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quinta-feira, 2 de julho de 2020

O racismo estrutural no Brasil

O racismo estrutural no Brasil

Robson Matos



Há 132 anos era sancionada, pela Princesa Isabel, a abolição da escravatura no Brasil. O que mudou desde lá? Pouco, ou quase nada, mudou!

Embora constitua a maioria da população brasileira, grande parte dos negros no Brasil ainda vive, como no período colonial, servindo aos senhores da Casa Grande. Essa situação ficou escancarada no caso do pequeno Miguel no Recife.

Exatamente um mês atrás, Miguel caiu do 7º andar de um prédio de luxo, onde a sua mãe trabalhava. Obrigada a comparecer ao trabalho, Mirtes Renata, não tendo onde deixar o filho, o levou para a casa da sua empregadora, Sari Corte Real. Enquanto Mirtes passeava com o cachorro da patroa, Sari permitiu que Miguel entrasse no elevador para ir atrás da mãe. Ela acaba se rendendo à insistência do menino e aperta o botão da cobertura do elevador.



É importante salientar que passear com o cachorro, até onde me consta, não faz parte das atribuições de uma empregada doméstica. Entretanto essa é uma prática comum na sociedade brasileira e, grosso modo, as empregadas domésticas acabam aceitando em função do alto índice de desemprego.

Sari foi presa em flagrante por homicídio culposo – aquele que não há intenção de matar – e com isso pagou uma fiança de R$20 mil e foi liberada. Caso fosse indiciada por homicídio doloso, não caberia fiança e ela aguardaria a conclusão do inquérito na prisão. Não tenho a ilusão de que esse seria o enquadramento – homicídio doloso  caso a situação fosse invertida, ou seja, se a vítima fosse o filho da patroa.

Hoje, a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou Sari Corte Real pelo crime de abandono de incapaz e ela pode pegar até 12 anos de prisão. Na apresentação da conclusão do inquérito, o delegado Ramon Teixeira afirmou:

“A conduta de permitir o fechamento da porta, claramente intencional, conduziu a criança à área de insegurança, diante dos vários riscos existentes no edifício. Com essa ação, diversas poderiam ser as formas de encontrar o resultado morte indesejável, mas previsível”.

Esse indiciamento corrigiu, parcialmente, aquele inicial, mas ainda está longe de ser feita justiça. Assim como Mirtes, desejo que ela vá para atrás das grades, embora ainda considere uma pena pequena por tão hediondo crime.


Ainda com relação ao caso Miguel, o Ministério Público de Pernambuco está pedindo a cassação do marido de Sari Corte Real, Sergio Hacker. Ele é prefeito de Tamandaré e está sendo acusado de improbidade administrativa, juntamente com a Secretária de Educação do Município – Maria da Conceição Nascimento. O salário de Mirtes Renata era pago pela Prefeitura de Tamandaré, sem que ela soubesse.


Enfim, é a Casa Grande utilizando-se do dinheiro público para tratar sua empregada doméstica como escrava. Exigiram que Mirtes trabalhasse durante a pandemia, mesmo o serviço de doméstica não sendo considerado essencial. Por completa falta de paciência, carinho e amor Mirtes Renata perdeu seu bem mais precioso.

Hipoteticamente, convido-os a uma reflexão. E se o cachorro da patroa tivesse morrido atropelado? O que teria ocorrido com Mirtes Renata?

Esse é apenas um caso dentre os milhares de casos Brasil afora e que deixa claro o racismo estrutural na nossa sociedade! É a política da Casa Grande e Senzala e nós, enquanto sociedade, fecharemos os olhos até quando?


  

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