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domingo, 31 de maio de 2020

O sonho de Martin Luther King ainda não virou realidade


O sonho de Martin Luther King ainda não virou realidade
Robson Matos

No dia 28 de agosto de 1963, Martin Luther King fez o seu mais eloquente discurso que marcou gerações. Discursando para mais de 250 mil pessoas em Washington, Luther King disse: “Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.


Passados 57 anos, o sonho de Martin Luther King ainda não se tornou realidade. A discriminação contra latinos e, principalmente negros é uma dura realidade na sociedade estadunidense. A ação brutal da polícia de Minneapolis contra George Floyd expôs séculos de desigualdade social nos EUA.

George Floyd tinha 46 anos e trabalhava como segurança. Ele era descrito como um gigante gentil. Ele foi detido pela Polícia de Minneapolis no dia 25 de maio, supostamente por tentar usar uma nota falsa de US$20. As imagens mostram o policial pressionando o pescoço de George por minutos. George repetiu várias vezes: “Eu não consigo respirar”. O policial manteve-se insensível, inclusive com a mão dentro do bolso. O vídeo a seguir é forte! Seu conteúdo foi considerado inapropriado e caso não goste de cenas de violência, não assista.


A rede de TV NBC obteve vídeos de segurança nas imediações do local do episódio e fica muito claro que George Floyd não ofereceu qualquer resistência, mas mesmo assim ele foi imobilizado de forma cruel e covarde. O policial ignorou os pedidos das pessoas que assistiam a cena e ele teve dois outros cúmplices, seus colegas policiais.


O assassinato cruel de George Floyd gerou uma série de protestos por todo os Estados Unidos que já duram 5 dias e começou a se espalhar pelo Canadá e Europa. A população ignorou a pandemia da Covid-19 e saiu às ruas em várias cidades americanas. Os protestos em Washington provocaram um lockdown na Casa Branca. É importante notar que existe um grande número de brancos nos protestos.


As manifestações atuais não seguem o princípio de não violência defendidos por Martin Luther King, mas demonstram a revolta com mais um de inúmeros assassinatos de negros nos EUA. Prédios públicos e viaturas da Polícia estão sendo incendiadas, saques a lojas comerciais têm sido uma constância e ataques violentos contra os policiais são observados  constantemente. Aparentemente, esses atos de violência têm sido praticados por uma minoria.

A revolta dos cidadãos estadunidense eclodiu em função do policial que assassinou George Floyd ter sido indicado por homicídio culposo – aquele sem intenção de matar. Outro fator que gerou grande revolta foram dois tuítes do Presidente Donald Trump incitando a violência. Os dois tuítes foram marcados pelo Twitter por violarem as regras da empresa. Em um deles, Trump escreveu: “Esses bandidos estão desonrando a memória de George Floyd, e eu não deixarei isso acontecer. Acabei de falar com o governador Tim Walz e disse que os militares estão com ele o tempo todo. Qualquer dificuldade, assumiremos o controle, mas, quando os saques começarem, os tiros vão começar”.
O Presidente Donald Trump está insuflando ainda mais os protestos. Ontem, Trump repetiu a frase dita por um Chefe de Polícia racista, Walter Headley de Miami. Em 1967, Headley prometeu responder com tiros se houvesse saques. Esse tem sido o caminho escolhido pelo Presidente dos EUA.

A sociedade estadunidense está demonstrando não aceitar mais o assassinato, pela polícia, de cidadãos das classes minoritárias. Na grande maioria das vezes os policiais são inocentados pelas mortes. Ações violentas contra os negros nos EUA é uma constância e sempre ocorrem protestos contra o modus operandi da Polícia. Entretanto, poucas mudanças têm ocorrido. O último grande protesto desse tipo ocorreu em 1992 em Los Angeles quando um homem negro foi espancando quase até à morte por dirigir em alta velocidade. Embora naquela época os protestos tenham sido enormes, eles ficaram circunscritos à região de Los Angeles. Dessa vez, os protestos tomaram proporções incontroláveis e já ocorrem em mais de 30 cidades dos EUA.

