Análise da Reunião Ministerial da República da Rainha Louca

Análise da Reunião Ministerial da República da Rainha Louca

Robson Matos

Sob o ponto de vista da tentativa de interferência na Polícia Federal, não observei grandes novidades sendo acrescentadas pela divulgação do vídeo. A tentativa de interferência na PF já estava comprovada pelas notícias divulgadas durante a semana. De novo, destacaria, sobre esse assunto, apenas a expressão corporal do Presidente na Reunião. Ficou muito claro que ao falar “...vou interferir...”, o Presidente olha claramente para o ex-Ministro da Justiça, que está ao seu lado esquerdo. Sobre a interferência na PF, publiquei um artigo nesse blog (veja aqui) e não consegui depreender do vídeo da reunião nada além do que tratei no artigo anterior. Assim sendo, buscarei abordar outros aspectos da Reunião Ministerial da República da Rainha Louca.

Fiz uma vasta busca nos mais renomados dicionários da língua portuguesa e não consegui achar um adjetivo único para qualificar o que foi a Reunião Ministerial do dia 22 de abril. Fui infeliz, também, em encontrar um adjetivo para qualificar a minha impressão sobre essa reunião. Dessa forma, você irá se deparar com vários adjetivos durante a leitura desse artigo, alguns irão, infelizmente, se repetir.

Por mais destemperado que sabemos o Presidente da República ser, fiquei incrédulo em relação ao nível da linguagem dele. Palavrões do mais baixo calão são proferidos pelo Presidente. Vê-se claramente na fala e na linguagem corporal do Presidente muito rancor, ódio, ciúmes e egocentrismo. Fica claro que haviam três pontos principais em pauta: a retomada da economia, a cobrança pela união de todos os Ministros em torno da defesa dele próprio e o armamento da população. O Presidente da República deixa muito claro que vai escancarar a ideia de armar a população para que todos os defendam de seus adversários – na cabeça dele seriam inimigos.

Vários crimes podem ter sido cometidos durante a Reunião Ministerial da República da Rainha Louca. Um desses crimes pode ter sido cometido por um dos mais destemperados dentre os presentes na reunião, o (des)Ministro da Educação, mais conhecido como Bobo da Corte. O Presidente chega a dizer que tem mais educação que o Bobo da Corte. Em um tom totalmente raivoso e cheio de ódio ele chama de bandidos os Ministros do STF e que todos devem ir para a prisão. Ele demonstra-se muito irritado com os vários processos existentes contra ele em várias cortes. 

O Bobo da Corte faz, também, ataques aos seus colegas Ministros. Ele mostra claramente, em vídeo, todo o seu usual discurso proferido nas redes sociais. Queixa-se de ter sido perseguido na Universidade e de que sua carreira não decolou. Ele cita que foi ameaçado de morte dentro da Universidade. Interessante é que ele não apresenta provas de ter sido perseguido e até onde se sabe, o fato de sua carreira não ter decolado são por motivos outros. Existem inúmeros documentos que comprovam que o Bobo da Corte foi aprovado em Concurso Público para docente com nota mínima.

Outro discurso que me causou espanto foi o da Ministra da Goiabeira – a Damares. Não que possamos aproveitar alguma coisa dita por ela. A Ministra da Goiabeira demonstra claramente que ela vive em um mundo diferente daquele que vive a grande maioria da população. Em determinado momento ela apresenta a denúncia de que os indígenas brasileiros estão sendo contaminados propositalmente com o novo coronavírus. Essa é uma denúncia totalmente descabida, irresponsável e serve apenas para cobrir a incompetência do Governo Federal na proteção das Reservas Indígenas. Somando-se a isso, a tresloucada Ministra da Goiabeira lança uma denúncia sem apresentar os autores de tamanha atrocidade. Ela deixa muito claro que é uma denúncia vazia para criar uma cortina de fumaça e esconder a incompetência.

A Ministra da Goiabeira aborda, também, outro assunto muito caro a ela, o aborto. Ela luta pelo fim da Lei do Aborto em vigor hoje no Brasil. Acho que cada um deve lutar por aquilo que acredita. Todavia, essa luta deve ser feita com inteligência e conhecimento, duas qualidades que ela demonstra claramente não possuir. Ela cobra do, na época, Ministro Coveiro a questão do aborto e acusa os Ministros do STF de terem aprovado o aborto para mães diagnosticadas com o vírus da zika e pede ao Ministro Coveiro que não deixe que seja liberado o aborto para mães contaminadas com o novo coronavírus. Ainda estou tentando descobrir de onde a Ministra da Goiabeira tirou a possibilidade de isso acontecer. Fiz uma pesquisa profunda e não encontrei nenhum artigo ou qualquer pessoa defendendo a necessidade do aborto no caso de grávidas com a Covid-19.

