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terça-feira, 30 de junho de 2020

Fraudatelli, o Quase Ministro!


Fraudatelli, o Quase Ministro!

Robson Matos


Depois de obter o título de “Quase Doutor” pela Universidade Nacional de Rosário na Argentina, Decotelli agora recebe o título de Quase Ministro. E por que ele caiu sem ter entrado?

Muitos, principalmente aqueles que não conhecem a academia, tentaram minimizar as críticas em relação às fraudes que Decotelli promoveu em seu Currículo Lattes. Como exemplo, cito um trecho da fala da Fátima Oliveira no programa Globo News Em Pauta, no dia em quem surgiu a denúncia de que Fraudatelli não havia concluído seu doutoramento:


Fátima, não foi uma falha tola! Foi uma falha grave! Concordo que para ocupar o cargo de Ministro da Educação não seja necessário possuir o título de doutor. O MEC precisa de alguém com competência para gerir os inúmeros problemas da educação que foram agravados durante a trágica República da Rainha Louca. No quesito sobre a competência do Decotelli, discordo da comentarista, novamente. Não vi os bons atributos a que você se refere. Fraudatelli chegou carregando em seus ombros a suspeita de haver fraudado uma licitação no FNDE (veja aqui).

Mas, gostaria de voltar à questão da “falha tola”! A academia é baseada na meritocracia, logo, é partir da produção intelectual que obtemos o financiamento para a pesquisa, além de progredirmos na carreira. Portanto, se você frauda o seu Currículo Lattes, você está fraudando todo um sistema de desenvolvimento educacional, científico e tecnológico.

Dito isso, é possível que uma pessoa como Decotelli, uma hecatombe de fraudes (veja aqui), possa ocupar o cargo de Ministro da Educação? Talvez, a Fátima e boa parte daqueles que minimizaram esses fatos tenham se esquecido de lembrar que o Ministro da Educação tem sob a sua batuta, respeitada a autonomia universitária, o Sistema Federal de Ensino Superior.

Em suma, Decotelli ficou desmoralizado! No entanto, Sr. Fraudatelli, não venha culpar a nós, críticos contumazes da boa ética em relação às fraudes no Lattes. Não culpe, também, a imprensa por haver divulgado suas fraudes. Você desmoralizou a si próprio! Lhe faltou ética, decência e força de vontade para obter o seu, talvez tão sonhado, título de doutor. Para você foi mais fácil inventar um. Aliás, você não inventou apenas o título de doutor, você também fraudou ao dizer que você fez um estágio de pós-doutoramento[i]

Em sua primeira entrevista após ser nomeado Ministro, Fraudatelli mostrou toda a sua incompetência sobre o funcionamento da pós-graduação. Talvez ele quisesse explicar o inexplicável a título de se defender.


Primeiramente, meu caro senhor, não são “inconsistências” encontradas em seu currículo! Foram encontradas mentiras e essas são imperdoáveis para o sistema educacional. Além do mais, não existe cerimônia de formatura para pós-graduação sem defesa de tese. Mas, felizmente, você caiu na realidade e corrigiu o seu Currículo e colocou como “doutorado interrompido”.



Todavia, ainda não engoli sua explicação e/ou aceitei a sua correção. Tenho para mim que você participou de um intercâmbio entre a FGV e a Universidade Nacional de Rosário, onde cursou algumas disciplinas. Digo isso com base nas datas colocadas em seu Lattes. Você indica ter iniciado o “doutorado interrompido” em 2007, ou seja, quando ainda estava cursando o mestrado na FGV. Aguarde, ainda irei conferir! Fraudes no Currículo Lattes é um assunto muito caro a mim e, 18 anos atrás, já fazia denúncias sobre o tema (veja aqui).

Em outro trecho da entrevista, Decotelli mostra toda o seu desconhecimento sobre pós-graduação. Um título obtido no exterior tem validade no Brasil, desde que a tese defendida, e aprovada, seja validada por uma Universidade Federal.


