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terça-feira, 19 de maio de 2020

A Rainha Louca e sua Cruzada contra o Isolamento


A Rainha Louca e sua Cruzada contra o Isolamento
Robson Matos

Presidentes e Primeiros-ministros do mundo inteiro concordam que a única solução para mitigar o número de mortes pela Covid-19 é o isolamento social. Dentre os dirigentes das grandes nações do mundo, o Presidente brasileiro é o único a discordar desse entendimento. Podemos elencar inúmeras razões para explicar essa discórdia:
1. o presidente mira as eleições presidenciais de 2022 e entende que seja necessário combater qualquer possível candidato que esteja com uma popularidade em crescimento;
2. o presidente precisa sempre de um inimigo, alguém que precisa ser combatido. Essa é a maneira de ele fazer política;
3. o presidente pode sofrer de esquizofrenia e a doença pode estar em um estágio muito avançado com os sintomas sendo agravados por ele estar cercado de terraplanistas que têm como “guru” um charlatão que vive no estado da Virgínia nos EUA. Eles acreditam que o novo coronavírus foi criado única exclusivamente para derrubar o seu Governo em um complô envolvendo a grande mídia mundial e a China. Ou seja, sintomas claros de esquizofrenia. Uma pessoa que vive fora da realidade e acha que é perseguido por todos.

Todavia, entender a cabeça do Presidente da República não é tarefa fácil, nem mesmo para os melhores psiquiatras e analistas políticos. A única  previsão em relação à personalidade do presidente é que, caso seja contrariado em seus desejos, ele fará um discurso raivoso e cheio de palavrões.

Dentre os maiores economistas do Brasil e do mundo é consenso de que o isolamento social é fundamental e que uma abertura prematura da economia será muito mais prejudicial. Eles entendem que quanto mais bem feito e coordenado for o isolamento social, mais rapidamente passaremos pelo pico da doença e mais rapidamente a economia será reaberta.

Além disso, os economistas entendem que é fundamental que o Governo Federal invista maciçamente na assistência social no intuito de proteger os mais necessitados. Eles defendem também que haja uma forte ajuda para as empresas, principalmente as micro, pequenas e médias empresas. Segundo eles, não é hora de pensar em conter gastos públicos e sim em salvar vidas. Esses entendimentos são compartilhados até mesmo por economistas da chamada área liberal. O próprio Ministro da Economia já defendeu esse entendimento e inclusive indicou que o Brasil poderia, caso necessário, emitir dinheiro. Entretanto, quando ameaçado de demissão pelo Presidente da República, mudou o discurso de maneira irresponsável e chegou até a participar de uma patética “caminhada de invasão” do STF.

O Presidente Brasileiro em sua cruzada a favor do novo coronavírus já foi tema de editoriais dos mais importantes jornais e revistas do mundo: The New York Times, The Guardian, Financial Times, The Economist, The Washington Post e Le Monde, só para citar alguns. Importante salientar que o The Washington Post é controlado por uma empresa da holding da Amazon e que a Amazon tem um grande investimento no Brasil. Lembre-se também que a The Economist é considerada a bíblia dos liberais. Talvez, os editoriais mais fortes tenham sido o do periódico científico The Lancet e do jornal mais respeitado mundialmente – Le Monde. The Lancet é reconhecido como o periódico mais importante da área medica e no último trecho de seu Editorial os autores indicam a necessidade de um impeachment do presidente. Igualmente devastador foi o Editorial do Le Monde quando afirma: “Bolsonaro provoca caos na saúde e semeia morte”. O mesmo Editorial diz: “Tem alguma coisa de podre no reino do Brasil”.

Mas, absolutamente nada é capaz de convencer o Presidente da República de que o isolamento social é a única saída para se evitar o caos na saúde brasileira. Tudo indica que a sua capacidade de raciocínio lógico é muito baixa. No entendimento do presidente o isolamento não resolveu absolutamente nada porque as mortes continuam acontecendo. Ele ainda não conseguiu entender que o isolamento social não é um instrumento para evitar mortes pela Covid-19 e sim para se evitar mortes por falta de atendimento médico. É uma premissa facílima de ser entendida. A falta de um isolamento social rígido levará a um número muito elevado de contaminados aumentando a demanda por leitos de UTI e causando o colapso do sistema de saúde. Aliás, esse colapso tem sido observado em várias regiões metropolitanas.

O Presidente da República já utilizou vários expedientes para minar o isolamento social. Ele incentivou as manifestações antidemocráticas elegendo como inimigos Governadores, Prefeitos, o Congresso Nacional e o STF; já fez uma passeata de “invasão e ocupação” do STF ao lado de empresários, já convocou os empresários para uma “guerra” contra Governadores e Prefeitos e já decretou academias de ginástica e salões de beleza como serviços essenciais.

