Empatia é a ordem do dia
Robson Matos
Embora ausente no Dicionário de Sinônimos da Língua Portuguesa da
Academia Brasileira de Letras (2011), a palavra empatia consta no Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa (VOLP) como sendo um substantivo feminino. (Acesse o Volp)
O Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis (acesse aqui) indica o
significado de empatia como sendo:
1 PSICOL Habilidade
de imaginar-se no lugar de outra pessoa.
2 PSICOL Compreensão
dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem.
3 Qualquer
ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma
cultura.
4 Capacidade
de interpretar padrões não verbais de comunicação.
5 Sentimento
que objetos externos provocam em uma pessoa.
Do grego, pathos é entendido como todos os sentimentos aqueles
sentimentos experimentados por uma pessoa, tais como sofrimento, paixão,
tristeza, ira, doença. A adição do prefixo syn- (com) nos leva a sympatheia – “sofrer
juntos” ou “experimentar juntos um sentimento”, donde deriva-se a palavra
simpatia. Ao usarmos o prefixo en- obtemos empatheia, que é entendida como sendo
a capacidade de uma pessoa de colocar-se no lugar de outra, de participar afetivamente
no que a outra sente. Embora empatia tenha um significado muito próximo daquele
de simpatia, fica muito claro que são dois substantivos diferentes. O antônimo
de sympatheia é antipatheia, palavra formada com o prefixo anti- (contra) e que
originou, na língua portuguesa, o vocábulo antipatia. O antônimo de empatia
faz-se pela adição do prefixo negativo a- e temos apatia – falta de interesse
na outra pessoa.
Nesse período da Covid-19 muitas palavras têm invadido nossas cabeças
e enriquecido o nosso vocabulário. Alguns termos que poucas vezes eram usados, vendo sendo constantemente citados. Dentre eles destacamos pandemia, empatia, comorbidades, isolamento social, distanciamento social, grupo de
risco, virologia, epidemiologia, epicentro, achatamento da curva, crescimento
exponencial, etc. só para ficar em alguns.
Dentre todas essas palavras, a mais importante e mais necessária de
ser abraçada e incorporada de forma definitiva em nosso vocabulário e,
principalmente em nossos corações é empatia.
Podemos vencer a pandemia e tenho certeza que venceremos, mas se não tivermos
empatia sairemos dessa crise sanitária para um “novo normal” com o qual não saberemos conviver.
Estamos vivendo um período de muito medo. Estamos experimentando uma
crise sanitária que, muito provavelmente, apenas uma dezena de brasileiros já tenham
vivido algo similar, quando a crise da “gripe espanhola” atingiu o Brasil. Mas, ao que tudo
indica, a crise sanitária atual é de maiores proporções que aquela de 1918.
Vivemos em um período digital no qual as redes sociais já nos
impuseram um certo distanciamento físico. Começamos a achar comum um grupo de
amigos reunidos no bar e, às vezes, conversando muito mais através de seus
aplicativos no celular que com as pessoas ali presentes. Por assim pensar,
poder-se-ia dizer que estávamos um pouco preparados para um período de
distanciamento social. Todavia, isso não é muito verdade. O brasileiro tem por
natureza a convivência social, o contato físico, a conversa olho no olho, a
conversa “jogada fora” em uma mesa de bar e o ato de “bater pernas” por aí.
A tecnologia da comunicação e da transferência de dados não é de toda ruim. Ela tem ajudado a
amenizar um pouco esse período de distanciamento social, imposto na mitigação da pandemia. As novas mídias têm
nos mantido “próximos” de amigos, de familiares, de pessoas amadas e até de
novos amigos feitos durante esse período.
Mas, as redes sociais estão nos mostrando um outro lado também. Um
lado perverso, que já mais imaginei fosse uma característica de tantos
brasileiros. Nosso povo sempre foi caracterizado por ser um povo solidário,
alegre, prestativo e amoroso, mas acima de tudo, empático. O que houve conosco? Está faltando empatia em um
grande número de pessoas em nosso país.