Sou professor universitário há 27 anos e durante esse tempo nunca ouvi dizer de um estudante de pós-graduação que tenha tido sua tese recusada para defesa por ser muito profunda! Fraudatelli, por favor, conte outra! Essa não cola para cima de mim. Há anos não acredito em Papai Noel, mula sem cabeça, Saci Pererê e lendas desse gênero! O melhor seria você assumir a sua incompetência! Algum dia você parou para pensar que o fato de você não ter obtido uma bolsa da Capes, CNPq ou outra agência de fomento tenha sido por falta de um bom Currículo? Além disso, uma vez que você já havia cursado as disciplinas e  de seu trabalho, aparentemente, não envolver experimentos, você poderia ter escrito a tese no Brasil.


Sobre o plágio de sua dissertação de mestrado, Fraudatelli, fazendo uso de muita prolixidade, tenta negar o inegável. Não houve descuido, e se houve a banca deveria ter sugerido a correção. Houve plágio! Os textos estão todos disponíveis para quem quiser conferir, como bem apontou o Prof. Conti. 


Um último detalhe, Decotelli, nós estamos em 2020. Tudo bem que todos queremos que esse ano termine, mas ainda não terminou.



Ao relatar para os jornalistas, Fraudatelli explicou o que a Rainha Louca queria saber na reunião que teve com ele e aproveitou, bem ao seu estilo, para maquiar o currículo dele:



Pois é, Fraudatelli, seu lastro ainda está em xeque! A FGV já informou que você não faz parte do quadro de professores efetivos.

Não posso finalizar sem tocar em um discurso raso que tomou conta das redes sociais assim que surgiram as informações sobre as fraudes do Currículo Lattes do Decotelli. Alguns, sem uma capacidade de debater de maneira profunda, acusam-nos de racismo por “bater” mais no Decotelli e na Joana D’Arc – a professora disse ter feito pós-doutorado em Harvard – por eles serem negros. Refuto essa tese com toda a minha veemência possível. O fato de eles terem “apanhado” deve-se a eles estarem ligados à área da educação. Joana D’Arc e, principalmente, o Decotelli deveriam servir de exemplo de idoneidade! Aliás, Decotelli falou do racismo que sua filha sofreu na escola. Acho horrível, me solidarizo com ele e em seu lugar, teria feito o mesmo. Como ele, teria usado esse ocorrido como um incentivo para a minha filha. Mas, uma vez que o assunto foi colocado de forma aleatória durante a entrevista, deu-me a impressão de ele estar tentando ecoar esse discurso que ocorreu nas redes sociais e assim podendo estar usando desse subterfúgio para esconder os seus erros.

Decotelli e Joana D’Arc não foram os únicos a fraudarem o currículo. A lista é longa: Presidente Dilma, Vèlez, a Ministra da Goiabeira, o Bobo da Corte Fujão e o Ministro do Desmatamento. Todavia, espero que Decotelli tenha sido o último a fraudar o Currículo Lattes.
Portanto, Decotelli caiu de podre! Caiu por ter mostrado que não teria credibilidade junto às centenárias Instituições Federais de Ensino.

Quem é Decotelli? Ele é o “Doutor quase honoris causa” que foi estagiário de “pré-doutoramento” na Alemanha e é chamado pelos íntimos de “Ministro Recortelli Colelli”.

Eu, particularmente, prefiro chamá-lo de Fraudatelli, aquele que acabou de obter o título de “Quase Ministro”. 



[i] Muitos, de maneira equivocada, acham que pós-doutorado é mais um título. O pós-doutoramento é apenas um estágio profissional de alto nível. Erroneamente, algumas Universidades Estaduais Brasileiras pagam um adicional salarial para aqueles servidores que possuem pós-doutoramento em seu currículo.

[VÍDEO]: Fraudatelli e o Currículo Lattes – Parte 2


[VÍDEO]: Fraudatelli e o Currículo Lattes – Parte 2

Robson Matos


Continuando a postagem de ontem (veja aqui), hoje apresentamos a análise das fraudes no Currículo Lattes dele.

