O Ministro Coveiro saiu sem ter entrado
Robson Matos
Ocupar o cargo de Ministro no atual governo não é coisa para amadores.
Ou você concorda com o presidente ou está fora. As medidas que devem ser
tomadas são aquelas anunciadas no cercadinho do Palácio da Alvorada e difundidas
pelas milícias virtuais.
Por quase 28 dias publiquei nesse blog quatro análises sobre as
atitudes do Ministro Coveiro. Afirmei e reafirmei que ele era fraco no
discurso, fraco politicamente, desconhecia o SUS e péssimo como gestor e em
ações. Tenho certeza que não errei em nenhuma das análises. Assim como entrou,
ele saiu, sem mostrar a que veio.
O Ministro Coveiro começou criticando tudo que já havia sido feito,
mas nunca mostrou o que deveria ser feito. Passou semanas sem citar os termos “isolamento
ou distanciamento social”. Exonerou do Ministério da Saúde profissionais que
conheciam o SUS e a máquina do Ministério. Se curvou ao presidente e aceitou um
militar como Secretário Executivo. Era visível o seu desconforto e que nem ele
mesmo acreditava nas justificativas para essa nomeação. Ele passou a estar
cercado de militares e de pessoas sem qualquer conhecimento do SUS.
Era também muito claro que o Ministro Coveiro estava completamente
perdido no cargo e não tinha a menor ideia de qual ação implementar. As
entrevistas coletivas foram canceladas e as poucas que eram realizadas nenhum
dos participantes usavam o colete do SUS. Lógico que ele perdeu a simpatia da
sociedade. Saia o simpático defensor do SUS e da ciência e entrava um Ministro
que não queria divulgar o SUS e que criticava os dados científicos que eram
apresentados.
Aos poucos o Ministro Coveiro percebeu que quase todas as ações que eram
conduzidas pelo Mandetta faziam sentido. Ele então começa a fazer um discurso
muito próximo àquele feito pelo Mandetta anteriormente. Mas, lógico, sem a
oratória do Mandetta. O Ministro Coveiro começou a defender o isolamento e
manteve o protocolo de uso da cloroquina. Ele até mostrou empatia ao publicar
no Twitter uma mensagem no Dia das Mães.
O Ministro começa, então, a ser fritado. O Presidente faz uma passeata
patética ao lado de empresários e faz a ocupação do STF para discutir o
isolamento social com o Presidente do STF. Porém, ele não estava acompanhado pelo
Ministro da Saúde. Levou o dono do posto Ipiranga, afinal, inúmeros CNPJ’s
estavam na UTI. Mas, o Presidente não parou por aí. Ele publicou um decreto
declarando salões de beleza, barbearia e academias de ginástica como serviços
essenciais e o Ministro Coveiro toma conhecimento do decreto pela imprensa em uma
entrevista coletiva. Via-se claramente a sua perplexidade e desconforto com o
decreto.
Outra facada (desculpe o termo) que o Ministro Coveiro levou pelas
costas foi sobre o uso da cloroquina. O Ministro Coveiro havia publicado no
Twitter que o protocolo de uso da cloroquina permanecia o mesmo e justificava
da mesma forma do Ministro anterior.
Em mais um dos seus arroubos autoritários o Presidente da República,
em uma reunião com empresários, disse:
“Eu sou comandante e Presidente da República para decidir, para chegar
para qualquer ministro e falar o que está acontecendo. E a regra é essa e o
norte é esse. Eu não estou “estuprando” (?) nenhum Ministro e nem interferindo
em qualquer Ministério. Eu nunca fiz isso. Agora, votaram em mim para eu
decidir e essa decisão da cloroquina passa por mim. E mais do que pedir. Está
tudo bem com o Ministro da Saúde, não tenho nenhum problema com ele, acredito
no trabalho dele, mas essa questão vamos resolver. Não pode mudar o protocolo
agora? Pode mudar e vai mudar”.
O Ministro Coveiro é então chamado para uma reunião no Palácio do
Planalto e no dia seguinte pede exoneração.
Em suma, a cloroquina passa a ter mais um efeito colateral
indesejável: a derrubada de Ministros da Saúde.
O Brasil vem sendo criticado no mundo inteiro. Uma das revistas científicas
mais importantes na área médica – The Lancet – defendeu o impeachment do
Presidente Brasileiro em seu Editorial (veja aqui). Um dos jornais mais
respeitados no mundo – The Guardian – tem críticas constantes à maneira como o
Brasil está conduzindo o combate à pandemia (veja aqui). O mundo está perplexo
com a segunda troca no Ministério da Saúde do Brasil durante a pior crise
sanitária mundial em 100 anos.
Enfim, esse é o poço no qual fomos jogados por uma maioria que fez sua
escolha com base no ódio e não na competência.
Fui perguntado se não sinto pena do Teich. Lógico que não sinto. A
decisão de assumir o cargo foi dele. Ele sabia onde estava se metendo. Porém,
confesso que fiquei triste. Perdi um dos meus temas prediletos nesse blog.
Adorava escrever sobre o Ministro Coveiro.
Será que passarei a escrever sobre o Ministro Terra Plana? Ou será
sobre a Ministra Cloroquina? Alguns estão apostando em um Ministro Fardado.
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