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sexta-feira, 17 de abril de 2020

O que motivou a troca do Ministro da Saúde?

O que motivou a troca do Ministro da Saúde?
Robson Matos

Aparentemente, foi trocar seis por meia dúzia. Tanto Mandetta quanto Teich são favoráveis ao isolamento social horizontal e só vislumbram um relaxamento desse isolamento com base em dados científicos. Mandetta, mais sincero, dizia no relaxamento após análises dos dados epidemiológicos. Teich, mais utópico e lunático, fala em um relaxamento após testagem. Pois bem, o Brasil continua testando 296 pessoas a cada 1 milhão (aproximadamente 63 mil pessoas testadas). A testagem de 10% da população (percentual inseguro para o relaxamento do isolamento) significa testar 21 milhões de brasileiros. Onde acharemos esse número absurdo de testes? Não se esqueça que o liberalismo e a globalização destruíram o parque industrial brasileiro.
Sob meu ponto de vista, Mandetta não é herói. Mandetta foi a favor da EC95/2016 (a emenda do teto de gastos), defendeu o desmonte do SUS, defendeu a criação de um plano de saúde complementar de baixo custo, dentre outras medidas retiradas de seu saquinho de maldades, antes da chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Mandetta fez um bom trabalho no combate à pandemia do coronavírus no Brasil? Lógico que fez. Não há como negar. O resultado de seu trabalho deve ser engrandecido com base nos seguintes fatores:
1. ele se apoiou em servidores de carreira do MS, de grande competência, que conhecem todos os meandros do SUS;
2. ele buscou o apoio de renomados cientistas brasileiros e atuou com base nas diretrizes apontadas por eles;
3. ele conseguiu aglutinar governadores e prefeitos de diferentes campos políticos ao seu lado e com eles trabalhar coletivamente;
4. ele conhece o cotidiano do Legislativo brasileiro e nele buscou apoio político e financeiro para as ações necessárias ao combate à pandemia;
5. ele buscou agir com transparência e sinceridade, na maior parte das vezes. Quando começou tentar agradar o presidente, para se manter no cargo, começou a se perder um pouco;
6. fez uma política de enfrentamento (absurda a meu ver) contra o próprio chefe do executivo.
Acredito ser consenso que a queda do Mandetta não está ligada à condução do trabalho do MS no combate à pandemia. O Mandetta caiu por discordar da mente minúscula de um "falso militar" que combate a ciência. Não se esqueçam que o Exército Brasileiro sempre foi iluminista! O Mandetta caiu porque, diferentemente do seu chefe apostava na aglutinação de forças contra um inimigo comum, o novo coronavírus. Como o seu chefe sempre fez política com base no conflito, ele se tornou um enorme problema. O Mandetta se "aliou" a dois "inimigos" do presidente, os governadores de SP e RJ, pois eram os estados mais atacados pelo inimigo comum. Todavia, na cabeça de um psicopata, o novo coronavírus não é um inimigo, afinal, ele não pode ser candidato pelas leis brasileiras.O Mandetta caiu porque o presidente não suporta alguém ter mais sucesso que ele dentro do seu governo. O presidente é egoísta, invejoso e raivoso. Ele precisa demonstrar que tem poder, para isso tem que usar a "força" porque cérebro ele não tem.
Fato é: Madetta caiu! Não caiu um herói! Caiu um médico que permaneceu fiel ao juramento que fez.
A grande alegria que tiro da queda do Mandetta foi ouvi-lo defender o SUS, os servidores públicos federais e a ciência. Essa sua cruzada no combate à pandemia lhe ensinou isso. Espero que ele agora leve esses aprendizados para a vida!
Sai o ortopedista (Mandetta) e entra o oncologista (Teich). Sai o médico e político e entra o médico.
Não vejo com bons olhos o desembarque de Teich no MS. Suas credenciais não o favorecem muito:
1. indicação de Paulo Guedes, rei dos liberais. Podemos, passada a pandemia, assistir à privatização do SUS e a implementação do modelo estadunidense de saúde no Brasil. Isso é muito preocupante;
2. tem o apoio do Secretário de Comunicação do Governo Federal e todos sabemos quem o colocou lá;
3. nenhuma experiência no setor público de saúde;
4. inexpressividade na comunidade médica e científica fora do estado do Rio (o cidadão não possui currículo Lattes);
5. inexpressividade política, logo incapacidade para articular com governadores, prefeitos e parlamentares
Soma-se a essas credenciais, o fraco pronunciamento dado quando de sua indicação:
1. ele deixou claro que os dados do MS são confusos. Começou criticando o trabalho de uma pessoa que tem o respaldo da sociedade. Ato para agradar o presidente;
2. falou muito mais em salvar a economia que salvar vidas. Ato para agradar o presidente;
3. declarou total sintonia com o pensamento do presidente.
Em suma, teremos um soldado raso ocupando o MS que tem como chefe um Capitão (expulso do Exército) que às vezes é comandado por Generais outras vezes pelo Gabinete do Ódio.
Antes que você me jogue pedras, já lhe digo: não sou da turma do quanto pior melhor. Sou da turma que ainda utiliza o cérebro para fazer uma análise da conjuntura de um país que caminha para uma grande tragédia.

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