Aqui você verá, de maneira bem didáticas, todos os pontos fraudados e apresento a nova versão do Currículo do Fraudatelli. Embora, algumas correções tenham sido feitas, ainda existem fraudes.

  
Quem é Decotelli? Ele é o “Doutor quase honoris causa” que foi estagiário de “pré-doutoramento” na Alemanha e é chamado pelos íntimos de “Ministro Recortelli Colelli”.

Eu, particularmente, prefiro chamá-lo de Fraudatelli!


segunda-feira, 29 de junho de 2020

[VÍDEO]: Fraudatelli e o Currículo Lattes - Parte 1


[VÍDEO]: Fraudatelli e o Currículo Lattes

Robson Matos


Aqui você encontra uma explicação bem didática sobre as fraudes que o Ministro da Educação cometeu no seu Currículo Lattes.

No primeiro vídeo, as fraudes em relação ao Doutorado são explicadas ponto a ponto:



Em breve, a parte 2 estará disponível em um cinema perto de você!

Quem é Decotelli? Ele é o “Doutor quase honoris causa” que foi estagiário de “pré-doutoramento” na Alemanha e é chamado pelos íntimos de “Ministro Recortelli Colelli”.

Eu, particularmente, prefiro chamá-lo de Fraudatelli!


domingo, 28 de junho de 2020

MEC explicando o inexplicável!


MEC explicando o inexplicável!

Robson Matos



O Ministro da Educação parece ter frequentado os mesmos bancos escolares do Wassef e aprendeu as mesmas táticas para explicar o inexplicável! Decotelli plagiou sua dissertação de mestrado, não é militar da reserva e fraudou seu Lattes no que diz respeito ao Doutoramento e ao estágio de Pós-doutorado. Já falamos sobre as fraudes no Lattes (veja aqui) e sobre a questão do plágio (veja aqui). Todavia, faz-se necessário mostrar sem quaisquer dúvidas que o Ministro, atualmente ele é mais conhecido como Fraudatelli, continua fraudando o Currículo Lattes.

No dia 27 de junho, o MEC emitiu uma Nota Oficial (veja aqui)  tentando justificar as falcatruas que o Ministro Fraudatelli fez no seu currículo Lattes.


Inicialmente, é importante deixar claro que o Ministério da Educação jamais poderia ter se prestado a esclarecer a situação da formação acadêmica do Fraudatelli. O MEC, através da Capes, tem obrigação de zelar pelos cursos de pós-graduação e é, talvez, o órgão com mais competência para saber que esse senhor não possui doutorado como ele insiste em afirmar. O Ministro utilizou um instrumento oficial do MEC para justificar uma irregularidade cometida antes de ocupar o cargo. Isso é estranho, né filha?

O senhor Fraudatelli, usou de suas prerrogativas como Ministro para fazer com que o MEC, de maneira equivocada, tentasse limpar o seu nome.

Já no primeiro parágrafo da Nota, o MEC decide insistir em manter a narrativa do Fraudatelli (grifos nossos).

“O Ministério da Educação, com relação aos questionamentos levantados a respeito da formação acadêmica do Ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva, esclarece que o ministro cursou o Doutorado em Administração na Universidade de Rosário, na Argentina, no período de 2 de outubro de 2007 a 7 de fevereiro de 2009, tendo sido aprovado em todas as disciplinas com todos os créditos, conforme atesta o certificado emitido pela Universidade”.

Depreende-se dos trechos grifados que o MEC insiste em deixar transparecer que Fraudatelli cursou o Doutorado. Está claro que o MEC tenta maquiar uma situação irreal e tem dificuldade de assumir que Fraudatelli não tem doutorado. Todos nós, e principalmente o MEC, sabemos que para a obtenção de um título – em nível de graduação ou pós-graduação – faz-se necessário cumprir os requisitos mínimos necessários. E como o Reitor da Universidade Nacional de Rosário afirmou, o Ministro fraudador não cumpriu essas exigências mínimas.