Em 2016, durante uma entrevista a um famoso programa da TV estadunidense, o ator Hollywoodiano Will Smith afirmou: “O racismo não está aumentando ele está sendo filmado”. Outro a denunciar o racismo nos EUA foi o diretor Spike Lee. Em um filme de 1989 – Faça a coisa certa – Lee retratava o racismo na sociedade estadunidense. O tema voltou a ser retrato em seu premiado filme de 2018 – Infiltrado na Klan – o qual vale a pena assistir.

Vejo o assassinato de George Floyd cruel, hediondo e inaceitável. Entretanto, esse episódio deveria nos servir como um alerta para o que temos assistido na sociedade brasileira. O assassinato, pela polícia brasileira, de jovens inocentes é uma constante. Inúmeros são os casos ocorridos e a sociedade brasileira torna-se cada vez mais insensível em relação a isso.

É impossível não fazer uma correlação entre a violência perpetrada pela Polícia estadunidense com aquela sendo conduzida pela Polícia brasileira. O pior de tudo é que a Polícia brasileira conta com o apoio explícito de muitos governantes.

O Estado do Rio de Janeiro concentra o maior percentual de mortes causadas por policiais. O atual Governador do Estado, Wilson Witzel, sempre defendeu “atirar na cabecinha de bandidos” e compactua com o pensamento da Rainha Louca de que “bandido bom é bandido morto”.

Witzel deve ter se esquecido do ocorrido com um morador da comunidade Chapéu da Mangueira em setembro de 2018. O garçom Rodrigo Alexandre da Silva foi morto por tiros disparados pela polícia. Chovia no início da noite do dia 17 de setembro daquele ano, quando os policiais confundiram um guarda-chuvas com fuzil e um “canguru” com um colete a prova de balas. Canguru é aquele dispositivo utilizado para transportar bebês. Alexandre tinha descido para esperar a mulher e os filhos ao pé da ladeira.

Como defender “atirar na cabecinha” se a polícia não tem treinamento para distinguir um guarda-chuvas de fuzil?

Em abril de 2019, o carro de um músico foi fuzilado por militares que faziam uma blitz em Guadalupe. Apenas um tenente do Exército disparou 77 tiros de fuzil. Os 12 militares envolvidos respondem por homicídio qualificado e omissão de socorro junto ao Tribunal Militar, mas respondem ao processo em liberdade. No fuzilamento, foram mortos o músico e um catador de latinhas que tentou ajudar e também morreu.

Em maio de 2019, o Governador Witzel sobrevoou uma comunidade de Angra dos Reis em helicópteros da Polícia Civil que disparavam tiros a esmo. Segundo o Governador, aquela era uma operação da Coordenação de Recursos Especiais – Core – para “dar fim à bandidagem. Entretanto, os disparos atingiram algumas tendas azuis no Monte de Campo Belo. Essas tendas são pontos de apoio para a peregrinação de evangélicos e foram confundidas com casamatas do tráfico.


Outra vítima das atrocidades da Polícia do Witzel ocorreu no Complexo do Alemão. A garota Ágatha, de apenas 8 anos, estava voltando para casa, acompanhada da mãe, dentro de uma Kombi. Segundo testemunhas, um policial fez um único disparo contra uma moto e o tiro atingiu as costas da pequena Ágatha. Aparentemente não havia confrontos entre a Polícia e bandidos.

A Polícia fez mais uma vítima no último dia 18 de maio. Durante uma operação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Federal no complexo do Salgueiro em São Gonçalo, o adolescente João Pedro de 14 anos foi atingido dentro da casa dos tios. A operação era da Polícia Federal e envolvia, novamente, o Core com o apoio aéreo da Polícia Militar. O objetivo era cumprir dois mandados de busca e apreensão contra chefes do tráfico na região. Entretanto, ninguém foi preso. Segundo testemunhas, os policiais chegaram no terreno e atiraram duas granadas e em seguida atiraram nas janelas. A casa onde brincavam João Pedro e seus amigos foi atingida com mais de 70 tiros de fuzil. Segundo a perícia, os projéteis têm o mesmo calibre dos fuzis utilizados pela polícia e João Pedro foi atingido pelas costas.

