
o fechamento do Congresso, do STF e a reedição do AI-5 – aliás, a maioria não
sabe o que seja isso (veja análise). Esses manifestantes defendem um Golpe
Militar com a Rainha Louca no poder, ou seja, mais uma vez mimetizando
Mussolini – o fim do poder tripartite e a instituição do Estado Totalitário.
Similarmente a Mussolini, a Rainha Louca deseja ter uma PF que
responda a ela e lhe preste informações. Afirmou na Reunião Ministerial da
República da Rainha Louca (veja a análise) que possui um Sistema de Informações
particular.
Na manifestação ocorrida no dia 31 de maio a Rainha Louca fez uso de
um símbolo da opressão nos anos de chumbo da Ditadura Militar no Brasil – a Cavalaria
Militar – e lembrou em muito uma foto de Mussolini.
Está passada a hora de combatermos com todas as nossas forças esse
governo fascista!
Não nos basta sermos 70%! Precisamos ser 90%!
Pela união das forças progressistas!
[*]
Caso você queira se aprofundar no assunto, existem bons sites com informações
confiáveis: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/linha-do-tempo/fasci-italiani-di-combattimento-semente-do-partido-fascista/
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