Em suma, Fraudatelli não cursou doutorado como diz a nota! Ele cursou as disciplinas do curso de doutorado da UNR. Mas, ele continua insistindo em dizer que possui o título de doutor. No seu Currículo Lattes, mesmo depois da atualização, buscaremos mostrar que ele continua fraudando o Sistema Lattes.

Repare que quando fizemos a busca na Plataforma Lattes pelo Currículo do Ministro, deixamos marcado para que o sistema buscasse apenas pessoas com o título de doutor:


Houvesse ele feito as devidas correções, ou seja, conforme afirmou o Dirigente máximo da UNR, o nome do Fraudatelli não apareceria dentre os resultados:


Alguns dirão que isso seria apenas um erro do sistema, mas na tela de apresentação do currículo, lá está a foto do Fraudatelli todo sorridente e onde consta que ele realizou seu doutorado na UNR e já está devidamente esclarecido que ele não finalizou seu doutoramento, inclusive a Nota Oficial do MEC confirma isso (vide infra).

O Ministro continuou faltando com a verdade. Observe que o Currículo foi certificado pelo autor no dia 27 de junho, mesma data da Nota Oficial.


Mais grave ainda, o que faz com que Decotelli conste na base de dados da Plataforma Lattes é o fato de ele ter preenchido, de maneira fraudulenta, na Seção Formação Acadêmica/Titulação possuir Doutorado.


Em grifo vermelho, você observa que ele preenche o campo “Ano de Conclusão”. Já foi dito, inclusive pela Nota do MEC, que ele não defendeu a tese, logo, ele não cumpriu os requisitos mínimos para a obtenção do título de doutor. Já onde deveria constar o título da tese (grifo preto), Fraudatelli coloca “Créditos Concluídos”.O campo “Nome do Orientador” (grifo verde) é preenchido com “Sem defesa de tese” e, assim, assumindo, de novo, que não defendeu a tese.

Analisando um pouco mais, perceba que o alegado curso de doutorado do Fraudatelli inicia-se em 2007 (grifo em marrom), ano no qual ele ainda não havia finalizado o curso de Mestrado. Ou seja, o Ministro faltou com a verdade ao ingressar no curso de Doutorado da UNR?

No segundo parágrafo da Nota Oficial do MEC diz ter muito orgulho de ter sido aceito em função de sua qualificação acadêmica (grifo nosso).

“O ministro informou ainda que tem muito orgulho do curso realizado, principalmente por ter sido custeado com seus próprios recursos financeiros e pelo fato de ter sido aceito em tão respeitada instituição de ensino no exterior unicamente em função de sua qualificação acadêmica, construída ao longo da vida com muito esforço e dedicação”.

Esse parágrafo pareceu-me uma forma de ele jogar flores em si. Todavia, deve-se destacar que Fraudatelli precisa ter um pouco de cuidado, haja vista a sua dissertação de mestrado ter sido colocada em cheque!

O terceiro parágrafo da Nota do MEC e fundamental dentro da análise que aqui está sendo feita. Fraudatelli assume que sua defesa de tese não foi autorizada (grifo nosso). Todavia, inicia a frase, de maneira equivocada com “Ao final do curso”. Que fique claro ele não finalizou o curso, ele apenas cursou disciplinas isoladas.

“Ao final do curso, apresentou uma tese de doutorado que, após avaliação preliminar pela banca designada, não teve sua defesa autorizada. Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais, o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração”.

Uma vez que Fraudatelli não possui título de doutor, todos estão indagando como ele conseguiu fazer um estágio de pós-doutoramento, conforme ele declara em seu Lattes?