O Atlas da Violência aponta que no Brasil, em 2019, a polícia matou uma pessoa a cada 90 minutos. Entre 2012 e 2019 a violência policial subiu 166%. Em abril deste ano, durante a pandemia do novo coronavírus, a Polícia carioca cometeu 177 homicídios. Isso representa 42,7% de aumento em relação ao mesmo mês do ano passado.

Contudo, a violência policial não fica circunscrita ao Rio de Janeiro. Em dezembro de 2019, a Polícia invadiu uma comunidade de Paraisópolis em São Paulo para encerrar um baile funk e 9 pessoas foram mortas.

Como nos EUA, os mortos têm cor, são negros, em sua maioria. A violência da polícia está interrompendo sonhos de nossos jovens que, em função da desigualdade social, têm pouco acesso à saúde e educação de qualidade. Os moradores das comunidades mais carentes do Brasil precisam de cuidados. Eles não precisam de projéteis de fuzis.


A sociedade brasileira, infelizmente se acostumou com os homicídios violentos cometidos pela Polícia!

A violência no Brasil tem sido constantemente incitada pelas autoridades desse país. O maior chamamento foi aquele feito pela Rainha Louca, que desde à época da campanha eleitoral fala em armar a população civil para conter a violência. Na tragicômica Reunião Ministerial de sua República, a Rainha Louca falou em armar a população para que o povo possa lutar contra o isolamento social.

Fica a cada dia mais explícito que a Rainha Louca, com seus discursos de ódio, fez eclodir no Brasil o racismo e a discriminação de uma forma explícita. A sociedade brasileira sempre foi racista e discriminatória, porém isso era demonstrado de maneira velada. Com o incentivo da autoridade maior do país, essas pessoas sentiram-se protegidas em desafiar as leis.

Os milicianos acampados em Brasília e que se autodenominam “grupo dos 300”, embora contem com pouco mais de 50 integrantes, representam claramente a eclosão do racismo no Brasil. A manifestação realizada por eles, na noite de ontem, em frente ao STF, nos remete às passeatas da Ku Klus Khan, realizadas no século XIX nos EUA.



O “grupo dos 300” parece ser uma cópia fiel do grupo paramilitar estadunidense MAGA – Make America Great Again. MAGA é um slogan de campanha do Trump e acabou gerando a criação de grupos paramilitares em defesa do Presidente. Esse grupo recentemente invadiu a Câmara Legislativa de Michigan exigindo o fim do isolamento social. Eles portavam armamento pesado para intimidar os legisladores.

Não tenho dúvidas de que, ao fim da pandemia, surgirão várias manifestações pedindo o impeachment da Rainha Louca e em defesa da democracia. Meu grande temor será um ataque sangrento por parte desses milicianos bolsonaristas. As cidades brasileiras podem ser transformadas em campos de batalha.

O temor da Rainha Louca era que o Brasil virasse uma Venezuela. Acredito que o Brasil está virando um país de extrema direita com contribuições do racismo estadunidense, do autoritarismo da Hungria e do militarismo da Venezuela.

Vamos aproveitar o exemplo da sociedade estadunidense. Lá os brancos têm feito uma corrente e se colocam entre a polícia e os negros que participam das manifestações. Conclamo que nós, democratas, façamos uma corrente para proteger a nossa tão jovem democracia contra as ameaças de um golpe e contra a eclosão do racismo no Brasil. Não vamos largar os corações uns dos outros, já que durante a pandemia é aconselhável não darmos as mãos um dos outros.


Encerro o texto de hoje com o poema do pastor Luterano alemão Martin Niemöller e repetindo o que disse Martin Luther King. Niemöller foi preso duas vezes sob a acusação de usar o púlpito da Igreja para proferir palavras contra o regime nazista. Foi finalmente condenado, porém a Justiça entendeu que a pena já havia sido cumprida pelo longo período de sua prisão preventiva. A decisão não agradou a Hitler, que o enviou para o campo de concentração.

