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terça-feira, 26 de maio de 2020

A PF já virou a Polícia Política da Rainha Louca?


A PF já virou a Polícia Política da Rainha Louca?
Robson Matos

Inicialmente, vamos deixar muito claro que essa é uma investigação que tem o meu total apoio. É inadmissível esse envolvimento obscuro entre o público e o privado beneficiando políticos. Mas, não podemos perder de vista os indícios de uma possível utilização da PF na caça de adversários políticos da Rainha Louca.

No início da manhã de hoje a PF deu início à Operação Placebo que investiga um esquema de desvio de dinheiro público na área de saúde no Estado do Rio de Janeiro.

Nos meus tempos de infância havia uma brincadeira que chamávamos de “mocinho vs. ladrão”, no dia de hoje estamos assistindo à brincadeira “bandido vs. bandido”. A PF cumpre 12 mandados de busca e apreensões, inclusive no Palácio Laranjeiras, residência oficial do Governador Witzel. Todos os mandados foram autorizados pelo STJ e teve participação de 15 equipes da PF. As equipes saíram de Brasília e chegaram ao Rio de Janeiro pouco antes das 5:30h de hoje.

A existência de um grande esquema de desvio de dinheiro na Secretaria de Saúde do Estado do Rio foi, inicialmente, investigada pela Policia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal e apontavam para um grande esquema de desvio de verbas públicas na construção de hospitais de campanha no estado. O esquema de corrupção envolve um antigo conhecido dos Governadores anteriores – Mário Peixoto. Ele é o dirigente da Organização Social Iabas e está sendo acusado de superfaturamento e desvio de dinheiro na construção dos hospitais de campanha. Dos 7 hospitais, apenas um foi entregue parcialmente.

O esquema de desvios no Rio de Janeiro já tinha levado à exoneração do Secretário e do Subsecretário de Saúde do estado e levado à prisão vários envolvidos no esquema. Interceptações telefônicas levam a crer que o Governador Witzel estaria envolvido no esquema de corrupção na saúde no estado. Tudo leva a crer que o esquema de desvio de verbas públicas sendo investigado funciona da mesma forma daquele ocorrido no Governo de Sérgio Cabral.

Todo esse esquema de desvio de verbas públicas da saúde é, no mínimo, lastimável. Demonstra o que estamos vendo há anos no Brasil, ou seja, um total desprezo pela população brasileira. Desviar verbas públicas é um crime horrível. Um desvio durante um período de uma crise sanitária é um crime abominável. Todos os responsáveis devem ser punidos de maneira exemplar, independentemente do cargo que ocupam.

Todavia, não podemos deixar de olhar para o outro lado de toda essa crise policial, em meio a uma crise sanitária. Precisamos nos atentar para uma outra investigação em curso, que seja, aquela sobre a interferência política na Polícia Federal.

Em um artigo anterior, alertamos sobre a possibilidade da PF, principalmente a Superintendência do Rio de Janeiro, de estar sendo aparelhada para a proteção dos filhos e dos amigos da Rainha Louca (veja aqui). O Presidente da República e os demais inquilinos do Palácio do Planalto estavam incomodados com a atuação da PF no Rio. Desde o surgimento do caso do porteiro, durante as investigações do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a Rainha Louca pressionava o ex-Ministro da Justiça, Sérgio Moro, por uma investigação sobre os supostos desvios do Governador Witzel.

É importante salientar que a investigação do caso Marielle Franco é conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual. Na cabeça da Rainha Louca existe uma perseguição, por parte do Governador do Rio, a seus familiares e amigos.

O conjunto de provas em poder do PGR aponta que a tentativa de interferência na PF era real. Tudo indica que a relutância do ex-Ministro Sérgio Moro em não deflagrar uma investigação contra Witzel levou à sua exoneração. A operação deflagrada hoje pela PF pode ser mais um indício de interferência.

A Rainha Louca, desde o ano passado, tem investido contra os Governadores do Rio e de São Paulo por entenderem que eles são fortes candidatos nas eleições de 2022. Contra Witzel existe, também, a acusação, por parte da Rainha Louca, de estar usando a investigação do caso Marielle para atingir as milícias cariocas e fica cada dia mais evidente a ligação intrínseca dessa milícia com a família da Rainha Louca.

A pesar contra o Witzel existe também rumores de que ele estava articulando um pedido de impeachment do Presidente que seria assinado por todos os Governadores de Estados e que a Rainha Louca havia tomado conhecimento dessa articulação. Esse, caso ocorra, seria um pedido inédito e de grande impacto.