“Tendo trabalhado como professor de gestão de riscos em derivativos no agronegócio em vários cursos no Brasil, construiu um projeto de pesquisa intitulado “Sustentabilidade e Produtividade na automação de máquinas agrícolas”, que foi submetido à Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, tendo por base pesquisa específica que teve o apoio da empresa Krone (www.krone.de). A universidade alemã aceitou apoiar o projeto, considerando a relevância do tema, a conclusão e a aprovação em todos os créditos obtidos no curso de Doutorado em Administração na Universidade de Rosário e seus 30 anos de atuação como conceituado professor no Brasil. A pesquisa, que foi orientada pela Dra. Brigitte Edith Ursula Wolf e pelo Dr. Siegfried Maser, foi concluída e publicada em 10 de outubro de 2017. Ressalta-se que, por questões de sigilo em relação aos dados da citada empresa, o acesso ao texto integral da pesquisa está disponível apenas por meio de visita presencial ao cartório de registros acadêmicos na cidade de Koln, na Alemanha”.

Como visto acima, Fraudatelli fornece todas as evidências de que seu estágio na Universidade da Alemanha foi de participação em um projeto de pesquisa para o qual ele obteve apoio. De novo ele tenta maquiar e justificar que foi um estágio de pós-doutoramento e afirma novamente, não ter o título de doutor. Por que ele insiste em deixar a informação no Lattes que contraria o que ele diz? Ele falta com a verdade em relação ao doutoramento e ao estágio de pós-doutoramento.

Finalmente, no quinto parágrafo da Nota, observamos uma meia verdade quando ele diz não ter recebido título pela pesquisa realizada na Alemanha. Todavia, ele não explica o motivo pelo qual não recebeu.

“Em abril de 2017, recebeu documento que atesta o registro de seu trabalho. O ministro ressalta que não recebeu títulos em decorrência desta pesquisa”.

Embora, muitos acreditem que o pós-doutoramento signifique mais um título acadêmico, ele não o é! Pós-doutoramento nada mais é que um estágio, normalmente em pesquisa científica, que não lhe confere certificado. O máximo que se obtém ao final de um estágio de pós-doutoramento é uma declaração da instituição que você realizou pesquisas na instituição, em possuindo o título de doutor, você lança no Currículo Lattes como estagio de pós-doutorado. Fato é que ele não é doutor!

Mas, a grande pérola da Nota do MEC está no sexto parágrafo (grifo nosso):

De forma a dirimir quaisquer dúvidas, o ministro já efetuou os devidos ajustes em seu currículo, que, em breve, estarão refletidos nas principais plataformas de divulgação de dados profissionais.

Conforme provamos nas linhas acima, Fraudatelli realizou todos os ajustes, todavia, esses ajustes estão longe de terem sido feitas de maneira correta. Não me admira ele não ter obtido a autorização para defender a sua tese de doutorado.

Nos dois últimos parágrafos, o Ministro chama de ilação a questão dos trechos plagiados em sua dissertação de mestrado, dizendo serem ilações:

“Com relação às ilações sobre plágio na dissertação de mestrado intitulada “BANRISUL: do PROES ao IPO com governança corporativa”, apresentada em 2008 à Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho. O ministro destaca que, caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas. Informa também que, ainda assim, por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados, revisará seu trabalho e que, caso sejam identificadas omissões, procurará viabilizar junto à FGV uma solução para promover as devidas correções.

O ministro informou ainda que este trabalho teve respaldo no período de março de 2004 a dezembro de 2010, quando foi responsável pela capacitação de mais de 3.000 profissionais do BANRISUL, tendo agregado esta vivência profissional e seu conhecimento da cultura do Banco como base de referência para a construção da dissertação, agregando informações públicas disponíveis em sites públicos e privados pertinentes aos relatórios e informações de empresas S.A. de capital aberto”.

Bom, de acordo com as provas apresentadas pelo Prof. Thomas Conti em relação ao plágio, parecem estar longe de serem ilações. Como exemplo, cito apenas um dentre os vários trechos da dissertação de mestrado do Fraudatelli, apontados pelo Prof. Conti.



Esse trecho pode ser comparado com o trabalho original depositado na UFBA (veja aqui). 