“Primeiro levaram os comunistas,
Mas não falei, por não ser comunista.
Depois, perseguiram os judeus,
Nada disse então, por não ser judeu,
Em seguida, castigaram os sindicalistas
Decidi não falar, porque não sou sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos,
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Nessa altura, já não restava nenhuma voz,
Que, em meu nome, se fizesse ouvir”.

Não sou negro, mas não me calei. Jamais me calarei enquanto um irmão estiver sob ameaça, seja ele negro, índio, homossexual, transexual, pobre, cigano, etc.

Eu tenho um sonho! Sonho com o fim da desigualdade social no Brasil e no Mundo. Sonho com o fim do massacre das minorias no Brasil e no Mundo.




sábado, 30 de maio de 2020

O Bobo da Corte da Rainha Louca e a “Noite dos Cristais”


O Bobo da Corte da Rainha Louca e a “Noite dos Cristais”
Robson Matos

O Ministro da (des)Educação, também conhecido como o Bobo da Corte da República da Rainha Louca, provocou uma avalanche de críticas contra si ao fazer uma comparação da Operação Fake News com a “Noite dos Cristais”.


Ao dizer que a Operação da PF sobre fake news será lembrada como a “noite dos cristais brasileira”, o Bobo da Corte foi repudiado pela comunidade judaica no Brasil e no Mundo. A Embaixada Israelense apontou que o uso do Holocausto no discurso público banaliza a sua memória e a tragédia do povo judeu.


A Confederação Israelita do Brasil – Conib – emitiu a seguinte nota em relação à desrespeitosa postagem do Bobo da Corte:

“Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e deportação a campos de concentração. As ações do inquérito, por sua vez, se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso. A comparação feita pelo ministro Abraham Weintraub é, portanto, totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias.

A postagem do Bobo da Corte também foi criticada pelo Consul de Israel em São Paulo – Alon Lavi e pela entidade “Judeus pela Democracia”.


Outras entidades que condenaram a postagem do Bobo da Corte foram o Museu do Holocausto em Curitiba e o respeitadíssimo Comitê Judeu Americano (American Jewish Commitee). O Comitê americano postou: “Já é suficiente! O uso repetido da linguagem do Holocausto como armas por funcionários do governo brasileiro é profundamente ofensivo aos judeus do mundo e um insulto às vítimas e sobreviventes do terror nazista. Ele precisa parar imediatamente.


O Bobo da Corte, valendo-se de sua origem judaica, desrespeitou o povo judeu. Ele demonstrou ser desprovido de empatia, sensatez e conhecimento.

Senhor Ministro da (des)Educação, não sou da área de história, mas acho que possuo um pouco mais de conhecimento que Vossa Excelência – o pronome foi colocado em iniciais maiúsculas por exigências das regras ortográficas, mesmo sabendo que o senhor não mereça tal tratamento – e portanto vou ariscar-me a lhe ministrar uma aula grátis sobre a “Noite dos Cristais”, mesmo que sem grande aprofundamento.

O nazismo ascendeu ao poder na Alemanha no ano de 1933. Todavia, o projeto de subjugar e eliminar as “raças inferiores” já era uma ideia de Hitler antes de sua ascensão ao poder. Para implementar seus projetos antissemitas, Hitler precisava despossar e desapropriar os judeus- alemães de todas as suas propriedades e imensas riquezas. Os nazistas empregavam vários métodos para realizar seus projetos antissemitas, dentre eles o pogrom. O termo pogrom, de origem russa, refere-se a um ataque organizado e violento contra determinado grupo.

O pogrom mais chocante foi aquele que ocorreu na madrugada do dia 9 para 10 de novembro de 1938 e ficou conhecido como a “Noite dos Cristais” – Kristallnacht ou Reichkristallnacht. A “Noite dos Cristais” foi um processo de destruição de patrimônios judaicos e atingiu casas, lojas e sinagogas. Os judeus também sofreram agressões que resultaram inclusive em mortes.

