A Rainha Louca e sua Cruzada contra o Isolamento
Robson Matos
Presidentes e Primeiros-ministros do mundo inteiro concordam que a
única solução para mitigar o número de mortes pela Covid-19 é o isolamento
social. Dentre os dirigentes das grandes nações do mundo, o Presidente brasileiro
é o único a discordar desse entendimento. Podemos elencar inúmeras razões para
explicar essa discórdia:
1. o presidente mira as eleições presidenciais de
2022 e entende que seja necessário combater qualquer possível candidato que
esteja com uma popularidade em crescimento;
2. o presidente precisa sempre de um inimigo, alguém
que precisa ser combatido. Essa é a maneira de ele fazer política;
3. o presidente pode sofrer de esquizofrenia e a
doença pode estar em um estágio muito avançado com os sintomas sendo agravados por
ele estar cercado de terraplanistas que têm como “guru” um charlatão que vive
no estado da Virgínia nos EUA. Eles acreditam que o novo coronavírus foi criado
única exclusivamente para derrubar o seu Governo em um complô envolvendo a
grande mídia mundial e a China. Ou seja, sintomas claros de esquizofrenia. Uma
pessoa que vive fora da realidade e acha que é perseguido por todos.
Todavia, entender a cabeça do Presidente
da República não é tarefa fácil, nem mesmo para os melhores psiquiatras e
analistas políticos. A única previsão em relação à personalidade do
presidente é que, caso seja contrariado em seus desejos, ele fará um discurso
raivoso e cheio de palavrões.
Dentre os maiores economistas do Brasil e
do mundo é consenso de que o isolamento social é fundamental e que uma abertura
prematura da economia será muito mais prejudicial. Eles entendem que quanto
mais bem feito e coordenado for o isolamento social, mais rapidamente
passaremos pelo pico da doença e mais rapidamente a economia será reaberta.
Além disso, os economistas entendem que é
fundamental que o Governo Federal invista maciçamente na assistência social no
intuito de proteger os mais necessitados. Eles defendem também que haja uma
forte ajuda para as empresas, principalmente as micro, pequenas e médias empresas. Segundo
eles, não é hora de pensar em conter gastos públicos e sim em salvar vidas.
Esses entendimentos são compartilhados até mesmo por economistas da chamada
área liberal. O próprio Ministro da Economia já defendeu esse entendimento e
inclusive indicou que o Brasil poderia, caso necessário, emitir dinheiro.
Entretanto, quando ameaçado de demissão pelo Presidente da República, mudou o discurso de
maneira irresponsável e chegou até a participar de uma patética “caminhada de
invasão” do STF.
O Presidente Brasileiro em sua cruzada a
favor do novo coronavírus já foi tema de editoriais dos mais importantes
jornais e revistas do mundo: The New York Times, The Guardian, Financial Times,
The Economist, The Washington Post e Le Monde, só para citar alguns. Importante
salientar que o The Washington Post é controlado por uma empresa da holding da
Amazon e que a Amazon tem um grande investimento no Brasil. Lembre-se também
que a The Economist é considerada a bíblia dos liberais. Talvez, os editoriais
mais fortes tenham sido o do periódico científico The Lancet e do jornal mais
respeitado mundialmente – Le Monde. The Lancet é reconhecido como o periódico
mais importante da área medica e no último trecho de seu Editorial os autores
indicam a necessidade de um impeachment do presidente. Igualmente devastador
foi o Editorial do Le Monde quando afirma: “Bolsonaro provoca caos na saúde e
semeia morte”. O mesmo Editorial diz: “Tem alguma coisa de podre no reino do
Brasil”.
Mas, absolutamente nada é capaz de
convencer o Presidente da República de que o isolamento social é a única saída
para se evitar o caos na saúde brasileira. Tudo indica que a sua capacidade de
raciocínio lógico é muito baixa. No entendimento do presidente o isolamento não
resolveu absolutamente nada porque as mortes continuam acontecendo. Ele ainda
não conseguiu entender que o isolamento social não é um instrumento para evitar
mortes pela Covid-19 e sim para se evitar mortes por falta de atendimento
médico. É uma premissa facílima de ser entendida. A falta de um isolamento
social rígido levará a um número muito elevado de contaminados aumentando a
demanda por leitos de UTI e causando o colapso do sistema de saúde. Aliás, esse colapso tem sido observado em várias regiões metropolitanas.
O Presidente da República já utilizou
vários expedientes para minar o isolamento social. Ele incentivou as
manifestações antidemocráticas elegendo como inimigos Governadores, Prefeitos,
o Congresso Nacional e o STF; já fez uma passeata de “invasão e ocupação” do
STF ao lado de empresários, já convocou os empresários para uma “guerra” contra
Governadores e Prefeitos e já decretou academias de ginástica e salões de
beleza como serviços essenciais.
