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sábado, 16 de maio de 2020

O Ministro Coveiro saiu sem ter entrado


O Ministro Coveiro saiu sem ter entrado
Robson Matos

Ocupar o cargo de Ministro no atual governo não é coisa para amadores. Ou você concorda com o presidente ou está fora. As medidas que devem ser tomadas são aquelas anunciadas no cercadinho do Palácio da Alvorada e difundidas pelas milícias virtuais.

Por quase 28 dias publiquei nesse blog quatro análises sobre as atitudes do Ministro Coveiro. Afirmei e reafirmei que ele era fraco no discurso, fraco politicamente, desconhecia o SUS e péssimo como gestor e em ações. Tenho certeza que não errei em nenhuma das análises. Assim como entrou, ele saiu, sem mostrar a que veio.

O Ministro Coveiro começou criticando tudo que já havia sido feito, mas nunca mostrou o que deveria ser feito. Passou semanas sem citar os termos “isolamento ou distanciamento social”. Exonerou do Ministério da Saúde profissionais que conheciam o SUS e a máquina do Ministério. Se curvou ao presidente e aceitou um militar como Secretário Executivo. Era visível o seu desconforto e que nem ele mesmo acreditava nas justificativas para essa nomeação. Ele passou a estar cercado de militares e de pessoas sem qualquer conhecimento do SUS.

Era também muito claro que o Ministro Coveiro estava completamente perdido no cargo e não tinha a menor ideia de qual ação implementar. As entrevistas coletivas foram canceladas e as poucas que eram realizadas nenhum dos participantes usavam o colete do SUS. Lógico que ele perdeu a simpatia da sociedade. Saia o simpático defensor do SUS e da ciência e entrava um Ministro que não queria divulgar o SUS e que criticava os dados científicos que eram apresentados.

Aos poucos o Ministro Coveiro percebeu que quase todas as ações que eram conduzidas pelo Mandetta faziam sentido. Ele então começa a fazer um discurso muito próximo àquele feito pelo Mandetta anteriormente. Mas, lógico, sem a oratória do Mandetta. O Ministro Coveiro começou a defender o isolamento e manteve o protocolo de uso da cloroquina. Ele até mostrou empatia ao publicar no Twitter uma mensagem no Dia das Mães.

O Ministro começa, então, a ser fritado. O Presidente faz uma passeata patética ao lado de empresários e faz a ocupação do STF para discutir o isolamento social com o Presidente do STF. Porém, ele não estava acompanhado pelo Ministro da Saúde. Levou o dono do posto Ipiranga, afinal, inúmeros CNPJ’s estavam na UTI. Mas, o Presidente não parou por aí. Ele publicou um decreto declarando salões de beleza, barbearia e academias de ginástica como serviços essenciais e o Ministro Coveiro toma conhecimento do decreto pela imprensa em uma entrevista coletiva. Via-se claramente a sua perplexidade e desconforto com o decreto.

Outra facada (desculpe o termo) que o Ministro Coveiro levou pelas costas foi sobre o uso da cloroquina. O Ministro Coveiro havia publicado no Twitter que o protocolo de uso da cloroquina permanecia o mesmo e justificava da mesma forma do Ministro anterior.

Em mais um dos seus arroubos autoritários o Presidente da República, em uma reunião com empresários, disse:
“Eu sou comandante e Presidente da República para decidir, para chegar para qualquer ministro e falar o que está acontecendo. E a regra é essa e o norte é esse. Eu não estou “estuprando” (?) nenhum Ministro e nem interferindo em qualquer Ministério. Eu nunca fiz isso. Agora, votaram em mim para eu decidir e essa decisão da cloroquina passa por mim. E mais do que pedir. Está tudo bem com o Ministro da Saúde, não tenho nenhum problema com ele, acredito no trabalho dele, mas essa questão vamos resolver. Não pode mudar o protocolo agora? Pode mudar e vai mudar”.

O Ministro Coveiro é então chamado para uma reunião no Palácio do Planalto e no dia seguinte pede exoneração.

Em suma, a cloroquina passa a ter mais um efeito colateral indesejável: a derrubada de Ministros da Saúde.

O Brasil vem sendo criticado no mundo inteiro. Uma das revistas científicas mais importantes na área médica – The Lancet – defendeu o impeachment do Presidente Brasileiro em seu Editorial (veja aqui). Um dos jornais mais respeitados no mundo – The Guardian – tem críticas constantes à maneira como o Brasil está conduzindo o combate à pandemia (veja aqui). O mundo está perplexo com a segunda troca no Ministério da Saúde do Brasil durante a pior crise sanitária mundial em 100 anos.

Enfim, esse é o poço no qual fomos jogados por uma maioria que fez sua escolha com base no ódio e não na competência.

Fui perguntado se não sinto pena do Teich. Lógico que não sinto. A decisão de assumir o cargo foi dele. Ele sabia onde estava se metendo. Porém, confesso que fiquei triste. Perdi um dos meus temas prediletos nesse blog. Adorava escrever sobre o Ministro Coveiro.

Será que passarei a escrever sobre o Ministro Terra Plana? Ou será sobre a Ministra Cloroquina? Alguns estão apostando em um Ministro Fardado.


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