Inúmeros são os exemplos da falta de empatia. É aquele cidadão que não
se preocupa em usar uma máscara, que insiste em não aceitar a necessidade do
isolamento, que insiste em desafiar a mais devastadora pandemia da história
mundial. E o que é pior, muitas dessas pessoas são esclarecidas e, às vezes, até com formação superior.
Sou de opinião de que o principal motivo para a falta de empatia, hoje
observada em um bom número de pessoas, tenha sido a politização do novo
coronavírus. E onde começa essa politização? Não tenho medo em achar que estou
errando ao dizer que ela começa a partir das declarações do Presidente da República
e alguns de seus piores asseclas. O Presidente ficou muito mais engajado no combate a seus possíveis adversários nas Eleições de 2022 que no combate ao novo coronavírus. Ele ficou ensandecido quando viu a popularidade de seu então Ministro da Saúde, Mandetta, e de vários Governadores superarem a sua. A Rainha Louca, como já divulguei aqui nesse
blog (clique aqui) proferiu as frases mais nojentas e desprezíveis já
proferidas durante essa crise sanitária. O terraplanista e tresloucado Ministro
das (desr)Relações Exteriores apelidou o vírus, de forma irresponsável e inconsequente,
de “comunavírus. O Bobo da Corte, vulgarmente conhecido como Ministro da
(des)Educação e o 03 foram responsáveis por criar uma crise diplomática com a
China. Todos esses seguem um guru, que embora viva na Virgínia (EUA), parece
viver em mundo deslocado da Terra, que ele acredita seja plana.
Com o recado mandado por esse clã raivoso e enlouquecido, seus mais
odiosos e agressivos seguidores atacam a todos, até mesmo membros de suas próprias
famílias. Espalham as mais espantosas fakenews, cobram o uso de medicamentos
sem qualquer comprovação de eficácia e menosprezam a existência e a gravidade
do novo coronavírus.
De tal sorte que a politização do novo coronavírus trouxe à realidade
novas “características” para diferir entre esquerda e direita. Se você é uma
pessoa que defende o isolamento social como sendo a forma mais eficiente e
única no combate à Covid-19, você é um esquerdista e/ou comunista – adjetivo que
a Rainha Louca, seus asseclas e seus seguidores mais gostam de usar. Se você
acha que a Covid-19 é apenas uma “gripezinha” e acha que “todos irão morrer um
dia”, você é direitista e coloca o “Brasil acima de todos”, com exceção dos
EUA.
Não restam dúvidas de que o Presidente da República é a pessoa menos empática
no Brasil. Essa sua característica não é novidade para nós. Ele já defendeu a
ditadura, já falou em matar um presidente, já disse que a ditadura matou pouca
gente, já disse a uma deputada que ela não merecia ser estuprada, já menosprezou
e ridicularizou negros e indígenas, já idolatrou um dos maiores torturadores do Brasil e por aí afora. Portanto, não podemos dizer
que estamos surpresos com a sua falta de empatia. O que realmente me
surpreende, e acho que à grande maioria dos brasileiros, é a crescente falta de
empatia por parte da Rainha Louca. Vários são os exemplos dessa escalada. Isso
ficou evidente ao assistirmos o vídeo da Reunião Ministerial realizada no dia
22 de abril. Nesse dia, passávamos de 2.000 óbitos e o Presidente conduziu uma
reunião, teoricamente para tratar da retomada da economia, mas o que se observa
são agressões ao STF, a Governadores, a Prefeitos e até a eles próprios. Trata-se, na reunião, dos temas mais esdrúxulos possíveis e imagináveis, menos de ações para combater
a pandemia no Brasil. (Veja uma análise da Reunião aqui.) O único sinal de uma possível empatia que a Rainha Louca tem demonstrado ultimamente tem sido com seus filhos e amigo. Ele continua na luta incansável de livrar a cara de seus filhos e do desaparecido. Aliás, onde está o Queiroz?
