O Ministro da Evangelização?
Robson Matos
Embora a grande
mídia contabilize 21 dias sem um titular no MEC, tenho uma visão diferente: estamos
há 18 meses sem um Ministro da Educação! Desde que assumiu a Presidência, a
Rainha Louca tem utilizado o MEC como sua plataforma de disseminação de ódio e de
ideologias de extrema direita. O MEC foi ocupado por seguidores do charlatão
que vive na Virgínia (EUA) e com isso toda a política educacional em vigor no
país foram destroçadas.
O Ministério da Educação
tem o maior orçamento da Esplanada dos Ministérios e não pode ser ocupado por
amadores e/ou aventureiros. Nesses últimos 18 meses não houve a apresentação de
qualquer política pública para a área da educação e houve o rompimento total do
diálogo do Ministério com as Secretarias de Educação – Estaduais e Municipais –
e com as Instituições de Ensino Superior (IFE). Os ocupantes do MEC se
afastaram também do Congresso Nacional e não conseguiram apresentar aos
parlamentares os planos para a área de educação. Os diálogos deram lugar à
afronta, desqualificação e tentativas de intervenção nas Universidades.
Com a chegada da
pandemia, as escolas fecharam e a situação se agravou. Diante do clamor pelo
adiamento das provas do Enem, o mais imbecil a ocupar o MEC relutou em aceitar
o adiamento. Por pressão da sociedade e diante da ameaça do Congresso decidir
pelo adiamento o MEC decidiu por um adiamento e definição de uma nova data após
ouvir os estudantes inscritos. Embora a maioria dos que responderam ao
questionamento tenha decidido pelo Enem ser realizado em maio de 2021, o MEC
marcou as provas para janeiro. Ou seja, a política de confronto ainda vigora na
área.
Vários são os
problemas a serem enfrentados pelo novo Pastor – ops, perdão – pelo novo
Ministro da Educação. Sobre a mesa do Ministro estão a prorrogação do Fundo
Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb) em discussão no
Congresso, a proposta de volta às aulas apresentada pelo Conselho Nacional de
Educação, a retomada do diálogo com as Secretarias de Educação e as IFE’s e a
elaboração de um Plano de Desenvolvimento para a Educação.
Como se vê, muitos
são os desafios e enormes são as dúvidas que pairam sobre o novo Ministro da Educação
– Milton Ribeiro. Assim, devemos verificar as credenciais do Pastor.
Como vimos,
diferentemente do Decotelli, o Pastor não fraudou seu Currículo Lattes.
Entretanto, verifica-se que Milton Ribeiro não possui qualquer experiência em
gestão pública, além de não possuir qualquer experiência na área de educação.
Destaco, também, a minha estranheza com o fato de a tese do Pastor Ribeiro não
haver gerado um único artigo publicado. A maioria dos Programas de
Pós-graduação brasileiros tem como exigência para a defesa da tese, o candidato
haver publicado pelo menos um artigo em revista indexada. Aparentemente o
Programa Faculdade de Educação da USP não possuía essa exigência em 2006,
diferentemente de outros Programas do país que passaram a ter essa exigência
ainda no final da década de 1990.
No entanto, o mais
preocupante é o pensamento retrógrado do Pastor Ribeiro, já expressado por ele
em várias ocasiões no passado. O próprio Pastor parece entender que isso depões
contra ele, uma vez que apagou os vídeos de suas redes sociais e do seu canal
no YouTube.
O Pastor já
expressou seus pensamentos machistas, homofóbicos e já até defendeu o feminicídio:
Ao que parece, o
Pastor é mais um a entrar no time dos “terrivelmente evangélicos” da República da
Rainha Louca.
Além de suas
ideias inspiradas no século XIX, o Pastor volta com a mesma cantilena da
prioridade à educação básica, conforme mensagem enviada a amigos e divulgada
pela revista Veja:
“Acredito
ser hora de darmos atenção especial à educação básica, fundamental e ao ensino
profissionalizante. Ao mesmo tempo devemos incrementar o ensino superior e a
pesquisa científica. Atuaremos em articulação com os Estados, Municípios e seus
gestores para mudar a história da educação do nosso país”.
Felizmente, o novo
Ministro promete não esquecer dos incentivos às Universidades. Porém, ainda há
o temor de ele continuar a política de destruição das IFES como fazia o
Ministro Fujão, haja vista o seu entendimento no passado sobre essas
instituições.
Muito preocupante
também é a maneira que o novo Ministro acha que devemos educar nossas crianças.
Será que ele não apanhou
o suficiente para aprender o uso da crase? Embora, menos grave que os erros
cometidos pelo Ministro Fujão, o resumo da tese de doutorado do Pastor Milton
Ribeiro contém um erro em relação ao uso da crase. Entendo que esse é um tema
de grande dificuldade, mas não devemos nos esquecer que a dissertação passou
pelo crivo de uma banca examinadora.
Outro fator relevante diz respeito às nomeações para o Conselho Nacional de Educação – CNE – feitas, no apagar das luzes, pelo Ministro Fujão. O CNE perdeu toda a sua pluralidade e foi inflado com nomes de seguidores do charlatão da Virgínia em detrimento de representantes das Secretarias de Educação de Estados e Municípios. A pergunta que fica é se o sósia do PC Farias manterá essas nomeações em busca do diálogo que ele já apregoou na mensagem enviada a amigos.
Existe uma grande
diferença entre conservadorismo e pensamento retrógrado. O conservadorismo nos permite o debate, já o pensamento retrógrado, grosso modo, é expresso por pessoas sem a capacidade de debater. Geralmente, pessoas assim preferem proferir palestras vomitando asneiras, como vimos nos videos apresentados e que foram preventivamente apagados pelo Pastor, provavelmente, para mostrar ser um homem aberto ao diálogo.
Na minha ótica, o
Estado laico, conforme estabelecido pela constituição, está mais uma vez sob o
ataque da Rainha Louca. Visualizo uma educação aos moldes daquela do início do
século passado com a obrigatoriedade de seguir a religião determinada pela
escola e a volta de alunos ajoelhados em milho e sendo punidos com reguadas.
Vislumbro o fim da
laicidade da educação em total desrespeito àqueles que seguem religiões
diferentes daquelas majoritárias no Brasil, ou seja, católica e protestantes.
A famosa elucubração
mental da Rainha Louca e seus seguidores de que as escolas eram doutrinárias
parece estar ganhando forma! Vem aí a Escola sem Partido e com Religião!
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