O Ministro do Desmatamento e sua Boiada
Robson Matos
Seria uma mera
coincidência de datas:
22 de abril de 1500
– Descobrimento do Brasil
22 de abril de 2020
– Descobrimento do modus operandi da
República da Rainha Louca.
Dentre todas as falas
proferidas na tragicômica Reunião Ministerial da Rainha Louca, talvez a de
maior impacto tenha sido a do Ministro do Desmatamento ou antiMinistro do Meio
Ambiente, como muitos gostam de chamá-los. Mas, estou falando de um impacto negativo.
A fala do Ministro chocou o mundo inteiro e foi condenada por ambientalistas, Governantes e até associações de importadores de produtos
do agronegócio brasileiro.
A fala do Ministro
do Desmatamento foi tão absurda que até mesmo o ex-Ministro Coveiro se espanta.
A expressão facial do Dr. Teich é algo impagável, preste atenção!
Salles disse que é preciso
aproveitar que a imprensa está ocupada na cobertura da pandemia e ir passando a
boiada e foi além, “...nós não precisamos de Congresso...”. A tática “...parecer,
caneta, parecer, caneta...” do Ministro do Desmatamento está, de fato sendo
utilizada desde o início desse ano e o uso aumentou com o avanço da pandemia.
A República da
Rainha Louca anistiou ruralistas que haviam destruído áreas da Mata Atlântica.
Desnecessário dizer que a Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil. No
dia 6 de abril, o Ministro do Desmatamento assinou um despacho colocando em
ação um parecer da Advocacia Geral da União – AGU – reconhecendo como áreas consolidadas
as APP’s – Áreas de Preservação Permanente – que foram desmatadas desde 2008.
As APP’s têm função fundamental de preservar, principalmente, os recursos hídricos
e proteger as nascentes. O Ministro do Desmatamento atendeu a um pedido da
Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária – CNA.
Outra decisão
polêmica do Ministro do Desmatamento foi a exoneração de dois chefes do setor
do Ibama responsável pelas grandes operações de repressão a crimes ambientais. A
decisão foi publicada na edição do Diário Oficial da União – DOU – do dia 30 de
abril. Para o cargo de coordenador geral de fiscalização ambiental foi nomeado
um militar, um coronel da reserva da PM de São Paulo. A exoneração dos
servidores do Ibama ocorreu após a Rainha Louca criticar a destruição de
maquinário de garimpeiros ilegais no estado do Pará. Servidores acusam o Ibama do
fato de as exonerações serem em função das ações de fiscalização em terras
indígenas.
Embora a Legislação
de proteção ambiental aponte para a destruição do maquinário utilizado na
degradação de áreas ambientais (Decreto 6514/2008 – clique aqui), a Rainha
Louca está constantemente criticando esses atos. Ao lado do Senador Marcos
Rogério – DEM/RO – o presidente diz que não é para queimar equipamentos utilizados
no desmatamento. O Senador finaliza o vídeo dizendo “...quem cometeu erro, destruiu
patrimônio responda na forma da Lei...”. Definitivamente, o Senador desconhece
a lei que permite a destruição de equipamentos de garimpeiros e madeireiros ilegais.
Recentemente, a
Rainha Louca deixou escapar mensagens trocadas com o ex-Ministro da Justiça,
Sérgio Moro, um questionamento sobre a queima de equipamentos de garimpeiros
ilegais. O então Ministro, Sérgio Moro explica qual o papel das Forças Nacionais.
A Instrução
Normativa 9/2020 da Funai foi publicada no dia 22 de abril deste ano. A Instrução
Normativa altera a Declaração de Reconhecimento de Limites, documento que
funciona como uma certificação de que uma propriedade rural não invada terreno
ocupado por indígenas. A partir dessa instrução da Funai, a Declaração de
Reconhecimento de Limites poderá ser fornecida a imóveis privados dentro de
terras indígenas não homologadas. O processo de homologação de terras indígenas
é um processo lento e alguns deles foram abertos em 1982. A partir de agora,
terras ocupadas por comunidades indígenas que não foram homologadas serão
consideradas como imóveis privados.