No campo econômico, o presidente vem se
utilizando de instrumentos desumanos e demonstrando total irresponsabilidade e
falta de empatia. A Caixa vem dificultando ao máximo ao recebimento do auxílio
emergencial. Não fosse o caráter ideológico do atual Governo, o cadastramento
das pessoas em risco econômico poderia ser feito de maneira rápida e segura
pelas diversas ONGs que atuam nesse campo. Existem centenas de profissionais
especializados em distribuição de renda no Brasil. Todavia, recorrer a esses
profissionais poderia soar de maneira ruim na base raivosa do presidente.
Hoje, finalmente foi sancionada a Lei de
crédito a pequenas e médias empresas. Entretanto, a Lei foi sancionada com veto.
A Lei previa 8 meses de carência para que esses empresários começassem a pagar
os empréstimos contraídos para o pagamento da folha. Essa atitude mostra
claramente que o presidente tem a intenção, como já demonstrou anteriormente,
de sufocar financeiramente o empresariado, forçando-os a lutar pela
reabertura da economia.
No mesmo sentido, a Lei de socorro aos
Estados e Municípios, aprovada pela Câmara e Senado no último dia 6, ainda não
foi sancionada pela Presidência da República. Esse socorro a Estados e
Municípios é fundamental no combate à pandemia. A demora na liberação desses recursos coloca em grave risco os investimentos na saúde e pode levar a muito
mais mortes por falta de atendimento hospitalar. Uma médica, que trabalha na
emergência de um dos maiores hospitais públicos de Fortaleza, declarou: “A
gente acaba escolhendo quem terá mais chances de sobreviver”. Essa é a triste e
cruel realidade para a qual estamos caminhando. O SUS sempre teve deficiência
de leitos de UTI, mas o avanço da pandemia aumentou a demanda por mais leitos. Porém,
o aumento do número de leitos de UTI não está sendo suficiente em face do
aumento estarrecedor do número de casos graves. O Estado do Rio de Janeiro
informou ontem que já existem casos em todos os 92 municípios do Estado. É
público e notório que os pequenos municípios possuem poucos leitos de UTI. Na
realidade, alguns municípios nem possuem leitos de UTI.
Alguns países europeus começaram a
reabrir a economia com critérios muito rígidos, responsáveis e com o apoio da
ciência. Portugal foi considerado um modelo, dentre os países europeus, no combate
a pandemia do novo coronavírus e está na segunda fase de reabertura da
economia. Entretanto, a abertura não tem surtido efeitos na economia. Segundo
estudos da Escola Nacional de Saúde Pública, na primeira fase do fim da
quarentena o número de pessoas nas ruas aumentou em apenas 2%. A população
portuguesa, como a de outros países, tem demonstrado receio e evita circular
pela cidade. Logo, a economia não está sendo reaquecida.
Um estudo do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que o Brasil deve ter um
desempenho econômico pior que 155 países dentre 190 analisados. Segundo o Ibre
a crise política soma-se à crise sanitária que leva a uma crise econômica mais grave. Além
disso, vários economistas apontam que as medidas econômicas adotadas pelo Governo são insuficientes e não
chegam a quem precisa. A relutância do Governo Federal em socorrer a população
mais economicamente necessitada e aos micros, pequenos e médios empreendedores
dificultará a recuperação econômica.
Venho defendendo a criação, por Governadores e Prefeitos, de um
Ministério da Saúde paralelo. Os Governadores dos
Estados do Nordeste têm feito um excelente trabalho. Eles criaram um comitê
científico, comandado por um dos pesquisadores brasileiros mais mundialmente reconhecidos
e em cima dos estudos desse comitê tomam as decisões em relação à necessidade
do isolamento. Defendo que esse comitê tenha sua área de atuação estendida para
todos os Estados brasileiros, somando-se aos comitês já existentes nos demais Estados.
A cada dia fica mais evidente que o
Presidente da República não tem condições de comandar o país, seja durante uma
pandemia ou fora dela. Infelizmente, desde a sua eleição ele não abandonou o
palanque e continua governando para os seus discípulos. Qualquer cidadão ou
instituição que a ele se opõem sofre perseguição e execração pública. O
Presidente da República é desprovido de qualquer sentimento de empatia,
humanidade e responsabilidade. Nele sobram os sentimentos de ódio, egocentrismo
e autoritarismo.
O Brasil não pode continuar a ser
comandado por uma Rainha Louca!
Precisamos urgentemente aumentar as
manifestações contra esse Governo autoritário e genocida. Por enquanto, por
sermos responsáveis, temos que nos manifestar pelas redes sociais e das
janelas e sacadas de nossas casas. Outra possibilidade é uma manifestação virtual ao estilo que foi feita em defesa da ciência semanas atrás ou através de projeções em prédios. Só a união dos que sonham com uma Nação de
verdade e que cuida dos seus cidadãos pode salvar esse país do ódio, do
desamor, da falta de empatia e da desumanidade.
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