Fraudatelli tenta passar a impressão de que as omissões de citação se devem a falhas técnicas ou metodológicas. Desculpe-me Ministro, deixar de citar o autor original é, no mínimo e sendo elegante, falha na formação científica.

Finalizo, definindo o Ministro da Educação com termos que atolaram as redes sociais nos últimos dias. Esses termos não são de minha autoria e não sei o verdadeiro autor, mas achei todos extremamente relevantes e que mostram com fidedignidade o caráter do Decotelli:

O “Doutor quase honoris causa” que foi estagiário de “pré-doutoramento” na Alemanha e é chamado pelos íntimos de “Ministro Recortelli Colelli”.

sábado, 27 de junho de 2020

Decotelli: Uma hecatombe de fraudes


Decotelli: Uma hecatombe de fraudes.

Robson Matos


Após pouco mais de 24 horas da sua nomeação como novo Ministro da Educação, veio à tona as fraudes cometidas por esse cidadão. Algumas foram citadas em um texto anterior nesse Blog (veja aqui).

A primeira fraude noticiada foi a respeito de uma licitação da época que ele presidia o FNDE. Decotelli autorizou a compra de 30.030 notebooks para uma escola mineira que tinha 255 alunos matriculados. Diga-se de passagem, alunos bastante privilegiados! Cada um receberia 177 notebooks, caso a licitação não fosse suspensa pelo sucessor no FNDE do atual Ministro.

Ainda no dia de ontem surgiu a notícia de que Decotelli não havia obtido o seu título de doutor conforme informava a Rainha Louca, quando do anúncio de que ele seria o novo Ministro da Educação. 


Aliás, essa informação foi dada pelo Ministro em seu Currículo Lattes. Após o Reitor da Universidade argentina informar em sua conta no Twitter que ele não havia obtido o título de doutor, o MEC tentou negar a informação e apresentou um certificado em nome do atual titular do MEC.


 Todavia, o certificado corroborava com a informação fornecida pelo Reitor da UNR.

Só após uma entrevista realizada pela Globo com o Reitor Franco Bartolacci é que o Ministro da Educação assumiu a fraude.



Decotelli resolveu atualizar, mal e porcamente, o seu Currículo Lattes. 


Não há como negar que o Ministro manteve a fraude em seu Lattes. No resumo de apresentação de seu currículo, ele continua afirmando possuir título de Doutor pela UNR. Além disso, o cidadão informa na seção de Formação Acadêmica/Titulação ter concluído o Doutorado em 2009 – observe o campo “Ano de Obtenção”. No campo onde deveria constar o título da tese – repare na figura acima o campo “Título” – ele preenche com “Créditos concluídos”. Outra inconsistência está no campo “Orientador”, onde consta “Sem defesa de Tese”. Ora bolas, o que é um Doutorado sem defesa de tese?

Além do mais, o Reitor da UNR afirmou que a tese do Decotelli foi reprovado na defesa de sua tese. Pois é, o Reitor Franco Bartolacci e a Universidade Nacional de Rosário já fazem parte da lista de comunistas e daqueles que querem derrubar a Rainha Louca! Sempre a mesma cansativa cantinela!

Ontem no programa Em Pauta da Globo News, as comentaristas foram unânimes em condenar a atitude patética do Ministro da Educação.


Mas, elas não foram as únicas. As redes sociais estão abarrotadas de comentários condenando o Ministro da Educação.

Outra fraude encontrada no Currículo Lattes de Decotelli diz respeito a ele ter feito um estágio de Pós-doutoramento na Alemanha. Segundo a Fátima Oliveira, os correspondentes da imprensa alemã andam se perguntando como ele conseguiu fazer um pós-doutoramento sem possuir o título de doutor.


Pois é Fátima, você e os correspondentes da imprensa alemã não são os únicos a fazerem esta indagação. Toda pessoa de bom senso está se preguntando a mesma coisa. Como disse-me uma amiga, Decotelli criou uma nova modalidade de estágio: o estágio de pré-doutoramento. Mais bomba virá por aí!