A “Noite dos Cristais” consolidou a guinada de violência contra os judeus e abriu o processo de prisão de judeus em campos de concentração. Embora acontecessem alguns ataques violentos, as ações contra os judeus, até então, ocorriam mais nos campos políticos e jurídicos. Esse trágico pogrom sinalizava para os judeus de que a violência contra eles iria aumentar.

Após a realização desse pogrom, cacos de vidros ficaram espalhados pelas cidades alemãs por causa da destruição de vidraças das lojas que pertenciam aos judeus e por isso o nome “Noite dos Cristais”.



O Partido Nazista alemão organizou a “Noite dos Cristais” em resposta ao assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath. O diplomata residia em Paris e foi assassinado por um estudante judeu. Herschel Grynszpan, nascido na Polônia e criado na Alemanha, não aceitava o fato de sua família ter sido expulsa do país. Com a intenção de assassinar o embaixador, o estudante foi até a embaixada alemã em Paris, mas acabou vitimando o diplomata no dia 8 de novembro.

A notícia do atentado espalhou-se e Hitler e Goebbels – ministro da propaganda nazista – usaram esse fato para atacar a comunidade judia. A ideia deles era de fazer com que o ataque aparentasse ser um ataque espontâneo e sem o envolvimento do governo alemão. Assim, a maioria das tropas que participaram da “Noite dos Cristais” não usava uniformes.

Como resultado essa trágica madrugada, registraram-se 520 sinagogas destruídas, a destruição de algo entre 7.500 e 9.000 lojas de judeus, a morte (oficialmente) de 91 pessoas durante os ataques e a prisão e encaminhamento para os campos de concentração de 30 mil pessoas. Mas, o número real de mortos pode ter sido superior a 1000.



Senhor Ministro da (des)Educação, espero que Vossa Excelência tenha conseguido assimilar algum conhecimento sobre a “Noite dos Cristais” e tenha tido a capacidade de entender que a sua comparação foi desrespeitosa e sem nexo. Embora, acredite que o seu problema vai um pouco além da falta de conhecimento, educação e empatia. O seu problema parece ser a falta de limites e uma enorme tendência ao desrespeito das minorias. Sua fala na tragicômica Reunião do Ministério da Rainha Louca demonstra isso. Segundo ele, as minorias têm "privilégios" que precisam acabar.



Os repúdios recebidos pelo Bobo da Corte não foram capazes de lhe trazer à razão e perceber o estrago que ele havia causado. No dia seguinte – 28 de maio – ele voltou a defender o seu direito de falar do Holocausto usando como justificativa a liberdade de expressão. 



O Bobo da Corte parece não entender que a liberdade de uma pessoa termina quando começa a da outra. Ele não conseguiu entender que ele pode fazer uso da sua liberdade de expressão, mas que ao usá-la, pode ser responsabilizado pelo que fala. Sugiro-lhe, senhor Bobo da Corte, uma leitura sobre liberdade de expressão e seus limites (clique aqui).

Mas, o Bobo da Corte não foi o único a fazer referência ao Holocausto, dentre os membros da República da Rainha Louca. Em janeiro desse ano, o então Secretário de Cultura Roberto Alvim divulgou um vídeo que fez referência à fala de Joseph Goebbels – Ministro da Propaganda Nazista.


Alvim disse: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada".
Em um discurso Goebbels disse: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".

Embora pouco audível, Alvim escolheu como fundo musical para o vídeo a ópera romântica Lohengrin, composta e escrita pelo alemão Richard Wagner (1813-1883). Todos sabem que Wagner era o compositor preferido de Adolf Hitler. As composições de Wagner eram usadas como trilha sonora da propaganda política de seu regime sanguinário.

Qualquer semelhança não é coincidência retórica, como disse Alvim. Aparenta ser um grande apreço pelo nazismo. Roberto Alvim utilizou, de maneira explícita, as estratégias de publicidade do tenebroso Joseph Goebbels para se comunicar com os brasileiros.

Você acha que a República da Rainha Louca aprendeu com as críticas recebidas por fazer alusões ao nazismo e ao Holocausto? Pois é, sinto lhe dizer que você se enganou. Esse é um governo que não tem limites.

