Robson Matos
Ainda está viva em minha memória aquela tarde do dia 14 de outubro de 2004. Tinha chegado a hora que a grande maioria dos professores da UFMG aguardou por anos. Dava início à assembleia de professores para decidir pelo apoio ou não à criação de uma nova entidade nacional de representação dos docentes das universidades federais.Foi uma assembleia tensa com longos e acolorados debates. Acusações de lado a lado, mas enfim uma decisão que até pouco muito me orgulhava. Dava-se início à realização de um sonho da grande maioria dos professores da UFMG. Na noite deste mesmo dia, partimos em comitiva para Brasília onde se daria a criação da nova entidade que nascia com o apoio de professores de inúmeras universidades federais de todas as regiões do Brasil.
No dia dos professores de 2004, pudemos então comemorar o nascimento de uma entidade disposta a estar mais próxima à base. Nosso maior objetivo era trabalhar para que a voz e o voto de cada professor tivesse o mesmo peso. Uma entidade que estaria distante dos vícios e dos erros que levaram a outra entidade à insensatez de defender mais ardorosamente interesses partidários e de outros que não os da classe que representava.
Não tínhamos medo do novo. Acreditávamos na democracia em seu sentido mais amplo. Ou seja, a democracia deve ser a arte de se chegar ao consenso, mas jamais a arte de impor a vontade da maioria sobre a minoria. Democracia é saber muito mais ouvir do que falar.
Dentro deste espírito, esta nova entidade foi colhendo bons frutos. Os resultados das negociações salariais fizeram com que os docentes voltassem a acreditar no sindicalismo. Os professores voltavam a participar dos debates junto ao MEC sobre temas concernentes à universidade.
Passados dois anos de sua fundação, a nova entidade já começava a ser tomada por algo que cheirava velho. A unicidade em torno do ideal que a fez nascer já não existia. Notava-se claramente uma briga feroz e suja pelo poder. As votações por consenso não mais existiam. Agora era tudo voto a voto e cada um defendendo com unhas e dentes o que os docentes de sua universidade queriam. Sensato? Talvez. Mas o que se via eram pessoas defendendo os ideais de suas universidades para alavancar suas próprias carreiras políticas locais. Em determinados momentos sentia-me mal em relatar reinvidicações aprovadas pela diretoria desta entidade que beneficiariam muito mais a classe da carreira a qual pertenço do que qualquer outra.
Foi ai que, infelizmente, me dei conta de que havia ajudado a recriar o velho com uma nova roupagem. A nova entidade caminhava a passos largos para se transformar naquilo que a UFMG abominava. Pensei, precisamos dar tempo ao tempo. A situação pode se reverter e voltarmos ao ideal que pretendíamos.
Infelizmente as coisas pioraram ainda mais quando um diretor de uma das associações docentes próximas à esta nova entidade teve a infeliz ideia de transformá-la em um sindicato nacional. Pronto! Era o tiro de misericórdia! Minha percepção novamente mudou. Cheguei à conclusão de que jamais chegamos a criar o novo. Tentamos criar o novo, mas não fomos capazes! Fizemos nada mais nada menos que reinventar o velho.
A ideia estapafúrdia de transformação desta nova entidade em sindicato nacional a levou ao distanciamento da base. Eles esqueceram que nós docentes temos problemas salariais sérios, que temos problemas crônicos em relação às nossas carreiras e que as universidades federais, apesar da grande melhoria observada nos últimos anos, ainda precisam de inúmeros avanços. Pouco ou quase nada se ouve em relação às ações levadas a cabo por esta nova entidade. O que se ouve diz a respeito a brigas judiciais infindáveis em torno de registro sindicais.
Lamentável estar expondo tudo isto aqui, mas precisava fazê-lo para poder dormir com mais tranquilidade.
Neste ponto, dirijo-me especificamente a cada um dos meus colegas da UFMG que tanto nos apoiou nestas empreitadas e peço do fundo do coração as minhas mais humildes desculpas por tê-los levado a acreditar que estávamos criando algo novo. Infelizmente não estávamos! Até pouco tempo acreditava que o novo havia sido criado e que bastava uma alternância no poder para que a entidade voltasse aos seus ideais. Colegas, confesso não acredito mais nesta nova velha entidade. Não dá para acreditar em uma entidade menor que as pessoas. Não dá para acreditar em uma entidade na qual não há alternância de poder e sim alternância de cadeiras.
Mas o sonho acabou? Lógico que não! Sonhos nunca acabam! Infelizmente não estou mais na UFMG que sempre tirou o movimento docente da inércia! Mas meu sonho hoje passa um pouco mais longe desta entidade. Passa por uma federação de sindicatos locais.
Gostaria de pedir desculpas especialmente a um professor, sem citar o seu nome. Este professor disse-me, ao final da assembleia do dia 14 de novembro de 2004, com toda a clareza que lhe sempre foi peculiar: "Vocês estão criando o Pró...." Ah! deixa pra lá o que ele achava que estávamos criando! Mas a verdade é querido colega professor. O senhor estava absolutamente correto. Desculpe-me.
Robson Matos
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