As fraudes no Lattes estão se tornando cada vez mais comuns. Decotelli não foi o primeiro e nem será o último a alimentar o Sistema do CNPq com informações falsas. Dezoito anos atrás, em uma publicação no Boletim Informativo da Universidade Federal de Minas Gerais, eu apontava que o Currículo Lattes estava sendo fraudado e até hoje pouco, ou quase nada, foi feito para coibir essa prática (veja aqui).

Foi, também, no Twitter que surgiu a informação de que Decotelli, também, cometeu plágio em sua dissertação de Mestrado, segundo o Prof. Thomas Conti.


Dentre os vários trechos da dissertação de mestrado do Decotelli, apontados pelo Prof. Conti, destaco o trecho abaixo que pode ser comparado com o trabalho original depositado na UFBA (veja aqui). 


O jornal da Associação de Docentes da UFRJ deu a seguinte informação exclusiva:

Decotelli não é um oficial de carreira da Marinha do Brasil. Ele é oficial reservista, segundo tenente formado na Escola de Formação de Oficiais para a Reserva da Marinha (EFORM), onde passou dois anos. Não se trata, portanto, de um oficial de carreira que entrou para a reserva, mas de alguém formado para a reserva numa baixa patente”.

Com esse histórico de fraudes e plágios, pergunto-me qual a respeitabilidade desse cidadão para conduzir o MEC nas políticas educacionais deixadas de lado há mais de 18 meses.

Como disse Sandra Coutinho, a mentira tem pernas curtas e o Ministro está dando um péssimo exemplo!


Os críticos dirão que eu apenas quero derrubar esse desastroso governo. Respondo-lhe, isso é o meu desejo, não há dúvidas. Todavia, não é esse o aspecto retratado nesse texto. Sou uma pessoa de princípios e acho que a educação seja o caminho para a transformação social do Brasil. Um Ministro da Educação que frauda e plagia, não educa, ele deseduca. Não se esqueça de que é o MEC que conduz a realização do Enem, a escolha de livros didáticos e que a Capes – responsável pelos cursos de Pós-Graduação – está sob o comando do Ministro.

O mínimo que se espera de um Ministro da Educação, embora não apenas dessa área, é decência, ética e idoneidade.




Plataforma Lattes e a ética


Plataforma Lattes e a ética[i]

Robson Mendes Matos


Com certeza devemos celebrar a façanha alcançada pela Ciência e Tecnologia no Brasil ao atingir a marca de 200 mil currículos na Plataforma Lattes, conforme noticiado pelo JC e-mail de 5 de julho último. A Plataforma Lattes representa grandes avanços para a C&T brasileira, que foram bem detalhados no artigo de Sibyla Goulart (edição 485 do Jornal da Ciência).

O fim do formulário Banco de Currículos do CNPq também pode ser visto como outra vantagem propiciada pelo advento da Plataforma Lattes. Quem não se lembra do Banco de Currículos, que tinha que ser preenchido sempre que fosse necessário fazer novo pedido ao CNPq? Hoje, as atualizações dos currículos são mais fáceis, rápidas e podem ser feitas a qualquer momento, sem que os professores sejam obrigados a deixar seus gabinetes.

Será então que não existem desvantagens na utilização da Plataforma Lattes? Aqueles que têm aversão a computadores dirão que não existem vantagens, enquanto os amantes dos avanços "internáuticos" argumentarão que só existem vantagens. Entretanto, é necessário cautela na análise deste aspecto.

Os avanços da informática e, principalmente, da Internet acontecem a passos largos e são, via de regra, uma ferramenta importante na difusão de ideias, conhecimento e estatísticas. O Brasil, graças aos investimentos do passado, tornou-se um dos países mais avançados no uso da Internet. Enquanto enviamos, já há vários anos, nossas declarações de imposto de renda pela rede, os Estados Unidos ainda estão engatinhando nesta área.

