Pesquisar este blog

sábado, 30 de maio de 2020

O Bobo da Corte da Rainha Louca e a “Noite dos Cristais”


O Bobo da Corte da Rainha Louca e a “Noite dos Cristais”
Robson Matos

O Ministro da (des)Educação, também conhecido como o Bobo da Corte da República da Rainha Louca, provocou uma avalanche de críticas contra si ao fazer uma comparação da Operação Fake News com a “Noite dos Cristais”.


Ao dizer que a Operação da PF sobre fake news será lembrada como a “noite dos cristais brasileira”, o Bobo da Corte foi repudiado pela comunidade judaica no Brasil e no Mundo. A Embaixada Israelense apontou que o uso do Holocausto no discurso público banaliza a sua memória e a tragédia do povo judeu.


A Confederação Israelita do Brasil – Conib – emitiu a seguinte nota em relação à desrespeitosa postagem do Bobo da Corte:

“Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e deportação a campos de concentração. As ações do inquérito, por sua vez, se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso. A comparação feita pelo ministro Abraham Weintraub é, portanto, totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias.

A postagem do Bobo da Corte também foi criticada pelo Consul de Israel em São Paulo – Alon Lavi e pela entidade “Judeus pela Democracia”.


Outras entidades que condenaram a postagem do Bobo da Corte foram o Museu do Holocausto em Curitiba e o respeitadíssimo Comitê Judeu Americano (American Jewish Commitee). O Comitê americano postou: “Já é suficiente! O uso repetido da linguagem do Holocausto como armas por funcionários do governo brasileiro é profundamente ofensivo aos judeus do mundo e um insulto às vítimas e sobreviventes do terror nazista. Ele precisa parar imediatamente.


O Bobo da Corte, valendo-se de sua origem judaica, desrespeitou o povo judeu. Ele demonstrou ser desprovido de empatia, sensatez e conhecimento.

Senhor Ministro da (des)Educação, não sou da área de história, mas acho que possuo um pouco mais de conhecimento que Vossa Excelência – o pronome foi colocado em iniciais maiúsculas por exigências das regras ortográficas, mesmo sabendo que o senhor não mereça tal tratamento – e portanto vou ariscar-me a lhe ministrar uma aula grátis sobre a “Noite dos Cristais”, mesmo que sem grande aprofundamento.

O nazismo ascendeu ao poder na Alemanha no ano de 1933. Todavia, o projeto de subjugar e eliminar as “raças inferiores” já era uma ideia de Hitler antes de sua ascensão ao poder. Para implementar seus projetos antissemitas, Hitler precisava despossar e desapropriar os judeus- alemães de todas as suas propriedades e imensas riquezas. Os nazistas empregavam vários métodos para realizar seus projetos antissemitas, dentre eles o pogrom. O termo pogrom, de origem russa, refere-se a um ataque organizado e violento contra determinado grupo.

O pogrom mais chocante foi aquele que ocorreu na madrugada do dia 9 para 10 de novembro de 1938 e ficou conhecido como a “Noite dos Cristais” – Kristallnacht ou Reichkristallnacht. A “Noite dos Cristais” foi um processo de destruição de patrimônios judaicos e atingiu casas, lojas e sinagogas. Os judeus também sofreram agressões que resultaram inclusive em mortes.

A “Noite dos Cristais” consolidou a guinada de violência contra os judeus e abriu o processo de prisão de judeus em campos de concentração. Embora acontecessem alguns ataques violentos, as ações contra os judeus, até então, ocorriam mais nos campos políticos e jurídicos. Esse trágico pogrom sinalizava para os judeus de que a violência contra eles iria aumentar.

Após a realização desse pogrom, cacos de vidros ficaram espalhados pelas cidades alemãs por causa da destruição de vidraças das lojas que pertenciam aos judeus e por isso o nome “Noite dos Cristais”.



O Partido Nazista alemão organizou a “Noite dos Cristais” em resposta ao assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath. O diplomata residia em Paris e foi assassinado por um estudante judeu. Herschel Grynszpan, nascido na Polônia e criado na Alemanha, não aceitava o fato de sua família ter sido expulsa do país. Com a intenção de assassinar o embaixador, o estudante foi até a embaixada alemã em Paris, mas acabou vitimando o diplomata no dia 8 de novembro.

A notícia do atentado espalhou-se e Hitler e Goebbels – ministro da propaganda nazista – usaram esse fato para atacar a comunidade judia. A ideia deles era de fazer com que o ataque aparentasse ser um ataque espontâneo e sem o envolvimento do governo alemão. Assim, a maioria das tropas que participaram da “Noite dos Cristais” não usava uniformes.