Há semanas, corre nas redes sociais publicações de Deputados ligados à Rainha Louca dizendo que “o juiz vai virar réu”. Poder-se-ia imaginar que essas publicações seriam uma alusão ao Governador Witzel. Mas, essas indicações podem também indicar um possível vazamento de que haveria uma investigação contra o Governador.

Há, também, rumores de que Witzel estava temerário em relação a uma iminente operação contra ele e que o levaria à prisão. Segundo o colunista Lauro Jardim, Witzel chegou a buscar informações junto a Ministros do STJ em Brasília, fato esse, também execrável.

Os ataques ao Governador do Rio de Janeiro sempre estiveram na pauta do Presidente e de seus asseclas. Na Reunião Ministerial da República da Rainha Louca, o Presidente da Caixa acusa o Governador Witzel de estar roubando, ao comentar a prisão da esposa e da filha do Deputado Federal Luiz Lima.



A prova mais contundente de vazamento da Operação Placebo e de interferência na PF é a entrevista concedida à Rádio Gaúcha dada pela Deputada Federal Carla Zambelli, no dia de ontem.


A Deputada deixa muito claro, no trecho da entrevista, que com a saída do ex-Ministro Sérgio Moro e a troca do Diretor Geral da PF foi possível deflagrar várias investigações contra Governadores e de que haveria uma operação que levaria o possível nome de “Covidão”.

A Deputada Carla Zambelli tem se tornado uma eminência parda em assuntos relacionados ao Ministério da Justiça e à PF. Por outro lado ela tem se tornado a pessoa que mais produz provas contra a Rainha Louca. Por exemplo, a deputada tentou evitar a saída do ex-Ministro Sérgio Moro negociando a nomeação do delegado Ramagem como Delegado Geral da PF por uma cadeira no STF.
Ontem, a deputada acusou a Operação Lava Jato de ter uma predileção por investigar o PT e protegia o PSDB. Fica muito claro que a Deputada Zambelli tinha por objetivo atingir o ex-Ministro Sérgio Moro. Todavia, por inocência ou incompetência, ela não percebeu que estava atingindo o próprio Governo, do qual ela deixa transparecer, na entrevista concedida ontem à Rádio Gaúcha, fazer parte. O comentário da Deputada mostra que Sérgio Moro ajudou na eleição da Rainha Louca ao vazar, para imprensa, informações contra o PT, alvo principal do então candidato durante a campanha.

Me causa estranheza, também, o fato de a equipe responsável pela Operação Placebo ter partido de Brasília e não ter sido usada uma equipe local.

Olho com muita suspeição o fato de a Rainha Louca ter comemorado, nas redes sociais e em entrevista hoje no seu cercadinho no Palácio da Alvorada, a Operação Placebo. Além disso, a Rainha Louca parabenizou a PF pela operação contra o seu adversário. Uma atitude muito pouco republicana por parte do Presidente. Esperar-se-ia no mínimo uma demonstração de isenção para despistar o que parece ser uma flagrante transformação da Polícia Federal em Polícia Política.

Outro acontecimento que devemos observar com muita atenção é o julgamento da federalização do caso Marielle que acontecerá no STJ. Existem fortes indícios de uma interferência da Rainha Louca no STJ. Lembremos que o Presidente do STJ derrubou, dias atrás, a liminar concedida em segunda instância para que a Rainha Louca apresentasse seus exames para o novo cornonavírus. Salientamos também que os mandados concedidos hoje partiram do STJ, a pedidos do PGR, e foram assinados pelo seu Presidente. É óbvio que por haver o envolvimento de um Governador de Estado, esses mandados deveriam partir do STJ. Entretanto, causa-nos perplexidade a imediata apreensão do aparelho celular do Governador Witzel. Pergunto-me sobre a presteza do PGR na aceitação do pedido de apreensão do celular do Governador e o total silêncio em relação a pedido similar de apreensão do celular da Rainha Louca.

Não devemos perder de vista que o Presidente do STJ  parece ter muito interesse em ser nomeado ao STF na eminente aposentadoria do Ministro Celso de Mello.

Em suma, é importante nos mantermos vigilantes. Combater todo e qualquer ato ilícito é fundamental para a população brasileira. Todavia, o aparelhamento da PF para atender a projetos pessoais é inadmissível. Hoje foi contra o Governador do Rio de Janeiro, amanhã pode ser contra qualquer outro político ou cidadão que se oponha à Rainha Louca.

Fato é: como dito anteriormente, essa nova brincadeira chama-se bandido vs. bandido. Lembrando que:
· o Witzel foi eleito com a bandeira de “combate à corrupção”;
· a Rainha Louca foi eleita com a bandeira de “não aparelhamento das instituições”

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