A criação da Plataforma Lattes é outro exemplo deste avanço, uma vez que o Brasil já começa a exportar tal tecnologia para o primeiro mundo. Por isso, perguntarmos: Quão confiáveis são as declarações prestadas nos currículos depositados no sistema Lattes? E esta pergunta torna-se ainda mais importante a partir do momento em que tomamos conhecimento de que o número de consultas aos currículos tem aumentado progressivamente. Sabe-se ainda que o uso da Plataforma Lattes por profissionais fora da comunidade científica vem crescendo. Partindo do pressuposto de que podem existir fraudes nos currículos Lattes, precisamos pensar nas suas causas e buscar ações que as evitem. Afinal, é a credibilidade da comunidade científica brasileira que está em jogo.
Temos assistido, ano após ano, a uma sensível redução nas verbas alocadas para a pesquisa no Brasil e a um crescimento do número de pesquisadores qualificados. Com isto, a concorrência pelos recursos financeiros para a nossa pesquisa tem aumentado. Ao mesmo tempo, é imprescindível que tenhamos boa produção técnico-científica para recebermos financiamento. E assim, inicia-se um ciclo pernicioso: sem produção, não há financiamento; sem financiamento, não há produção.

Este ciclo pode ser quebrado com facilidade se adicionarmos uma pitada de falta de ética e de escrúpulos. Este pesquisador pode criar uma produção fantasma em seu currículo e aumentar suas chances na concorrência pelas verbas de pesquisa. Desnecessário dizer que este tipo de fraude pode passar despercebido por anos a fio. Assim, não haverá punição e o pesquisador desleal será privilegiado e incentivado a continuar cometendo fraudes.

Através de denúncias bem documentadas, o CNPq já tomou conhecimento de alguns destes casos e tomou providências corretas, mas insuficientes. Em geral, o CNPq apura a denúncia e, comprovada a fraude, determina ao pesquisador que faça a correção do currículo. Normalmente, as correções são efetuadas dentro do prazo estipulado e o caso é encerrado. Mas sem punição não se coíbe este tipo de ação.

Apesar de serem poucos os casos conhecidos, a fraude não deixa de ser preocupante. Acredito ser necessária uma ação rápida e eficaz para evitar que o mal se espalhe e a Plataforma Lattes se transforme em um grande escândalo. Não há como defender a volta aos tempos do Banco de Currículos, feitos em papel e que tinham que ser comprovados na maioria das vezes, mas é necessário buscar meios de identificar e punir os fraudadores. Uma discussão séria e aberta pode levar à criação de mecanismos que impeçam a fraude e, caso ela aconteça, à punição de seus autores.

A responsabilidade legal das informações contidas no Currículo Lattes é do próprio pesquisador, o que não difere de outros currículos. Mas a quem cabe a ação de interpelar judicialmente um pesquisador que frauda o Lattes? Não é preciso dizer que fraudes na Plataforma Lattes afetarão toda a comunidade científica, seja pela perda da confiabilidade nos dados, seja pela competição desleal pelo financiamento à pesquisa. Cabe ao CNPq, enquanto guardião da Plataforma, obrigar o infrator a proceder à imediata correção do Lattes, puni-lo administrativamente e, caso necessário, recorrer à Justiça.

Algumas sugestões de possíveis medidas administrativas: indisponibilizar para o público o currículo Lattes do pesquisador; comunicar a falta cometida pelo pesquisador aos órgãos que utilizam o sistema Lattes; suspender os auxílios para pesquisa já aprovados; e impedi-lo de solicitar novos auxílios. Desta forma, podemos pensar em uma notícia para uma edição futura do Jornal da Ciência: "Graças à Plataforma Lattes, o Brasil conhece com precisão e confiabilidade as atividades realizadas em C&T, tanto individual quanto coletivamente." Além disso, estaremos certos de que qualquer pesquisa de opinião continuará apontando a classe científica como a mais confiável da sociedade brasileira.



[i]Publicado no Boletim da UFMG Nº 1360 – Ano 28 – 01.08.2002