O Ministro Gagá ameaça novamente!
Robson Matos
Ontem (22 de maio) não foi a primeira vez que o General Augusto Heleno
fez ataques e ameaças às instituições democráticas constituídas. No último dia
18 de fevereiro o Ministro Gagá acusou o Congresso Nacional de “chantagear” o
governo o tempo todo. Naquela época a relação do Executivo não era boa e acabou
piorando ainda mais.
Ainda no início do mês de maio, o General Heleno e os componentes da
chamada ala militar do governo se irritaram com a decisão do Ministro Celso de
Melo do STF, que determinava a intimação dos
Ministros Militares para prestarem depoimento:
“se as
testemunhas que dispõem da prerrogativa fundada no art. 221 do CPP, deixarem de
comparecer, sem justa causa, na data por elas previamente ajustada com a
autoridade policial federal, perderão tal prerrogativa e, redesignada nova data
para seu comparecimento em até 05 (cinco) dias úteis, estarão sujeitas, como
qualquer cidadão, não importando o grau hierárquico que ostentem no âmbito da
República, à condução coercitiva ou “debaixo de vara”
O grupo se irritou
com os termos “condução coercitiva” ou “debaixo de vara”, como se estivessem
acima da Lei. Os termos utilizados pelo Ministro Celso de Melo só poderiam ser
considerados como “desrespeito”, caso a lei permitisse diferentes tratamentos
de acordo com a posição do cidadão na sociedade. Mas, nesse caso, não
estaríamos vivendo sob um Estado Democrático de Direito e sim sob um Regime
autoritário, como parece ser o desejo do Ministro Gagá.
Todavia, o General
Augusto Heleno passou do limite através da publicação de uma “Nota à Nação
Brasileira”. Na Nota (reproduzida a seguir), o Ministro Gagá faz uma grave e
desnecessária ameaça ao Supremo Tribunal Federal. Ele afirma que o pedido de
apreensão do celular do Presidente é “inconcebível, e até certo ponto,
inacreditável” e continua e faz uma ameaça clara às “autoridades constituídas
que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os
poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
É importante que
observemos, com muito cuidado, que a nota acima não expressa a posição pessoal
do Ministro Gagá. Essa é uma Nota Oficial do Gabinete de Segurança
Institucional, ou seja, um órgão do Poder Executivo. Em virtude disso, a Nota
torna-se mais preocupante e gravíssima, além de constituir um crime de
responsabilidade.
Essa Nota deixa
escancarada a incompetência do Ministro Gagá, qualidade muito encontrada no Ministério
da Rainha Louca. A Nota é intempestiva. Qualquer pessoa com mínimos
conhecimentos básicos na área jurídica sabe que dentre as atribuições do STF
não consta aquela de fazer uma acusação. A tarefa de aceitar uma denúncia cabe
ao Ministério Público. Se o Ministro não tem conhecimento jurídico, caberia a ele recorrer ao Advogado Geral da União. Entretanto, fica muito claro que a intenção dele e de toda a ala ideológica do Governo é provocar tumulto e incitar os apoiadores raivosos para levar o Brasil aos caminhos de uma Ditadura.
A intempestiva, antidemocrática,
ameaçadora e desqualificada Nota assinada pelo Ministro Gagá levou o Ministro
Celso de Melo a divulgar uma Nota Oficial (veja aqui) explicando que não tomou
a decisão de apreensão do celular do Presidente da República. Como dizemos na
minha terra, o Ministro Gagá poderia ter ido dormir sem essa.
Para tentarmos
entender as atitudes tomadas pelo Ministro Gagá, precisamos voltar um pouco no
seu passado. Na década de 1970, então com 20 anos, ele se tornou
instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras. Em 1977, o General foi promovido
a Capitão e assumiu o cargo de ajudante de ordens no Gabinete do Ministro do
Exército à época, General Sylvio Frota.
E quem foi o
General Sylvio Frota? O General era um dos membros da chamada linha mais dura das Forças Armadas. Ele foi demitido, em outubro de 1977, ao se colocar
como candidato das Forças Armadas à sucessão do Presidente Geisel. No dia
seguinte à sua demissão o General divulga um Manifesto (veja aqui), que foi
distribuído nos Quartéis do Exército, que tentava promover um novo golpe.
Segundo o Ministro Gagá, e eu tendo a concordar com ele, o seu papel no levante
foi “irrelevante”. Todavia, é importante apresentar esse fato para entendermos
onde começou a formação política desse General que hoje ocupa um posto
estratégico. O Gabinete de Segurança Institucional é um órgão do Poder
Executivo de onde pode surgir um ataque real às Instituições Democráticas
constituídas.
O Ministro Gagá
mostra claramente o seu autoritarismo e sua sede pelo poder. Ele, que se dizia
comprometido como o combate à corrupção e à chamada “velha política”, parece
estar muito mais agarrado ao cargo que a qualquer outra coisa. Ainda durante a
campanha eleitoral de 2018, ele criticava a chamada “velha política” com a sua
prática de “toma lá dá cá” chamando os integrantes do Centrão de ladrões (Clique aqui para assistir ao vídeo).
Atualmente, para
evitar uma autorização de investigação por crime comum ou um pedido de
impeachment, a Rainha Louca está negociando com o grupo que o Ministro Gagá
dizia ser constituído apenas de ladrões. O que faz o Ministro Gagá? Cara de
paisagem e como se não fosse com ele.
A intitulada “Nota
à Nação Brasileira” não pode ser combatida apenas com as corriqueiras “Notas de
Repúdio” e as “Declarações” de autoridades e instituições nas redes sociais,
com as quais nos acostumamos durante a pandemia. É necessário que haja uma resposta
contumaz, não apenas ao Ministro Gagá, mas ao Poder Executivo, representado
pelo Gabinete de Segurança Institucional.
O Procurador Geral
da República precisa agir com independência e fazer a denúncia de crime de
responsabilidade contra o General Augusto Heleno rapidamente. O Ministério Público
Federal, é constitucionalmente, uma entidade independente do Poder Executivo e
o PGR não pode agir tendo como meta uma cadeira no STF. O MPF foi estabelecido pela Constituição Cidadã para defender os interesses da sociedade brasileira.
Não podemos mais
aceitar ameaças do Ministro Gagá, que parece não entender como funciona uma
democracia e o poder tripartite.
Excelente!!!
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