A quem interessa
uma crise política nesse momento?
Robson Matos
O Brasil, como todos sabemos vive uma crise
sanitária jamais vista em toda a sua história. Hoje já são mais de mais de
36.500 casos confirmados e 2347 mortes e todos temos conhecimento que esses
números não são reais em função da subnotificação. O Brasil ainda testa apenas 296
pessoas para cada 1 milhão. O número de testes realizados no Brasil só é maior,
dentre os países da América Latina, que o da Guiana Francesa e do Suriname.
Vivenciamos, também, uma crise econômica.
Entretanto, devemos salientar que a crise atual ainda não é resultante da crise
sanitária. A crise econômica se arrasta há anos no Brasil e já foi agravada
pela aprovação da EC95/2016, a malfadada Emenda Constitucional do teto de
gastos. Essa emenda, tão celebrada pelo governo golpista era baseada no
aquecimento da economia diminuindo os gastos públicos e gerando confiança no
investidor. O único investimento que o Brasil conseguiu atrair foi o capital
especulativo na Bolsa de Valores. Todos sabemos que sem investimento em
infraestrutura não há investimento na produção.
O ano de 2019 trouxe a conta a ser paga pelo
trabalhador. A aprovação da Reforma da Previdência, segundo o rei do
liberalismo no Brasil, faria a economia decolar. Não se viu isso! Crescemos
parcos 1,1%! Talvez tenham esquecido de colocar combustível no avião. O Brasil
continuou sem investir em infraestrutura e consequentemente continuou sem atrair
investimentos no setor produtivo. Em contrapartida, os bancos continuaram
obtendo lucros estratosféricos.
O Presidente da República, como venho frisando em
todos os artigos aqui publicados, tem a sua ação política pautada no conflito,
no negacionismo e na teoria da conspiração. Dentro dessa linha de atuação, os
Governadores dos estados de SP e RJ são vistos como seus possíveis futuros adversários
na eleição de 2022. Dessa forma o Presidente passou a classificar a Covid-19
como uma “gripezinha” e a caracterizar as ações tomadas no combate à pandemia
como histeria.
Vendo sua popularidade despencar, ele não
desiste. Passa a culpar os governadores e prefeitos pelo isolamento social e
pelo fechamento do comércio. Seus esforços passam a ser no sentido de proteger
a economia e o emprego. Os governadores e prefeitos passam a ser classificados
como “moedores de emprego”. Ele dá declarações repugnantes do tipo “muitos irão
morrer, paciência, é normal!”
Após seguidas derrotas no STF, ele volta suas
armas contra o Congresso Nacional. Aliás, um dos seus alvos de ataques
constantes, juntamente com o STF. A gota d’água dentro de todo esse processo
foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um projeto de recomposição das
perdas com ICMS e ISS de Estados e Munícipios. A equipe econômica alega que o
aumento da distribuição do Fundo de Participação de Munícipios seria suficiente
e a recomposição dessas perdas é desnecessária. Todavia, precisamos ter em
mente que o Fundo de Participação tem uma distribuição diferente. Municípios menores,
ou seja, aqueles que arrecadam menos ICMS e ISS recebem uma fatia maior do
fundo. Com isso, os municípios maiores teriam perdas muito maiores com a falta
de arrecadação de ICMS e ISS. Importante, também, salientar que os municípios
maiores concentram, e demandam, um número bem maior de leitos nesse período de
crise sanitária.
De onde surge, então, a irritação do Presidente?
Ela surge do fato de o Congresso Nacional estar querendo garantir mais verbas
para os estados de SP e RJ. Aparentemente, dentro da cabeça do Presidente,
Rodrigo Maia e Congresso Nacional são termos sinônimos, consequentemente ele dá
uma entrevista a uma rede de televisão afirmando que a intenção do Rodrigo Maia
é derrubá-lo criando gastos extras. O Ministro da Economia seguiu na mesma
cantoria e anunciou o rompimento com Rodrigo Maia.
Resultado, estamos agora enfrentando duas crises
graves: uma sanitária e uma política. Pior de tudo, o paciente possui
comorbidades, ou seja, uma crise econômica pré-existente. Fica então a pergunta
que dá ao título a essa análise: a quem interessa uma crise política nesse
momento? A crise política interessa ao Presidente da República que se aproveitando
da crise sanitária entra, de maneira vergonhosa e escancarada, em uma campanha
eleitoral antecipada, convocando a população a se rebelar contra o isolamento
social, contra o fechamento do comércio, a favor do fechamento do Congresso
Nacional e do STF e, pasmem, contra até a OMS. Com certeza no seu minúsculo
cérebro deve haver uma conspiração internacional para derrubá-lo do poder.
Enquanto o mundo inteiro luta para o achatamento
de uma única curva, a da pandemia o Brasil precisa lutar pelo achatamento de
inúmeras curvas: do negacionismo, da ignorância, do autoritarismo e do
movimento de rebanho. Além dessas já citadas a mais premente a ser achatada é a curva da pandemia de Covid-19.
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