No campo econômico, o presidente vem se utilizando de instrumentos desumanos e demonstrando total irresponsabilidade e falta de empatia. A Caixa vem dificultando ao máximo ao recebimento do auxílio emergencial. Não fosse o caráter ideológico do atual Governo, o cadastramento das pessoas em risco econômico poderia ser feito de maneira rápida e segura pelas diversas ONGs que atuam nesse campo. Existem centenas de profissionais especializados em distribuição de renda no Brasil. Todavia, recorrer a esses profissionais poderia soar de maneira ruim na base raivosa do presidente.

Hoje, finalmente foi sancionada a Lei de crédito a pequenas e médias empresas. Entretanto, a Lei foi sancionada com veto. A Lei previa 8 meses de carência para que esses empresários começassem a pagar os empréstimos contraídos para o pagamento da folha. Essa atitude mostra claramente que o presidente tem a intenção, como já demonstrou anteriormente, de sufocar financeiramente o empresariado,  forçando-os a lutar pela reabertura da economia.

No mesmo sentido, a Lei de socorro aos Estados e Municípios, aprovada pela Câmara e Senado no último dia 6, ainda não foi sancionada pela Presidência da República. Esse socorro a Estados e Municípios é fundamental no combate à pandemia. A demora na liberação desses recursos coloca em grave risco os investimentos na saúde e pode levar a muito mais mortes por falta de atendimento hospitalar. Uma médica, que trabalha na emergência de um dos maiores hospitais públicos de Fortaleza, declarou: “A gente acaba escolhendo quem terá mais chances de sobreviver”. Essa é a triste e cruel realidade para a qual estamos caminhando. O SUS sempre teve deficiência de leitos de UTI, mas o avanço da pandemia aumentou a demanda por mais leitos. Porém, o aumento do número de leitos de UTI não está sendo suficiente em face do aumento estarrecedor do número de casos graves. O Estado do Rio de Janeiro informou ontem que já existem casos em todos os 92 municípios do Estado. É público e notório que os pequenos municípios possuem poucos leitos de UTI. Na realidade, alguns municípios nem possuem leitos de UTI.

Alguns países europeus começaram a reabrir a economia com critérios muito rígidos, responsáveis e com o apoio da ciência. Portugal foi considerado um modelo, dentre os países europeus, no combate a pandemia do novo coronavírus e está na segunda fase de reabertura da economia. Entretanto, a abertura não tem surtido efeitos na economia. Segundo estudos da Escola Nacional de Saúde Pública, na primeira fase do fim da quarentena o número de pessoas nas ruas aumentou em apenas 2%. A população portuguesa, como a de outros países, tem demonstrado receio e evita circular pela cidade. Logo, a economia não está sendo reaquecida.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que o Brasil deve ter um desempenho econômico pior que 155 países dentre 190 analisados. Segundo o Ibre a crise política soma-se à crise sanitária que leva a uma crise econômica mais grave. Além disso, vários economistas apontam que as medidas econômicas adotadas pelo Governo são insuficientes e não chegam a quem precisa. A relutância do Governo Federal em socorrer a população mais economicamente necessitada e aos micros, pequenos e médios empreendedores dificultará a recuperação econômica.

Venho defendendo a criação, por Governadores e Prefeitos, de um Ministério da Saúde paralelo. Os Governadores dos Estados do Nordeste têm feito um excelente trabalho. Eles criaram um comitê científico, comandado por um dos pesquisadores brasileiros mais mundialmente reconhecidos e em cima dos estudos desse comitê tomam as decisões em relação à necessidade do isolamento. Defendo que esse comitê tenha sua área de atuação estendida para todos os Estados brasileiros, somando-se aos comitês já existentes nos demais Estados.

A cada dia fica mais evidente que o Presidente da República não tem condições de comandar o país, seja durante uma pandemia ou fora dela. Infelizmente, desde a sua eleição ele não abandonou o palanque e continua governando para os seus discípulos. Qualquer cidadão ou instituição que a ele se opõem sofre perseguição e execração pública. O Presidente da República é desprovido de qualquer sentimento de empatia, humanidade e responsabilidade. Nele sobram os sentimentos de ódio, egocentrismo e autoritarismo.

O Brasil não pode continuar a ser comandado por uma Rainha Louca!
Precisamos urgentemente aumentar as manifestações contra esse Governo autoritário e genocida. Por enquanto, por sermos responsáveis, temos que nos manifestar pelas redes sociais e das janelas e sacadas de nossas casas. Outra possibilidade é uma manifestação virtual ao estilo que foi feita em defesa da ciência semanas atrás ou através de projeções em prédios. Só a união dos que sonham com uma Nação de verdade e que cuida dos seus cidadãos pode salvar esse país do ódio, do desamor, da falta de empatia e da desumanidade.

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