Em fevereiro deste
ano, a Rainha Louca enviou para o Congresso Nacional o Projeto de Lei da
mineração em terras indígenas (PL 191/2020 – acompanhe o andamento aqui) que regulamenta
a mineração e a geração de energia elétrica em terras indígenas. O Presidente
da República se referiu ao Projeto de Lei como um “sonho” e continuou: “o índio
é tão brasileiro quanto nós”. De maneira mais repugnante ainda, a Rainha Louca
disse: “O índio é um ser humano exatamente igual a nós. Tem coração, tem
sentimento, tem alma, tem desejo, tem necessidades e é tão brasileiro quanto
nós”. A Rainha Louca realmente não tem limites: “O grande passo depende do
parlamento, vão sofrer pressão dos ambientalistas. Esse pessoal do meio
ambiente. Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam
tanto do meio ambiente, e deixem de atrapalhar os amazônidas aqui de dentro das
áreas urbanas”. Estaria a Rainha Louca sugerindo a criação de um campo de
concentração para ambientalistas?
Outra ameaça à
floresta amazônica é a Medida Provisória da Grilagem. A MP foi editada em
dezembro de 2019 e perdeu a validade no dia 19 de maio desse ano. Todavia, ela
foi transformada no PL 2633/2020 em tramitação na Câmara dos Deputados (acompanhe aqui). Chamado de “PL da Grilagem” pelos críticos e de “PL da Regularização Fundiária” pela República da Rainha Louca, o projeto premia os desmatadores e estimula a destruição de
novas áreas da floresta. Segundo o Governo, o projeto tem a
finalidade de desburocratizar a concessão de títulos a agricultores “que
produzem e ocupam terras da União de forma mansa e pacífica”.
No dia 6 de maio, A
Rainha Louca decretou uma operação de Garantia da Lei da Ordem – GLO – que submete
o trabalho do Ibama e do ICMBio ao controle do Ministério da Defesa e das
Forças Armadas. O decreto tem por objetivo reforçar as ações contra o
desmatamento ilegal e focos de incêndio na Amazônia. Todavia, por vir logo após
o Presidente criticar a queima de equipamentos de garimpeiros ilegais, acredita-se
que essa medida possa ser para evitar que isso ocorra. A GLO coloca o trabalho
de investigação e estratégia do Ibama e de outros órgãos sob a avaliação do
Exército, que definirá a abordagem de fiscalização e as operações a serem
utilizadas em campo. No decreto de GLO de 2019 para o combate ao enorme
incêndio na Amazônia houve uma grande dificuldade de articulação entre o Ibama
e o Exército, que se recusava a participar de operações que envolviam
destruição de maquinário.
Outra medida
preocupante foi a reestruturação do ICMBio levada a cabo no dia 12 de maio. Os
cargos de chefia do Instituto estão sendo ocupados por oficiais da PM
escolhidos pelo Ministro do Desmatamento. Segundo servidores da área ambiental
a reestruturação está sendo feita a toque de caixa e sem qualquer
transparência. Na Portaria publicada, 38 servidores do comando foram exonerados
e está havendo uma agregação de unidades de conservação muito distantes, além
da retirada de responsabilidade das equipes que estão próximas às unidades de
conservação. Teme-se que as ações de proteção das Reserva Ambientais fiquem
prejudicadas.
As ações criminosas
do Ministro do Desmatamento ocorrem no período que o Brasil apresenta os piores
índices de proteção ambiental em décadas. De acordo com o Inpe, os alertas de
desmatamento na Amazônia aumentaram 29,9% em março deste ano, em comparação a
março do ano anterior. Já em abril, os alertas de desmatamento cresceram 63,75%
em comparação a abril de 2019. Os alertas foram emitidos para 405,6 km2
contra 247,7 km2, no mesmo período do ano passado. A série de
monitoramento do sistema da Amazônia, que começou há 4 anos, apontou que os
dados do primeiro trimestre desse ano mostram um recorde histórico de
desmatamento.
O poderoso
consórcio de varejistas britânicos – British Retail Consortium (BRC) – anunciou
que pode tomar medidas de retaliação contra produtos brasileiros, caso o PL da
grilagem não seja retirado de análise. O BRC reúne 96,8% dos varejistas
britânicos e estão cobrando a retirada do PL para poder continuar adquirindo
commodities produzidas com responsabilidade para o mercado britânico e
internacional.