No dia 10 de maio, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou uma crítica à imprensa com a frase “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”. Essa frase guarda muita semelhança ao lema nazista “Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta”. Esse lema é encontrado na entrada do antigo campo de concentração em Auschwitz.



Como se vê, os componentes da República da Rainha Louca parecem sentir prazer em desrespeitar, agredir e desmerecer o sentimento do outro. Estão tornando-se colecionadores de repúdios do povo judeu e da comunidade mundial. Essas pessoas estão destruindo a imagem do povo brasileiro mundo afora. Um povo outrora muito querido e reconhecido por suas amabilidades.

Feliz com essas atitudes, parece estar a Rainha Louca. Dentre os citados, apenas Roberto Alvim foi exonerado do cargo. O Bobo da Corte continua prestigiado – usando um jargão do futebol – tanto que ontem, 29 de maio, ele foi condecorado pelo Presidente com a Ordem do Mérito Naval, no grau de Grande Oficial. A Rainha Louca manchou a Marinha do Brasil.

A Rainha Louca lembra-me aqueles pais que presenteiam seus filhos após uma arte. Aqueles pais que veem o filho fazendo algo que eles deveriam ter feito na suas infâncias e não tiveram a oportunidade. Prova disso é que junto com o Bobo da Corte, o Presidente condecorou um dos Deputados Federais citados no inquérito das fake news – Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Dentre os condecorados está, também, o Procurador Geral da República Augusto Aras.

E assim segue a história da Republica da Rainha Louca na defesa daqueles que desrespeitam e no projeto de aparelhar as instituições republicanas. Tudo indica que a PF já foi aparelhada e o MPF bem próximo de também ser.


Para encerrar, deixo os versos da bela música do meu conterrâneo Lô Borges e um vídeo do cantor que teve a participação de vários fãs


"Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal

Você não escutou
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar

E eu apenas era
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres…"






sexta-feira, 29 de maio de 2020

A Rainha Louca sufoca o isolamento social


A Rainha Louca sufoca o isolamento social
Robson Matos

Parafraseando um dos mais importantes jornais do mundo, o Le Monde, “há algo de podre na República da Rainha Louca”.

No dia 22 de maio a OMS declarou a América Latina como sendo o novo epicentro mundial da Covid-19 e afirmou que o Brasil e o país mais afetado pela doença. O Brasil já é o segundo pais em número de casos confirmados, já são mais de 440 mil pessoas infectadas e o número de mortes passa de 26 mil. O país, após 3 meses de pandemia, está registrando em torno de 1.000 mortes diárias. Além disso, o Brasil está agindo às cegas em relação ao combate à pandemia. O número de testes ainda é muito baixo – 4.105 testes por 1 milhão de pessoas. O Brasil só testa mais que outros seis países na América Latina.

A opinião de cientistas brasileiros é a de que ainda não atingimos o pico da curva epidêmica e que o isolamento social ainda é a única solução plausível e exequível para que o sistema de saúde não entre em colapso.

Não obstante, prefeitos e governadores estão agindo às cegas e trabalhando a reabertura da economia. Muitos desses prefeitos vinham atuando de forma responsável e sempre se baseando na opinião de comitês científicos criados para o combate a pandemia. De repente, não mais que de repente, tudo parece ter mudado. Vários governadores e prefeitos começaram a apresentar seus planos de relaxamento do isolamento social.

O Governador do Amazonas anunciou que deve reabrir o comércio a partir de 1 de junho e afirma que isso dependerá do número de casos. Todos sabemos que o sistema hospitalar do Amazonas está em colapso e que Manaus é a única cidade do estado que conta com estrutura hospitalar adequada para o tratamento da Covid-19.