Outra demonstração de falta de empatia é a relutância em adiar o Enem
e depois aceitar adiar por 30 ou 60 dias, quando já passamos dos 60 dias com as
escolas públicas fechadas. O INEP é detentor de um rico banco de dados acerca
do perfil socioeconômico dos inscritos no Enem. A entidade sabe, como ninguém,
que grande parte daqueles que se inscrevem no exame não têm acesso à internet
e/ou possuem um computador para manter seus estudos em dia durante a pandemia.
Esse assunto já foi tratado nesse blog e continuo defendendo o adiamento do
Enem desse ano, por tempo indeterminado, bem como aqueles dos próximos dois anos. (Cliqueaqui para saber os meus motivos.)
Outra que pode ser colocada entre os top três do ranking da falta de
empatia é a Regina Duarte. A infeliz, em uma entrevista à CNN Brasil, debochou
dos mortos e seus familiares. Mas o deboche dela não se referia apenas aos
mortos por Covid-19, mas também àqueles que foram assassinados durante a
Ditadura Militar no Brasil. (Veja o texto aqui.) A infeliz senhora disse que
não iria transformar a página da Secretaria de Cultura, à época comandada por
ela, em um obituário. A desprezível senhora não divulgou qualquer nota de pesar
quando da passagem de grandes nomes da cultura nacional. Nomes considerados,
pela grande maioria de nós, como heróis da música, da literatura e das artes
plásticas e que jamais serão esquecidos, não mereceram uma única sílaba desse ser desprezível que ela é.
Que sirva de exemplo para a Rainha Louca, seus mais nojentos asseclas,
seus odiosos seguidores e, principalmente para a detestável senhora que ocupou,
sem qualquer merecimento a cadeira da Secretaria da Cultura, o que fez os
Jornais O Globo e o The New York Times.
Quando o Brasil atingiu 10 mil óbitos no dia 10 de maio, a edição
impressa do O Globo trouxe em sua capa os nomes das 10 mil vítimas da Covid-19 no
país. Atitude idêntica foi a do The New York Times na sua edição impressa do
dia 24 de maio.
Essas atitudes são classificadas como empatia. Uma parte da população brasileira está precisando entender
o real significado desse substantivo. As estatísticas de infectados, óbitos e curados
não são apenas números, elas são histórias, elas são pessoas. É como versou
Gonzaguinha:
“São histórias que a história
Qualquer dia contará
De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes
espalhadas nesse chão
De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Dessa crença num enorme coração”
Outro grande exemplo de empatia e uma verdadeira lição dada pela excepcional Zélia Duncan. A Regina Duarte disse que não conhecia o Aldyr Blanc. Zélia Duncan ensina para ela que foi ele foi e ainda dá um canja cantando alguns dos maiores dos sucessos de Aldyr Blanc. (Assista o vídeo aqui.) Se esse vídeo não te tocar, cuide-se, você não tem empatia.
Estamos precisando de muita empatia e ainda precisaremos muito dela. É
fundamental que ela nos acompanhe para sempre, até depois da pandemia. Ao final
dessa crise sanitária enfrentaremos o que muitos estão chamando de um “novo normal”. Precisamos
nos preparar para esse novo normal que ainda exigirá que cuidemos um dos outros. Não poderemos nos da as mãos, mas não poderemos "largar os corações um dos outros". Por
um grande período ainda será necessário mantermos o distanciamento social, o
uso de máscaras e principalmente evitar aglomerações. Durante esse período pós
pandemia será ainda mais fundamental entender que a sua liberdade termina onde
começa a do outro e que o seu direito de não ser infectado depende de você não
infectar o outro.
Gostaria de deixar duas sugestões para reflexão:
1. quão empático você é, está sendo e será?
2. não seria oportuno transformar a falta de empatia
em crimes de responsabilidade e hediondo?
Seja empático. Não vamos largar os corações um dos outros.
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