A falta de uma
política clara de combate ao desmatamento e à grilagem de terras podem colocar
em risco, também, o acordo comercial entre a Comunidade Europeia e os países do
Mercosul. Esse acordo, que foi negociado por mais de 20 anos, precisa ser
referendando em todos os países membros europeus.
Para um Presidente
tão preocupado com a economia, o Ministro do Desmatamento parece estar agindo
contra.
A maioria dessas ações
está sendo conduzida pelo Ministro do Desmatamento em meio à pandemia da
Covid-19 utilizando exatamente o modus
operandi que ele apresentou na patética Reunião Ministerial da República da
Rainha Louca. Pode-se dizer que o Ministro do Desmatamento, como advogado,
ofereceu uma consultoria grátis aos demais Ministros de como burlar os procedimentos
democráticos por debaixo dos panos.
Mas, o que se pode esperar
do cidadão que atualmente ocupa a cadeira que foi ocupada por Marina Silva? A política
conduzida por ela fez o Brasil passar de um país destruidor da floresta
amazônica ao maior protagonista de políticas de combate ao desmatamento. Contudo, essa
política começou a ser destruída um ano e meio atrás e o Brasil volta a ter uma péssima imagem no exterior.
O Ministro do
Desmatamento já incentivou o assassinado de trabalhadores sem-terra, defendeu
latifundiários e mentiu sobre o seu currículo.
Nas eleições de
2018, Ricardo Salles foi candidato a Deputado Federal e não logrou êxito. Ele é
um dos fundadores do movimento Endireita Brasil, que tem o apoio de ruralistas.
Ele defendeu o uso de “munição de fuzil” contra os movimentos sociais de
esquerda. O seu alvo predileto era o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra – MST – o qual ele classificava como um movimento de “bandidagem no
campo”.
O Ministro do
Desmatamento, como vários outros componentes da República da Rainha Louca,
mentiu sobre seu currículo. Quando era ainda desconhecido, em fevereiro de
2012, ele publicou um artigo na Folha de São Paulo e ao final adicionou um
pequeno résumé: “Ricardo Salles, 36,
mestre em direito público pela Universidade Yale, é advogado e presidente do
Movimento Endireita Brasil”. O The Intercept Brasil contatou a Faculdade
de Direito da Universidade de Yale e obteve a seguinte resposta: “Oi. Sinto
muito pela demora na resposta. A Faculdade de Direito não conseguiu localizar
nenhum registro indicando que Ricardo de Aquino Salles frequentou a Faculdade
de Direito de Yale”. Nos últimos tempos tem sido uma constante as pessoas
incorporarem em seu currículo a formação em uma das maiores universidades do
mundo. Pela Universidade de Yale já passaram cinco presidentes americanos e
doze agraciados como o Prêmio Nobel, difícil acreditar, portanto, que uma pessoa como o Ministro do Desmatamento possa ser aceito para um Programa de Pós-Graduação de lá.
No seu verdadeiro
currículo, por outro lado, o Ministro do Desmatamento pode acrescentar que ele foi condenado por improbidade
administrativa pela Justiça de São Paulo. A condenação foi por favorecimento de empresas de mineração filiadas à Fiesp através da alteração de mapas de zoneamento do plano
de manejo da Área de Proteção Ambiental do Rio Tietê) quando era secretário de
Meio Ambiente de São Paulo.
Após a divulgação
do vídeo da festa dos horrores da República da Rainha Louca, um grupo de
organizações ambientalistas criou uma campanha nas redes sociais, através da
hashtag #NomeAosBois. O objetivo da campanha é mostrar para a sociedade as
empresas que estariam apoiando o Ministro do Desmatamento passa a sua boiada.
Precisamos defender
nossas florestas e a população indígena. Foi nesse sentido que o premiado
fotógrafo Sebastião Salgado lançou uma campanha internacional.
Muito bom,só acho q de louca a Rainha não tem nada... Nesse DesGoverno é um pior que o outro, os interesses privados superando aos públicos.
ResponderExcluirA humanidade precisa encontrar um novo sistema, uma economia coerente com a realidade, baseada em recursos, não em dinheiro, que funciona como uma espécie de droga, que "resolve qquer problema!
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