O Prefeito do Rio de Janeiro namora há semanas com a reabertura do comércio na cidade e decidiu listar os cultos religiosos como atividade essencial. A reabertura de templos religiosos deve ser por pressão desses líderes religiosos que vivem de extorquir dinheiro de seus pobres fiéis e durante esse período de isolamento social essa possibilidade se esvaiu. O plano de flexibilização do Crivella vem em meio à Operação Placebo realizada pela PF no Estado do Rio (clique aqui para ver uma análise da operação). O número de casos no Rio de Janeiro não para de crescer e já existem inúmeros pacientes indo a óbito por falta de atendimento adequado. O Crivella decidiu mudar o método de dados que alimentam as estatísticas na cidade. Desde o dia 26 de maio, só entram na estatísticas de óbitos aquelas pessoas cujo atestado conste a palavra Covid-19. Caso o resultado do teste para confirmar a doença não esteja disponível antes da emissão do atestado de óbito, essa morte não sera computada como sendo por Covid-19. Uma decisão estranha e controversa que pode demonstrar uma clara intenção de maquiar os dados para justificar a retomada das atividades na cidade. O Prefeito de Duque de Caxias decidiu pela abertura no comércio no dia 25 de maio e, felizmente, teve uma decisão contrária emitida pela Justiça do Estado.

O Governador de São Paulo anunciou que a flexibilização do isolamento no estado será heterogênea e apontou para um “isolamento inteligente”. Esse termo foi anunciado pelo ex-Ministro Coveiro em uma entrevista à Globo News no último domingo e parece ter soado bem nos ouvidos do Governador Dória. A proposta de flexibilizarão do isolamento que foi apresentada, de inteligente parece não ter nada. Enquanto a capital do estado encontra-se na chamada zona amarela, os outros Municípios que compõem a Região Metropolitana estão na chamada zona laranja. É sabido que muitos que trabalham na cidade de São Paulo moram nas cidades vizinhas. O aumento do trânsito entre as zonas amarela e laranja, com certeza, aumentará o índice de contágio. Há de se observar, também, que o número de casos no interior do estado de São Paulo cresce de maneira assustadora.

O prefeito de Belo Horizonte, que vinha servindo de exemplo no combate à pandemia, decidiu pela abertura gradual do comércio na cidade. Observou-se que a taxa de isolamento caiu de 53% para 39% no primeiro dia da abertura do comércio. É uma queda grande e preocupante. Embora a cidade apresente baixo grau de ocupação de leitos de UTI, não temos dados do índice de infecção em BH em função do baixo grau de testagem e o número de casos por lá não para de crescer.

No caminho do relaxamento do isolamento social podemos contar inúmeros prefeitos Brasil afora. No momento que observamos a clara interiorização da pandemia no Brasil, assistimos o isolamento social sendo relaxado em várias cidades de pequeno porte, com poucas condições adequadas de tratamento da Covid-19. A Fiocruz apresentou uma Nota Técnica em 02 de maio mostrando o processo de interiorização (clique aqui).

Em comum observarmos em algumas cidades de pequeno e médio porte a população agindo como se estivessem vivendo em um período que não houvesse uma pandemia. Ruas cheias, comércios não essenciais abertos e muitas pessoas agindo como se em férias estivessem. Muitas pessoas acham que o uso de máscaras e álcool em gel o transformam em verdadeiros super-heróis.

Mas, o que leva prefeitos e governadores no sentido do relaxamento do isolamento social?

Acho que vários motivos podem ser elencados para justificar essa tendência em relaxar o isolamento social. O primeiro desses motivos é, sem qualquer sombra de dúvidas, a falta de um comando unificado entre os entes da federação. Caberia ao Ministério da Saúde organizar as ações para o enfrentamento da pandemia. No entanto, assistimos um Ministro da Saúde sendo exonerado (veja aqui) e outro pedindo exoneração, mesmo antes de mostrar a que veio (veja aqui), durante a crise sanitária. Atualmente existe um militar, sem formação na área de saúde, no comando do Ministério e assessorado por mais de uma dezena de militares, dentre os quais apenas um com formação na área de saúde (veja aqui). Diferentemente de países como Portugal, Uruguai, Argentina, etc, o Brasil foi incapaz de uma unificação política em torno do combate à pandemia. Até mesmo em Israel, que passa por uma crise política gravíssima com o Primeiro Ministro respondendo a processo na Justiça, houve uma unificação em torno do combate à pandemia.

