Violência policial: até quando?
Robson Matos
O histórico de abusos policiais no
Brasil remonta o período da ditadura militar com o surgimento do Esquadrão da
Morte, uma organização paramilitar presente nos estados de São Paulo, Rio de
janeiro, Alagoas e Espírito Santo.
Em São Paulo, o Esquadrão da Morte
nasce dentro da Polícia Civil e torna-se uma organização informal dentro do
Estado. Eles atuavam como polícia política e tinham como objetivo a eliminação
sumária de pessoas consideradas inimigas. A formalização da existência do
Esquadrão da Morte era justificada pelos altos índices de criminalidade no
estado de São Paulo. A população sentia-se intimidada pela violência e acabava por aceitar as ações dessa organização.
Os índices de criminalidade no Rio
de Janeiro eram muito altos desde o final da década de 1950 e os criminosos
tornam-se mais organizados. Os conflitos entre policiais e bandidos eram cada
dia mais comuns. O comando da polícia do Rio de Janeiro, então, cria o Grupo de
Diligências Especiais, cujos objetivos eram ocultados da imprensa. Esse grupo
passou a ser batizado de Esquadrão da Morte e eles tinham a mentalidade de
matar. Essa mentalidade se espalhou e a cultura de extermínio passou a estar
presente em outros grupos da polícia carioca.
O Esquadrão da Morte trazia
a falsa impressão de diminuição da criminalidade e um sentimento
de segurança. A organização utilizava-se da violência e da execução sumária daqueles
considerados criminosos. Eles começaram a contar com componentes de fora da
força policial e iniciaram a cobrança de taxas da população em troca de proteção e
segurança, sob o argumento de manter a força paramilitar.
Portanto, o Esquadrão da Morte
pode ser considerado o embrião das atuais milícias cariocas. Mas, eles também podem
ser vistos como a escola da violência policial no Brasil.
Percebam que a Rainha Louca foi
eleita com o discurso de combate à criminalidade, assim como foi o caso de inúmeros
governadores, como Dória e Witzel. Todos sabemos das ligações do Presidente da
República com a milícia carioca. Desde a época que foi eleito vereador da
cidade do Rio de Janeiro ele teve o apoio das milícias. Assim, também, foram
eleitos seus filhos. Todos os membros do clã já defenderam o uso das milícias
no combate à violência e já homenagearam milicianos.
Embora o excludente de ilicitude
fosse uma bandeira da campanha eleitoral da Rainha Louca, o governador do Rio
de Janeiro foi um dos maiores defensores da regulamentação do artigo 23 do
Código Penal para membros de forças policiais. Ou seja, eles defendem que os
policiais que cometerem homicídio em serviço não sejam punidos. Mas, todos
conhecemos o desejo do Witzel de “atirar na cabecinha”.
Essa forma de combate à
criminalidade, como podemos perceber, é arcaica e totalitária e em nada
contribui para o aumento da segurança dos cidadãos. Na realidade, essa política
tem levado ao aumento do número de homicídios de pessoas inocentes, seja por
erro da polícia ou por balas perdidas.
A política de combate à
criminalidade com o uso de força tem enviado um recado equivocado às tropas
policiais e a cada dia cenas de violência policial passam a ser mais comuns e
essas cenas têm sido registradas pela população.
Assista a uma seleção de algumas cenas fortes ocorridas esse ano em várias cidades brasileiras. As cenas são acompanhadas pela declamação do poeta Carlos Assunção. Ele é chamado de poeta do protesto e é considerado o maior poeta negro do Brasil.
Aparentemente, as forças policiais dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo são as que mais protagonizam cenas de violência. Mas, pode-se dizer que sejam nesses estados que tenhamos mais cenas divulgadas. O governador Witzel, em função de estar enfrentando um processo de impeachment, sumiu, escafedeu-se e não se pronuncia sobre esse ou qualquer outro assunto. O governador Dória em suas entrevistas coletivas, que mais se assemelham a programas de auditório, insiste em dizer que a polícia paulista é bem treinada e que esses casos são raros. A cada novo caso de violência cometido pela polícia paulista ele anuncia novas medidas inócuas e que não saem do papel. A utilização de câmaras e microfones pelos policiais não irá coibir a brutalidade que vem sido cometida por eles. Os policiais paulistas parecem não se intimidar pelas câmaras dos celulares ao seu redor.
O Fantástico divulgou no último
domingo cenas de brutalidade ocorridas em Parelheiros, Zona Sul de São Paulo.
As cenas foram filmadas no dia 30 de maio, cinco dias após o assassinato de
George Floyd em Minneapolis nos EUA. Embora o resultado não tenha sido tão
trágico, a violência é muito maior que aquela cometida contra George Floyd.
Está muito claro que o que falta à
polícia brasileira não é um novo treinamento, uso de câmaras e microfones. A
forma de averiguação dos excessos cometidos por policiais precisa ser modificada.
Os controles externos não estão funcionando. Nem a corregedoria e tão pouco o
Ministério Público estão atuando de forma a coibir essa violência. Não basta
colocar o policial em trabalhos internos por algum tempo e depois deixar que ele
retorne às ruas.
A impunidade está reinando e
aumentando a violência. Por exemplo, o famoso Queiroz e o falecido chefe miliciano
Adriano protagonizaram um homicídio 17 anos atrás na Cidade de Deus e o
processo judicial ainda não foi finalizado. A punição foi a expulsão deles da
Polícia Militar, que não serviu de exemplo.
A sociedade brasileira está
anestesiada e incapaz de reagir a cenas como as ocorridas em São Paulo aos
moldes da que ocorreu com George Floyd. Por que a sociedade brasileira consegue
se indignar com a violência da polícia americana e se cala contra a violência
da polícia brasileira?
Ao que tudo indica a classe média
está voltando a pensar como aqueles que defendiam o Esquadrão da Morte.
Infelizmente, estamos regredindo décadas como sociedade.
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