Como resultado essa trágica madrugada, registraram-se 520 sinagogas destruídas, a destruição de algo entre 7.500 e 9.000 lojas de judeus, a morte (oficialmente) de 91 pessoas durante os ataques e a prisão e encaminhamento para os campos de concentração de 30 mil pessoas. Mas, o número real de mortos pode ter sido superior a 1000.



Senhor Ministro da (des)Educação, espero que Vossa Excelência tenha conseguido assimilar algum conhecimento sobre a “Noite dos Cristais” e tenha tido a capacidade de entender que a sua comparação foi desrespeitosa e sem nexo. Embora, acredite que o seu problema vai um pouco além da falta de conhecimento, educação e empatia. O seu problema parece ser a falta de limites e uma enorme tendência ao desrespeito das minorias. Sua fala na tragicômica Reunião do Ministério da Rainha Louca demonstra isso. Segundo ele, as minorias têm "privilégios" que precisam acabar.



Os repúdios recebidos pelo Bobo da Corte não foram capazes de lhe trazer à razão e perceber o estrago que ele havia causado. No dia seguinte – 28 de maio – ele voltou a defender o seu direito de falar do Holocausto usando como justificativa a liberdade de expressão. 



O Bobo da Corte parece não entender que a liberdade de uma pessoa termina quando começa a da outra. Ele não conseguiu entender que ele pode fazer uso da sua liberdade de expressão, mas que ao usá-la, pode ser responsabilizado pelo que fala. Sugiro-lhe, senhor Bobo da Corte, uma leitura sobre liberdade de expressão e seus limites (clique aqui).

Mas, o Bobo da Corte não foi o único a fazer referência ao Holocausto, dentre os membros da República da Rainha Louca. Em janeiro desse ano, o então Secretário de Cultura Roberto Alvim divulgou um vídeo que fez referência à fala de Joseph Goebbels – Ministro da Propaganda Nazista.


Alvim disse: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada".
Em um discurso Goebbels disse: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".

Embora pouco audível, Alvim escolheu como fundo musical para o vídeo a ópera romântica Lohengrin, composta e escrita pelo alemão Richard Wagner (1813-1883). Todos sabem que Wagner era o compositor preferido de Adolf Hitler. As composições de Wagner eram usadas como trilha sonora da propaganda política de seu regime sanguinário.

Qualquer semelhança não é coincidência retórica, como disse Alvim. Aparenta ser um grande apreço pelo nazismo. Roberto Alvim utilizou, de maneira explícita, as estratégias de publicidade do tenebroso Joseph Goebbels para se comunicar com os brasileiros.

Você acha que a República da Rainha Louca aprendeu com as críticas recebidas por fazer alusões ao nazismo e ao Holocausto? Pois é, sinto lhe dizer que você se enganou. Esse é um governo que não tem limites.

No dia 10 de maio, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou uma crítica à imprensa com a frase “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”. Essa frase guarda muita semelhança ao lema nazista “Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta”. Esse lema é encontrado na entrada do antigo campo de concentração em Auschwitz.



Como se vê, os componentes da República da Rainha Louca parecem sentir prazer em desrespeitar, agredir e desmerecer o sentimento do outro. Estão tornando-se colecionadores de repúdios do povo judeu e da comunidade mundial. Essas pessoas estão destruindo a imagem do povo brasileiro mundo afora. Um povo outrora muito querido e reconhecido por suas amabilidades.

Feliz com essas atitudes, parece estar a Rainha Louca. Dentre os citados, apenas Roberto Alvim foi exonerado do cargo. O Bobo da Corte continua prestigiado – usando um jargão do futebol – tanto que ontem, 29 de maio, ele foi condecorado pelo Presidente com a Ordem do Mérito Naval, no grau de Grande Oficial. A Rainha Louca manchou a Marinha do Brasil.

A Rainha Louca lembra-me aqueles pais que presenteiam seus filhos após uma arte. Aqueles pais que veem o filho fazendo algo que eles deveriam ter feito na suas infâncias e não tiveram a oportunidade. Prova disso é que junto com o Bobo da Corte, o Presidente condecorou um dos Deputados Federais citados no inquérito das fake news – Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Dentre os condecorados está, também, o Procurador Geral da República Augusto Aras.

E assim segue a história da Republica da Rainha Louca na defesa daqueles que desrespeitam e no projeto de aparelhar as instituições republicanas. Tudo indica que a PF já foi aparelhada e o MPF bem próximo de também ser.


Para encerrar, deixo os versos da bela música do meu conterrâneo Lô Borges e um vídeo do cantor que teve a participação de vários fãs


"Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal

Você não escutou
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar

E eu apenas era
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres…"






2 comentários:

  1. Excelente texto! Expõe uma, das muitas sandices cometidas por esse (des)Governo, e contribui para desmoralizar ainda mais a imagem do Brasil no exterior.

    ResponderExcluir