O Bobo da Corte da Rainha Louca e a “Noite dos Cristais”
Robson Matos
O Ministro da (des)Educação, também conhecido como o Bobo da Corte da
República da Rainha Louca, provocou uma avalanche de críticas contra si ao
fazer uma comparação da Operação Fake News com a “Noite dos Cristais”.
Ao dizer que a Operação da PF sobre fake news será lembrada como a “noite
dos cristais brasileira”, o Bobo da Corte foi repudiado pela comunidade judaica
no Brasil e no Mundo. A Embaixada Israelense apontou que o uso do Holocausto no
discurso público banaliza a sua memória e a tragédia do povo judeu.
A Confederação Israelita do Brasil – Conib – emitiu a seguinte nota em
relação à desrespeitosa postagem do Bobo da Corte:
“Não há
comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em
1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que
investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças
paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de
judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de
milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e
deportação a campos de concentração. As ações do inquérito, por sua vez, se dão
dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as
vítimas do nazismo não tinham acesso. A comparação feita pelo ministro Abraham
Weintraub é, portanto, totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma
inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que
culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias.”
A postagem do Bobo
da Corte também foi criticada pelo Consul de Israel em São Paulo – Alon Lavi e
pela entidade “Judeus pela Democracia”.
Outras entidades
que condenaram a postagem do Bobo da Corte foram o Museu do Holocausto em
Curitiba e o respeitadíssimo Comitê Judeu Americano (American Jewish Commitee).
O Comitê americano postou: “Já é
suficiente! O uso repetido da linguagem do Holocausto como armas por
funcionários do governo brasileiro é profundamente ofensivo aos judeus do mundo
e um insulto às vítimas e sobreviventes do terror nazista. Ele precisa parar
imediatamente.”
O Bobo da Corte,
valendo-se de sua origem judaica, desrespeitou o povo judeu. Ele demonstrou ser
desprovido de empatia, sensatez e conhecimento.
Senhor Ministro da
(des)Educação, não sou da área de história, mas acho que possuo um pouco mais
de conhecimento que Vossa Excelência – o pronome foi colocado em iniciais maiúsculas
por exigências das regras ortográficas, mesmo sabendo que o senhor não mereça
tal tratamento – e portanto vou ariscar-me a lhe ministrar uma aula grátis sobre
a “Noite dos Cristais”, mesmo que sem grande aprofundamento.
O nazismo ascendeu
ao poder na Alemanha no ano de 1933. Todavia, o projeto de subjugar e eliminar
as “raças inferiores” já era uma ideia de Hitler antes de sua ascensão ao
poder. Para implementar seus projetos antissemitas, Hitler precisava despossar
e desapropriar os judeus- alemães de todas as suas propriedades e imensas
riquezas. Os nazistas empregavam vários métodos para realizar seus projetos
antissemitas, dentre eles o pogrom. O
termo pogrom, de origem russa, refere-se
a um ataque organizado e violento contra determinado grupo.
O pogrom mais chocante
foi aquele que ocorreu na madrugada do dia 9 para 10 de novembro de 1938 e
ficou conhecido como a “Noite dos Cristais” – Kristallnacht ou Reichkristallnacht. A “Noite dos Cristais” foi um processo de
destruição de patrimônios judaicos e atingiu casas, lojas e sinagogas. Os
judeus também sofreram agressões que resultaram inclusive em mortes.
A “Noite dos
Cristais” consolidou a guinada de violência contra os judeus e abriu o processo
de prisão de judeus em campos de concentração. Embora acontecessem alguns ataques
violentos, as ações contra os judeus, até então, ocorriam mais nos campos
políticos e jurídicos. Esse trágico pogrom
sinalizava para os judeus de que a violência contra eles iria aumentar.
Após a realização desse
pogrom, cacos de vidros ficaram
espalhados pelas cidades alemãs por causa da destruição de vidraças das lojas
que pertenciam aos judeus e por isso o nome “Noite dos Cristais”.
O Partido Nazista
alemão organizou a “Noite dos Cristais” em resposta ao assassinato do diplomata
alemão Ernst vom Rath. O
diplomata residia em Paris e foi assassinado por um estudante judeu. Herschel
Grynszpan, nascido na Polônia e criado na Alemanha, não aceitava o fato de
sua família ter sido expulsa do país. Com a intenção de assassinar o embaixador,
o estudante foi até a embaixada alemã em Paris, mas acabou vitimando o diplomata
no dia 8 de novembro.
A notícia do atentado espalhou-se e Hitler e Goebbels – ministro da
propaganda nazista – usaram esse fato para atacar a comunidade judia. A ideia
deles era de fazer com que o ataque aparentasse ser um ataque espontâneo e sem
o envolvimento do governo alemão. Assim, a maioria das tropas que participaram
da “Noite dos Cristais” não usava uniformes.
Como resultado essa
trágica madrugada, registraram-se 520 sinagogas destruídas, a destruição de
algo entre 7.500 e 9.000 lojas de judeus, a morte (oficialmente) de 91 pessoas durante
os ataques e a prisão e encaminhamento para os campos de concentração de 30 mil
pessoas. Mas, o número real de mortos pode ter sido superior a 1000.
