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sábado, 11 de julho de 2015

Jalecos Verdes Maduros

JALECOS VERDES MADUROS.
Robson Mendes Matos

Lá se foram mais de 40 anos! Uma vida! Quantas transformações assistimos? O lema “Brasil Ame-o ou Deixe-o” começa a ser abandonado por muitos de nós e trocado por um novo lema: “Abaixo a Ditadura!”. Assistimos à “... volta do irmão do Henfil e de tanta gente que partiu, num rabo de foguete...”! Assistimos ao povo brasileiro voltar a escolher um presidente e até votamos pela primeira vez! Vimos o Brasil passar de tri a pentacampeão, além de ver a Jules Rimet ser derretida! Tornamos a aplaudir o Hino Nacional! Voltamos a ser um povo livre, com um livre pensar! A Guerra Fria acabou, a União Soviética se desintegrou, o muro que dividia uma nação ruiu! No Brasil, fomos para as ruas e derrubamos um presidente! A política brasileira ainda está sombria, mas já bem distante dos tempos que ainda vestíamos Jalecos Verdes.
Hoje estamos crescidos! Viramos mulheres e homens, mas durante um final de tarde nos deixamos voltar aos tempos de meninas e meninos novamente. Muitos de nós sentimo-nos como no primeiro dia de aula! A ansiedade de rever e reconhecer os “re-novos” amigos! O prédio não mais cheira a novo, mas as novas gerações não deixaram o mofo o consumir!
A alegria tomou conta do rosto de todos! Abraços, risadas, beijos, surpresas eram as alegorias principais daquela re-entrada no prédio que inauguramos! O portão por onde passamos por quatro anos foi tomado de meninas e meninos! Estava nítido que mesmo com todas as transformações físicas sofridas, ali ainda estava um bando de crianças felizes. O sinal, o mesmo antigo sinal que anunciava o horário da entrada, teve que tocar insistentemente por várias vezes, para que aquela mulecada resolvesse tomar o rumo das salas de aula.
Opa! Onde está a D. Neuza para carimbar nossas carteirinhas? Onde está nossa eterna diretora para fiscalizar o uso do uniforme, o cumprimento das saias, a forma que os kichutes estão amarrados? Onde estão aqueles que vendiam “carimbadas” de “PRESENTE” para os que faltaram ao dia anterior? Onde está o meu amigo que roubava o carimbo da D. Neuza para carimbar as costas das coleguinhas? Onde está?
a Variant, alvo de tantas travessuras? À medida que nos dirigimos para o corredor das salas de aula as histórias vão sendo revividas nas nossas memórias! Lá vamos caminhando e contando aos nossos filhos e netos as histórias vividas naquele prédio.
As transformações no prédio apagam as lembranças físicas de bagunças feitas! Os vestiários não existem mais e com ele se foram os buracos usados para observarmos as meninas durante o banho e vice-versa! O professor de Educação Física não pode mais ficar preso na sala de bolas! Nosso coleguinha não pode mais ser derrubado do pé de jaca e nossos amigos não podem mais regurgitar jaca durante a aula! Os coelhos não podem ser mais libertados para se alimentarem da couve na horta cultivada por nós! Eles também não podem ser mais degustados durante as aulas de Educação para o Lar, que, aliás, tiveram as suas agulhas roubadas pela última vez! Os microscópios, que foram fontes inspiradoras de alguns apelidos criados para os colegas, não mais existem! A tão temida sala da diretora, frequentada insistentemente por alguns de nós, mudou de lugar!
Porém, apesar disto tudo, temos a nítida certeza de que cada uma destas infinitas histórias está guardada nas memórias e nos corações de cada um de nós! Se cada um dos tijolos deste tão amado prédio tivesse um único minuto de voz, todas estas histórias seriam contadas e muitas risadas seriam ouvidas.
Estamos novamente organizados para ouvir ao Hino Nacional! O temor por nossa diretora dá lugar à admiração! Hoje entendemos o papel que ela exercia e a agradecemos por ter agido desta maneira! Hoje, mesmo voltando ao tempo de criança, temos uma visão menos rebelde.
Em seu discurso a nossa diretora deixa transparecer toda a sua doçura! Doçura esta que muito provavelmente ela sempre teve como característica. Nossos olhos que talvez não a enxergassem. Não mais somos chamados à sala da diretora, pelo contrário, ela sim é chamada para posar ao nosso lado para um tão orgulhoso “selfie”! Ela, agora dando-se  o direito de demonstrar todo seu carinho de forma mais clara, pronuncia palavras de carinho e acaricia a cabeça de cada um de nós com grande espontaneidade e pura veracidade.
Nosso querido vice-diretor também se fez presente, ao lado de muitos de nossos amados professores e funcionários.
Atentos a tudo estão maridos, esposas, filhos e netos. Dentro deles, com certeza, surgiu o desejo de ter sido um Jaleco Verde.
Nem todos puderam estar presentes, por motivos diversos! Compromissos agendados previamente, compromissos inadiáveis surgidos de última hora ou imprevistos fizeram com que eles se ausentassem. Esperamos que alguns destes ausentes possam substituir o termo “AUSENTE” na carteirinha quando da realização do próximo! Outros se fizeram ausentes por não estarem mais na dimensão da Terra. Porém, temos a certeza de que estes ausentes estiveram presentes no coração e nas mentes de cada um de nós!
Algumas lições foram também aprendidas nestas poucas horas dentro da nossa antiga escola!
SOMOS JALECOS VERDES PARA SEMPRE, MESMO QUE MAIS MADUROS! NEM MESMO O LONGO PERÍODO DE SEPARAÇÃO ENTRE NÓS FOI CAPAZ DE DESTRUIR A AMIZADE E A UNIÃO CRIADA EM TORNO DA NOSSA VESTIMENTA QUE SE TORNOU NOSSA MARCA REGISTRADA:

OS JALECOS VERDES! 

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