Em vários pontos da reunião o Presidente mostra o seu usual arroubo de autoritarismo e demonstra total incapacidade de conduzir uma Nação. Ele faz ataques desnecessários, depreciativas e de baixo calão aos Governadores de São Paulo e do Rio de janeiro e ao Prefeito de Manaus. Embora nenhuma deles esteja na minha lista de políticos favoritos, são autoridades que merecem o mínimo respeito. Foi estarrecedora a maneira como ele qualificou esses políticos. Ele não respeitou a liturgia do cargo e demonstrou falta de compostura. A principal função de um Presidente da República deve ser a de unir o país e trabalhar de forma harmônica com todos os entes da Federação. Além disso, o Presidente faz seus usuais ataques à imprensa. Dessa vez, porém, ele usa termos mais chulos para classificar os órgãos da imprensa. O Presidente da República é despreparado, demonstra falta de competência para conduzir sua equipe ministerial e em termos de condições para unir e conduzir o país, ele é um zero à esquerda.

Estarrecedora, preocupante e maldosa foi a participação do Ministro do Desmatamento, Ricardo Sales. Ele sugere que Governo Federal deveria utilizar a atenção da imprensa na pandemia da Covid-19 para aprovar “reformas infralegais de desregulamentação e simplificação” na área ambiental e “ir passando a boiada”. No dia 07 de maio fiz o alerta aqui nesse blog (veja aqui) de que o Governo Federal estar usando a crise sanitária para aprovar várias medidas nas mais diversas áreas.

A sugestão do Ministro do Desmatamento é inadmissível, irresponsável e resultará em um grande estrago na economia brasileira. Os alertas de desmatamento na Amazônia cresceram mais de 63% no mês de abril desse ano. O desmatamento da Amazônia atingiu no mês de abril a maior taxa dos últimos 10 anos. Foram desmatados, apenas em abril desse ano, 529 km² de floresta, um aumento de 171% em relação a abril de 2019.

O garimpo ilegal nas terras indígenas está avançando de forma estarrecedora durante esse período de pandemia e o Presidente da República diminui o poder do Ibama no combate ao garimpo. Contrariando a Legislação atual, o Presidente colocou a Força Nacional para comandar o combate ao desmatamento na Amazônia. Parece-nos que ele tenta impedir, conforme determina a Legislação, que o maquinário do garimpo ilegal seja destruído.

As maiores redes de supermercados e restaurantes europeus já demonstrou a intenção de parar de importar commodities agrícolas e pecuárias brasileiras em retaliação à aprovação do PL da grilagem (PL 2633/2020) é resultado da MP 910/2020 que caducou no último dia 20. A ameaça de retaliação apenas dos europeus já pode causar um grande estrago no agronegócio brasileiro, todavia, essa ameaça pode ser encampada por outros países europeus. Nas últimas duas décadas, o Brasil construiu uma extraordinária imagem como defensor do ambiente e passou a ser o ator principal nos debates sobre as questões ambientais. Toda essa construção diplomática está sendo destruída com uma força extraordinária.

Dentre os presentes na Reunião Ministerial da República da Rainha Louca, os únicos que demonstraram tranquilidade não são, atualmente, Ministros da República da Rainha Louca. O ex-Ministro Sérgio Moro pouco falou e nada acrescentou. Já o ex-Ministro Coveiro, para a minha imensa surpresa, foi o único a falar do combate à pandemia. Ele deixou muito claro que não se poderia falar de abertura da economia enquanto a sociedade estivesse tomada pelo medo. Segundo ele, para acabar com o medo seria necessário mostrar um plano para combater a pandemia. Outro a citar o combate à pandemia foi o Ministro do Turismo que fez a proposta de utilizar os hotéis para acomodar os profissionais da saúde.

Em suma, a Reunião Ministerial da República da Rainha Louca escancarou vários dos projetos que imaginei que passassem pela cabeça do Presidente e sua família. No dia 22 de abril o Brasil contava com 46.195 casos e 2.924 óbitos por Covid-19, o Presidente da República realizou uma reunião para tratar da retomada da economia e de combate aos seus adversários. Para cumprir a sua missão, convocou os seus Ministros para a sua guerra pessoal, como se estivesse convocando cabos e soldados. Em relação ao combate à crise sanitária, apenas dois pequenos pronunciamentos.

O Presidente chegou a expressar, mesmo veladamente, o desejo de condenar a legalidade do Partido Comunista do Brasil. Ele se expressa que ele tem o poder, característica clara de quem sabe que não é capaz de exercer o poder e precisa constantemente afirmá-la em tom de ameaças. O Presidente demonstra total desprezo pela democracia e fica claro que ele não tem qualquer conhecimento do que signifique democracia.

O Presidente da República repete o projeto de Mussolini para tomar o poder. Mussolini armou as suas milícias em Milão para invadir Roma e tomar o poder. O Presidente defende armar as suas milícias para atacar as instituições democráticas, eliminar adversários e se tornar um absolutista.

É preciso que estejamos sempre alertas e lutemos sempre contra a implementação de um Regime de Exceção no Brasil.