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sábado, 18 de abril de 2020

A quem interessa uma crise política nesse momento?


A quem interessa uma crise política nesse momento?
Robson Matos

O Brasil, como todos sabemos vive uma crise sanitária jamais vista em toda a sua história. Hoje já são mais de mais de 36.500 casos confirmados e 2347 mortes e todos temos conhecimento que esses números não são reais em função da subnotificação. O Brasil ainda testa apenas 296 pessoas para cada 1 milhão. O número de testes realizados no Brasil só é maior, dentre os países da América Latina, que o da Guiana Francesa e do Suriname.

Vivenciamos, também, uma crise econômica. Entretanto, devemos salientar que a crise atual ainda não é resultante da crise sanitária. A crise econômica se arrasta há anos no Brasil e já foi agravada pela aprovação da EC95/2016, a malfadada Emenda Constitucional do teto de gastos. Essa emenda, tão celebrada pelo governo golpista era baseada no aquecimento da economia diminuindo os gastos públicos e gerando confiança no investidor. O único investimento que o Brasil conseguiu atrair foi o capital especulativo na Bolsa de Valores. Todos sabemos que sem investimento em infraestrutura não há investimento na produção.

O ano de 2019 trouxe a conta a ser paga pelo trabalhador. A aprovação da Reforma da Previdência, segundo o rei do liberalismo no Brasil, faria a economia decolar. Não se viu isso! Crescemos parcos 1,1%! Talvez tenham esquecido de colocar combustível no avião. O Brasil continuou sem investir em infraestrutura e consequentemente continuou sem atrair investimentos no setor produtivo. Em contrapartida, os bancos continuaram obtendo lucros estratosféricos.

O Presidente da República, como venho frisando em todos os artigos aqui publicados, tem a sua ação política pautada no conflito, no negacionismo e na teoria da conspiração. Dentro dessa linha de atuação, os Governadores dos estados de SP e RJ são vistos como seus possíveis futuros adversários na eleição de 2022. Dessa forma o Presidente passou a classificar a Covid-19 como uma “gripezinha” e a caracterizar as ações tomadas no combate à pandemia como histeria.

Vendo sua popularidade despencar, ele não desiste. Passa a culpar os governadores e prefeitos pelo isolamento social e pelo fechamento do comércio. Seus esforços passam a ser no sentido de proteger a economia e o emprego. Os governadores e prefeitos passam a ser classificados como “moedores de emprego”. Ele dá declarações repugnantes do tipo “muitos irão morrer, paciência, é normal!”

Após seguidas derrotas no STF, ele volta suas armas contra o Congresso Nacional. Aliás, um dos seus alvos de ataques constantes, juntamente com o STF. A gota d’água dentro de todo esse processo foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um projeto de recomposição das perdas com ICMS e ISS de Estados e Munícipios. A equipe econômica alega que o aumento da distribuição do Fundo de Participação de Munícipios seria suficiente e a recomposição dessas perdas é desnecessária. Todavia, precisamos ter em mente que o Fundo de Participação tem uma distribuição diferente. Municípios menores, ou seja, aqueles que arrecadam menos ICMS e ISS recebem uma fatia maior do fundo. Com isso, os municípios maiores teriam perdas muito maiores com a falta de arrecadação de ICMS e ISS. Importante, também, salientar que os municípios maiores concentram, e demandam, um número bem maior de leitos nesse período de crise sanitária.

De onde surge, então, a irritação do Presidente? Ela surge do fato de o Congresso Nacional estar querendo garantir mais verbas para os estados de SP e RJ. Aparentemente, dentro da cabeça do Presidente, Rodrigo Maia e Congresso Nacional são termos sinônimos, consequentemente ele dá uma entrevista a uma rede de televisão afirmando que a intenção do Rodrigo Maia é derrubá-lo criando gastos extras. O Ministro da Economia seguiu na mesma cantoria e anunciou o rompimento com Rodrigo Maia.

Resultado, estamos agora enfrentando duas crises graves: uma sanitária e uma política. Pior de tudo, o paciente possui comorbidades, ou seja, uma crise econômica pré-existente. Fica então a pergunta que dá ao título a essa análise: a quem interessa uma crise política nesse momento? A crise política interessa ao Presidente da República que se aproveitando da crise sanitária entra, de maneira vergonhosa e escancarada, em uma campanha eleitoral antecipada, convocando a população a se rebelar contra o isolamento social, contra o fechamento do comércio, a favor do fechamento do Congresso Nacional e do STF e, pasmem, contra até a OMS. Com certeza no seu minúsculo cérebro deve haver uma conspiração internacional para derrubá-lo do poder.

Enquanto o mundo inteiro luta para o achatamento de uma única curva, a da pandemia o Brasil precisa lutar pelo achatamento de inúmeras curvas: do negacionismo, da ignorância, do autoritarismo e do movimento de rebanho. Além dessas já citadas a mais premente a ser achatada é a curva da pandemia de Covid-19. 

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