Outro motivo a ser elencado é o que diz respeito aos movimentos erráticos da Rainha Louca, seja através de suas frases infelizes, desumanas, desqualificadas e com total falta de empatia (veja aqui) ou pelos constantes “passeios” provocando aglomerações. Essa atitude foi condenada pelos maiores jornais, revistas e até periódicos científicos do mundo (veja aqui). É evidente que a maior autoridade de um país serve como exemplo para a população. O exemplo que a Rainha Louca tem passado é o seguinte: “se o Presidente pode, eu também posso”. Essa é uma atitude extremamente infeliz por parte da maior autoridade brasileira.

Não podemos também esquecer a insana defesa do uso da cloroquina (veja aqui). Para a Rainha Louca a cloroquina teria um efeito similar daquele que a kriptonita tem para o super-homem. Os diversos discursos em defesa do uso da cloroquina podem ter dado a falsa impressão para a população de que a cura era possível, logo não haveria a necessidade de tanto temor.

Por último, mas talvez o mais importante dos motivos, está a questão econômica. Betinho sempre disse: “a fome tem pressa”! A Rainha Louca não teve pressa em fazer com que o auxílio emergencial chegasse a quem dele depende. O governo se agarrou a burocracias e em momento algum teve a humildade de buscar a expertise de ONGs e de especialistas com conhecimento no processo de distribuição de renda. O tão anunciado programa de crédito a pequena e médias empresas não chegou à ponta. As exigências apresentadas aos tomadores de créditos são imensas e assistimos a um aumento do número inacreditável de demissões.

No início de abril o Clube de Diretores Lojistas de Belo Horizonte - CDL/BH fez uma campanha para salvar o comércio, mas em nenhum momento clamou pela abertura das lojas. A entidade foi responsável e entendeu a gravidade da pandemia. O CDL/BH defendia uma política econômica para salvar empregos. Eles, infelizmente não foram atendidos.


O Tchutchuca ou, caso prefira, Ministro do Liberalismo anuncia, na tragicômica Reunião Ministerial da República da Rainha Louca, que o Brasil só está atrás dos EUA no socorro à economia. Com certeza o Tchutchuca vive em um mundo paralelo àquele no qual vivemos. A grande maioria dos países têm injetado muito mais dinheiro na economia em relação ao PIB que o Governo Brasileiro. Não podemos perder de vista, também, que a maioria dos anúncios feitos ainda não saíram do papel. Ele disse, também, que irão ganhar dinheiro salvando as grandes empresas e  que  perderão com as pequenas empresas. Mas, não disse quem são esses que irão ganhar. Prefiro, mesmo que esteja sendo inocente, acreditar que ele tenha se referido ao Governo como sujeito da frase. Fica subtendido que o Tchutchuca despreza as pequenas empresas, esquecendo-se que essas são um forte motor na economia brasileira. São as micro e pequenas empresas as que mais empregam no país.


A Rainha Louca, durante a mesma reunião, critica o Congresso ("aquele povo do lado de lá") em relação às iniciativas de Deputados e Senadores para mitigar a crise econômica que estar por vir.


Dentro da área econômica, está muito claro que a Rainha Louca reluta em socorrer Estados e Municípios. A Câmara e o Senado aprovaram no último dia 6 de maio o socorro a Estados e Municípios e a sanção do Presidente da República só foi publicada no dia 27 de maio. Lembre-se que, por exigência do Tchutchuca, Estados e Municípios estarão proibidos de conceder reajustes aos seus servidores. Prudentemente, a Rainha Louca concedeu, antes de sancionar a Lei, um reajuste aos Policiais Federais e fez o repasse, conforme a Legislação exige, o repasse para que o Governo do Distrito Federal pudesse conceder reajuste aos policiais e bombeiros do DF.

Em suma, o investimento por parte do Governo Federal não passou de propaganda!

Fica, pois, muito claro que a Rainha Louca tem sido responsável pelo movimento de relaxamento do isolamento que estamos assistindo.

Está muito claro que a Rainha Louca está ao lado do novo coronavírus e, muito provavelmente, pretende levar à morte muito mais que os 30 mil que ele achava que deveriam ter morrido durante a Ditadura Militar.