Senhor Ministro da (des)Educação, espero que
Vossa Excelência tenha conseguido assimilar algum conhecimento sobre a “Noite
dos Cristais” e tenha tido a capacidade de entender que a sua comparação foi
desrespeitosa e sem nexo. Embora, acredite que o seu problema vai um pouco além
da falta de conhecimento, educação e empatia. O seu problema parece ser a falta
de limites e uma enorme tendência ao desrespeito das minorias. Sua fala na tragicômica Reunião do Ministério da Rainha Louca demonstra isso. Segundo ele, as minorias têm "privilégios" que precisam acabar.
Os repúdios
recebidos pelo Bobo da Corte não foram capazes de lhe trazer à razão e perceber
o estrago que ele havia causado. No dia seguinte – 28 de maio – ele voltou a defender
o seu direito de falar do Holocausto usando como justificativa a liberdade de
expressão.
O Bobo da Corte parece não entender que a liberdade de uma pessoa termina quando começa a da outra. Ele não conseguiu entender que ele pode fazer uso da sua liberdade de expressão, mas que ao usá-la, pode ser responsabilizado pelo que fala. Sugiro-lhe, senhor Bobo da Corte, uma leitura sobre liberdade de expressão e seus limites (clique aqui).
O Bobo da Corte parece não entender que a liberdade de uma pessoa termina quando começa a da outra. Ele não conseguiu entender que ele pode fazer uso da sua liberdade de expressão, mas que ao usá-la, pode ser responsabilizado pelo que fala. Sugiro-lhe, senhor Bobo da Corte, uma leitura sobre liberdade de expressão e seus limites (clique aqui).
Mas, o Bobo da
Corte não foi o único a fazer referência ao Holocausto, dentre os membros da
República da Rainha Louca. Em janeiro desse ano, o então Secretário de Cultura
Roberto Alvim divulgou um vídeo que fez referência à fala de Joseph Goebbels –
Ministro da Propaganda Nazista.
Alvim disse: "A
arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de
grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto
que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não
será nada".
Em um discurso Goebbels
disse: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente
romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande
páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".
Embora pouco
audível, Alvim escolheu como fundo musical para o vídeo a ópera romântica Lohengrin, composta e escrita pelo
alemão Richard Wagner (1813-1883).
Todos sabem que Wagner era o
compositor preferido de Adolf Hitler.
As composições de Wagner eram usadas como trilha sonora da propaganda política
de seu regime sanguinário.
Qualquer semelhança
não é coincidência retórica, como disse Alvim. Aparenta ser um grande apreço
pelo nazismo. Roberto Alvim utilizou, de maneira explícita, as estratégias de
publicidade do tenebroso Joseph Goebbels para se comunicar com os brasileiros.
Você acha que a
República da Rainha Louca aprendeu com as críticas recebidas por fazer alusões ao
nazismo e ao Holocausto? Pois é, sinto lhe dizer que você se enganou. Esse é um
governo que não tem limites.
No dia 10 de maio,
a Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou uma crítica à
imprensa com a frase “O trabalho, a união e a verdade libertarão o
Brasil”. Essa frase guarda muita semelhança ao lema nazista “Arbeit
macht frei” – “O trabalho liberta”. Esse lema é encontrado na
entrada do antigo campo de concentração em Auschwitz.
Como se vê, os
componentes da República da Rainha Louca parecem sentir prazer em desrespeitar,
agredir e desmerecer o sentimento do outro. Estão tornando-se colecionadores de
repúdios do povo judeu e da comunidade mundial. Essas pessoas estão destruindo a imagem do povo
brasileiro mundo afora. Um povo outrora muito querido e reconhecido por suas
amabilidades.
Feliz com essas
atitudes, parece estar a Rainha Louca. Dentre os citados, apenas Roberto Alvim
foi exonerado do cargo. O Bobo da Corte continua prestigiado – usando um jargão
do futebol – tanto que ontem, 29 de maio, ele foi condecorado pelo Presidente com a
Ordem do Mérito Naval, no grau de Grande Oficial. A Rainha Louca manchou a Marinha do Brasil.
A Rainha Louca
lembra-me aqueles pais que presenteiam seus filhos após uma arte. Aqueles pais
que veem o filho fazendo algo que eles deveriam ter feito na suas infâncias e
não tiveram a oportunidade. Prova disso é que junto com o Bobo da Corte, o Presidente
condecorou um dos Deputados Federais citados no inquérito das fake news – Luiz
Philippe de Orleans e Bragança. Dentre os condecorados está, também, o Procurador
Geral da República Augusto Aras.
E assim segue a
história da Republica da Rainha Louca na defesa daqueles que desrespeitam e no
projeto de aparelhar as instituições republicanas. Tudo indica que a PF já foi
aparelhada e o MPF bem próximo de também ser.
Para encerrar,
deixo os versos da bela música do meu conterrâneo Lô Borges e um vídeo do
cantor que teve a participação de vários fãs
"Mensageiro natural
de coisas naturais
Quando eu falava
dessas cores mórbidas
Quando eu falava
desses homens sórdidos
Quando eu falava
desse temporal
Você não escutou
Você não quer
acreditar
Mas isso é tão
normal
Você não quer
acreditar
E eu apenas era
Cavaleiro marginal
lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que
viveu mistérios
Cavaleiro e senhor
de casa e árvores
Sem querer descanso
nem dominical
Cavaleiro marginal
banhado em ribeirão
Conheci as torres…"
Excelente texto! Expõe uma, das muitas sandices cometidas por esse (des)Governo, e contribui para desmoralizar ainda mais a imagem do Brasil no exterior.
ResponderExcluirCom certeza, meu amigo! Estou de acordo.
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